Enxuto, mas vistoso como sempre

São Paulo

  – Comemorando 36 anos de existência, o Festival Internacional de Londrina (Filo), o mais antigo e importante evento internacional de artes cênicas do País, abre hoje a sua programação com a apresentação do Balé do Teatro Guaíra no Cine Teatro Ouro Verde. Até o dia 31, 16 grupos internacionais de 11 diferentes países, 14 nacionais e 12 locais vão fazer apresentações na cidade. Neste ano, o Filo terá ainda um importante desdobramento – o Filo Brasília, parceria que levará ao Centro Cultural Banco do Brasil da capital federal, até o dia 25, nove dos 44 espetáculos apresentados em Londrina, e ainda parcerias com Maringá, São Paulo e Curitiba.

No que diz respeito à programação nacional, de amanhã até dia 19, salta aos olhos a corajosa opção pela qualidade em detrimento do ineditismo – sem dúvida uma virtude. Neste fim de semana, por exemplo, o grupo mineiro Galpão apresenta, ao ar livre, sua memorável montagem de Romeu e Julieta, de Shakespeare. Anjo Duro, solo da atriz Berta Zemel; Camaradas, com a Cia. Carona de Blumenau; Orpheu, o Guardador de Rebanhos, de São José do Rio Preto, Pessoas Invisíveis, do Grupo Armazém, ou Bartolomeu, o Que Será Que Nele Deu?, com o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, e Biederman e os Incendiários, da Cia. São Jorge de Variedades são alguns entre os bons espetáculos nacionais, desses que merecem ser vistos e revistos, que integram a programação mesmo depois de terem cumprido temporadas no eixo Rio-São Paulo e passado por outros festivais.

O ineditismo marca a programação internacional. Ainda assim, não parecem ser tiros no escuro. Uma das atrações mais esperadas – Re:Frankenstein – que será apresentada também no Filo Brasília e no Festival de Teatro de Bonecos de Belo Horizonte, traz de volta ao Brasil o ator, manipulador e dramaturgo Neville Tranter. Em 1998, ele veio ao País pela primeira vez e apresentou uma inesquecível montagem de Macbeth no Filo. Voltou em 2001, com Molière, desta vez para uma mostra de bonecos no Sesc Pompéia, em São Paulo. A relação entre o artista e seu mecenas era o tema central de Molière, absolutamente adequado aos tempos que correm. Tranter trabalha com bonecos de tamanho humano. Ele sempre assume um personagem e dá vida aos outros através dos bonecos. A forma como o homem usa o conhecimento científico – e como os experimentos nessa área podem voltar-se contra a humanidade – está no cerne da nova montagem. O ácido Tranter, na volta à Holanda, estréia um novo espetáculo, Adolf Hitler. É torcer para que em algum momento ele apresente seu repertório completo no Brasil.

A Cia. de Dança Le Ballet C. de la B, da Bélgica, país considerado hoje ponta-de-lança nessa arte traz Just Another Landscape for Some Jukebox Money que fala sobre sonhos e desejos de cinco jovens. Trazendo grupos conhecidos, o Filo tenta a um só tempo abarcar todas as artes cênicas e também escapar dos “espetáculos de festival”.

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Ingressos à venda no Royal Plaza Shopping, a 10 e 5 reais. Mais informações e a programação completa no site

www.filo.art.br.

Descapitalização ameaça Cabaré

A exemplo do Festival de Teatro e do Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba, o Filo também sofre com a “moratória” do governo do Estado e a conseqüente redução das verbas públicas disponíveis. Para a edição deste ano, doze companhias foram cortadas, e o famoso Cabaré Filo – ponto de encontro de artistas e do público, com performances a apresentações musicais -corre o risco de não acontecer este ano.

Fernando Jacon, criador do espaço, espera poder realizar pelo menos um mini-Cabaré, durante três noites, mas para isso ainda precisa captar 150 mil reais em patrocínio. De certo, mesmo, só a supressão da estrutura cenográfica do Cabaré. Até o momento, a diretora artística Nitis Jacon conseguiu arrecadar quase R$ 1,2 milhão, incluindo a verba do governo, da prefeitura, da Petrobras, Universidade Estadual de Londrina e Tim. São quase R$ 600 mil a menos em relação ao orçamento do ano passado (R$ 1,786 milhão), que já tinha perdido R$ 63 mil para a edição de 2001. Nitis ainda espera a resposta da Eletrobrás e do Ministério da Cultura, que juntos poderiam contribuir no máximo com R$ 250 mil.

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