Espetáculo do Festival vira caso de polícia

Era pra ser a despedida do Erro Grupo, de Florianópolis, do Festival de Teatro de Curitiba, mas a apresentação de ontem -a terceira da trupe no calçadão da Rua XV de novembro – da peça Hasard virou caso de polícia. Devido à repercussão da repressão policial nos dois dias antes, alguns espectadores e participantes do festival ameaçavam tirar as roupas, em protesto à repressão policial, que tentou impedir o final da peça com cena de nudez.

E isso bastou para lotar o lugar de curiosos. Cerca de 200 pessoas pararam para ver a apresentação na rua, segundo a Assessoria de imprensa do Festival. Muitos foram pela peça, outros pela promessa de confusão. E depois de uma hora e meia de espetáculo, quando chegou a hora de escolher o final, qual não foi a surpresa: saiu a carta de Paus, uma dos quatro finais possíveis. E a peça terminou com uma cena de correria ao som de Carmina Burana. A nudez em praça pública virou folclore e entrou para a história do maior festival de teatro do Brasil.

Armados

Os problemas do Erro Grupo com a Polícia Militar começaram na segunda, dia da primeira apresentação de Hasard (foto), no calçadão do Centro de Curitiba. “O texto trata de jogo de azar. Por isso, há quatro finais, sorteados durante o espetáculo. Na segunda, saiu o final de Ouros, em que os atores apostam suas roupas e as perdem, ficando nus por cerca de 30 segundos”, explicou o diretor do grupo catarinense, Pedro Bennaton.

Enquanto o trecho era encenado, policiais que faziam uma ronda pelo calçadão notaram a nudez dos atores e tentaram interromper a cena. Quando chegaram, o trecho já havia acabado. Sem encontrar os artistas em cena, os policiais ameaçaram a produção do espetáculo de prisão, relatou o diretor.

Na terça, novamente foi sorteado o final com a cena de nudez. Com armas em punho, policiais interromperam a segunda apresentação da peça.

“Problemas com a polícia já ocorreram em outros lugares, como Florianópolis e Palhoça (SC). Mas nunca tivemos uma repressão como essa, com cinco viaturas e quase dez policiais com armas em punho”, relatou o diretor Pedro Bennaton, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.

Pudor

A PM também informou que orientou os atores a usarem roupas íntimas durante a cena, sob o argumento de que nudez em público é crime de atentado ao pudor, segundo o Código Penal. O Erro Grupo argumenta que as cenas de nudez não têm conotação sexual.

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