Emílio Orciollo mergulha no mundo italiano

Quando Emílio Orciollo Netto se depara com um novo personagem, mergulha de cabeça. Com o apaixonado Marcello de “Esperança” não foi diferente. O ator garante que “respira” o italiano 24 horas por dia. E até incorporou parte de seu amor à terra depois da preparação de dois meses numa fazenda no interior de São Paulo. Lá aprendeu a arar a terra, plantar, colher e tirar leite de vaca e de cabra. Tudo isso acordando às quatro horas da manhã. “O trabalho do ator é uma entrega total. Se for para acertar, ele acerta. Mas, se for para errar, que enfie o pé na jaca”, defende, num radicalismo que contrasta com a fala mansa e os gestos medidos.

Aos 28 anos, Emílio se identifica com o lado emotivo de Marcello. “Sou de família italiana também”, justifica, lembrando que o fato ajuda, e muito, a preencher o personagem. Mas as semelhanças terminam por aí. E, na verdade, nas diferenças ele procura elementos para compor sua interpretação. “O legal é viver algo oposto, inusitado. E fica mais fácil fugir da banalidade do naturalismo”, acredita.

Versatilidade

Talvez por isso a versatilidade seja marcante no trabalho de Emílio. Na tevê, já encarnou personagens tão diferentes como Bruno Novaes, o jovem “videomaker” politicamente correto de “Anjo Mau”, na Globo, em 1997, e Alex, um viciado em drogas que infernizava a vida de muita gente em “Roda da Vida”, da Record, em 2001. Mas não teve medo de voltar a interpretar um italiano na novela escrita por Benedito e dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a mesma dupla que o lançou na tevê como Giuseppe Berdinazzi, de “O Rei do Gado”, em 1996. “Eu tenho uma preocupação muito grande em não me repetir, mas o próprio Luiz Fernando também tem este cuidado”, garante, destacando as diferenças entre os dois personagens. “O Giuseppe era uma criança. O Marcello tem uma outra relação com a terra, é determinado, quer conquistar a sabedoria”, avalia.

Um dos maiores motivos de orgulho de Emílio em “Esperança” tem sido justamente a possibilidade de mostrar uma personalidade como a de Marcello. O ator destaca a importância social de colocar no ar um personagem simples, humilde, como a maior parte da população brasileira, mas a quem é dada uma oportunidade de buscar o crescimento. Outro grande prazer está nos bastidores do trabalho. Emílio destaca o cuidado da direção com o equilíbrio e a atuação do ator. “Hoje em dia, muita gente pensa que nós somos máquinas. Gritam: ?Vai, chora aí…? Eu nunca vi um set como o desta novela”, derrama-se, destacando a concentração e a tranqüilidade que marcam o clima das gravações. Algo que não é abalado sequer pelos irregulares índices de audiência da novela, que dificilmente supera os 40 pontos no Ibope. “A audiência não interfere no nosso trabalho. Ela é uma conseqüência, e não um alvo a ser alcançado”, minimiza o ator, reclamando ainda do que classifica como uma “marcação excessiva contra a novela”. “Aconteceu uma coisa que eu nunca tinha visto. Uma cobrança da imprensa, do público, da própria Globo. Antes de estrear, as pessoas já falavam mal”, acredita.

Mesmo com as cobranças, o fato é que Emílio está vivendo um excelente momento em sua carreira. Ele volta à Globo depois de dois anos na Record, onde acredita ter amadurecido muito. “A estrutura lá é completamente diferente. A gente fazia de tudo e chegava a gravar 17 horas por dia”, lembra. Apesar de ter feito trabalhos dos quais se orgulha muito, como o Orlando Furacão, de “Marcas da Paixão”, ele não esconde a alegria por estar novamente na Globo. “É bom ter voltado neste trabalho em especial. Além de ter uma estética primorosa, a novela reúne os maiores atores da nossa televisão”, orgulha-se.

Sem deslumbres

Aos 23 anos de idade, Emílio Orciollo Netto saiu diretamente do anonimato para o horário nobre da Globo. A estréia na tevê, em “O Rei do Gado”, mexeu com a cabeça do ator. “Eu achava que era o máximo, que podia tudo. E realmente podia… naquele momento”, avalia, sem deixar dúvidas de que a maturidade levou para longe o deslumbramento inicial. Cinco anos, quatro novelas e uma minissérie depois, hoje ele enxerga o outro lado da profissão. “Eu vejo o quão difícil e o quão selvagem é a carreira de ator”, reconhece, preocupado com a instabilidade.

O aprendizado veio com a observação. Emílio começou a perceber que colegas com 40 anos de profissão tinham de bater à porta do Projac para pedir trabalho, exatamente como ele fazia. “É uma coisa que eu vou ter de fazer o resto da vida. E não é nenhum demérito. Apenas faz parte da minha profissão”, resigna-se.

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