Elvis, o mito imortal

Indianápolis

(AE) –  O palco era o Market Square Arena, em Indianápolis. O astro – cansado e decadente – vestia um macacão com motivos astecas, o único que ainda lhe servia, e mal se movia durante os cerca de quarenta minutos em que balbuciava seus principais sucessos. Poderia ser um espetáculo deprimente, se a audiência não fosse formada por fãs leais, que só queriam ver o ídolo de perto. Foi o último show de Elvis Presley, dois meses antes de ser encontrado morto na banheira da sua mansão.

O ídolo pode ter morrido, mas estima-se que os negócios em seu nome movimentem cerca de US$ 300 milhões. E o momento atual não poderia mesmo ser melhor: um remix da canção A Little Less Conversation, feita pelo DJ holandês JXL, atingiu o topo das paradas inglesas e se tornou a 18ª de Elvis a alcançar a marca, o suficiente para desempatar uma velha disputa com os Beatles na corrida pelo maior número de singles em primeiro lugar na terra da rainha.

E a popularidade de Elvis deve aumentar ainda mais nos próximos meses, quando o mundo lembra os 25 anos em que foi declarada sua morte. Ao contrário do ex-beatle Paul McCartney – que teve a carreira assombrada pelo boato de que teria morrido num acidente de carro na década de 60 – a crença de que Elvis estaria vivo ainda atrai uma legião de fãs inconformados e curiosos de plantão. Na Internet podem ser encontradas até fotos “recentes” do rei.

As primeiras canções de Elvis, gravadas de maneira crua na Sun Records, em Memphis, são as melhores de sua carreira e as mais importantes da história do rock, na opinião de muitos especialistas. Os vocais frenéticos, somados à técnica do guitarrista Scotty Moore e do baixista Bill Black, renderam clássicos, como That’s All Right, Mama, Blue Moon of Kentucky, Good Rockin’ Tonight, Baby Let’s Play House, e Mystery Train. Todas foram reunidas no álbum The Sun Sessions, um disco essencial para quem deseja entender um pouco sobre rock and roll.

Em 1955, o sucesso local levou Elvis a ser contratado pela gigante RCA, que rapidamente o levou ao megaestrelato. Os sucessos se multiplicaram rapidamente: Heartbreak Hotel, Hound Dog, Don’t Be Cruel e Love me Tender foram alguns dos vários singles que alcançaram o primeiro lugar na parada americana entre os anos de 1956 e 1961.

Ingerência

Infelizmente para os fãs, o polêmico empresário, o “coronel” Tom Parker, sempre deixou claro que preferia fazer dele um produto lucrativo, mais do que um artista. Mesmo assim, Elvis reinou absoluto até a chamada “invasão britânica” comandada por Beatles e Rolling Stones a partir de 1964.

Quando parecia condenado ao ostracismo, o “rei” ressurgiria anos mais tarde com força total. Foi em 1968, quando resolveu voltar aos palcos depois de quase uma década e se dedicar com exclusividade à música. Lançou no ano seguinte From Elvis in Memphis, o melhor disco de sua carreira. Segundo a revista Rolling Stone, no álbum “Elvis domina um repertório que derrubaria dúzias de Mick Jaggers”. Os singles Suspicious Minds e In The Ghetto permaneceram por várias semanas entre os mais vendidos na Inglaterra e Estados Unidos.

Foi o último grande momento. A partir dali, sua carreira seria permeada por altos e baixos. Boa parte da responsabilidade pode ser atribuída ao coronel Parker, que lotou a agenda de Elvis, com shows principalmente nos cassinos de Las Vegas. Ele jamais faria uma apresentação fora do território norte-americano. Cada vez mais dependente de drogas, e com problemas sérios de obesidade, o astro amarrou-se a uma rotina ociosa que garantia seus gastos exorbitantes e um mundo próprio atrás das paredes da mansão Graceland.

Às 15h30 de 16 de agosto de 1977, Elvis foi declarado oficialmente morto, aos 42 anos, em conseqüência de uma arritmia cardíaca, provavelmente estimulada pelo uso de drogas. A morte do rei deu vida ao mito, que resiste e se renova com o tempo, para o bem de um mal necessário chamado rock and roll.

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