Eldorado abre o baú

Referência de qualidade entre as gravadoras independentes, ou alternativas, assim muito justamente chamadas por não guiarem seu catálogo por ditames mercadológicos, a Eldorado está completando 25 anos de existência e, para comemorar a data, relança 19 títulos de seu precioso catálogo, além de levar à praça uma compilação de momentos importantes de sua fonografia – o CD Gravadora Eldorado – 25 Anos Produzindo Música de Qualidade.

São Paulo – A compilação dá uma idéia da importância do selo. Grandes nomes da música popular estrearam ou fizeram seus principais discos com sua chancela, de Cartola (Quem me vê sorrindo) a Nelson Cavaquinho (Quem chora sempre tem razão), com participação de Paulinho da Viola, aos novos Renato Braz (Todo menino é um rei), Mônica Salmaso (Canto em qualquer lugar), Yamandú Costa (Brejeiro) e André Mehmari (Folhas secas) – esses quatro, vencedores do Prêmio Visa de MPB.

Há registros históricos, como o de História de um prego, que une as vozes de João Pacífico, Mineiro e Manduzinho, ou outros, importantes e infelizmente pouco conhecidos, como o trecho de Aninha e o príncipe, domínio público recolhido por Esther Pedreira de Cerqueira, com narrativa de Elba Ramalho e interpretação de Solange Maria e Antônio Nóbrega. Ainda na compilação, a faixa Send in the clowns, de Stephen Sondheim, extraída do disco de estréia do quinteto (na época, quarteto) de clarinetas Sujeito a Guincho, vencedor, em 1995, do 10.º Prêmio Eldorado de Música.

Relançamentos

O disco do Sujeito a Guincho, que leva o nome do grupo, está na relação dos relançamentos. O repertório reúne clássicos populares brasileiros (Luiza, de Tom Jobim) a standards jazzísticos (Billie?s bounce, de Charlie Parker), cada número interpretado com o característico combinado raro de rigor técnico e bom humor.

Em 1980, passados 11 anos da morte do genial Jacob do Bandolim, o herdeiro musical Déo Rian, estudioso desde sempre da obra do mestre, visitou mais uma vez seu baú autoral e de lá tirou números pouco conhecidos e alguns inéditos. O esforço resultou no disco Jacob do Bandolim -Com Déo Rian e o conjunto Noites Cariocas, título que merece apodo de obra-prima.

De quilate semelhante, e do mesmo ano, é o (inédito em CD) Ao nosso amigo Esmê -São Paulo no balanço do choro, estréia fonográfica do pianista, compositor e maestro Laércio de Freitas, que integrou a Orquestra Tabajara e o quinteto de Radamés Gnattali. O disco foi saudado, na época do lançamento, como grande sopro de renovação do choro, e mantém o seu frescor imaculado. Laércio assina 9 das 10 faixas – a que não é dele é Arabiando, de Esmeraldino Salles, o Esmê que o disco homenageia.

Raridade

Igualmente raro é o encontro da pianista Carolina Cardoso de Menezes com o violinista Fafá Lemos, Fafá & Carolina, gravado em 1989, disco basicamente de sambas e choros que apresenta duas composições da pianista, mais conhecida como intérprete de muitos brilhos e muita alegria – qualidade compartilhada com o parceiro do trabalho. Não haviam gravado juntos, antes.

Saudades de um clarinete, de 1981, é o nome do último disco do (mais do que tudo) chorão K. Ximbinho. Tem uma história curiosa: Paulinho da Viola, Fernando Faro, Toninho Morais, Chico Buarque e o MPB4 queriam fundar uma gravadora – independente, por certo. Escolheram o disco de K. Ximbinho como o primeiro do selo que não chegou a existir. A Eldorado conseguiu recuperar os tapes originais e finalmente lançar o trabalho, até agora inédito em CD. E assim por diante. Uma edição seria pouco para falar de todas as preciosidades que a Eldorado está relançando – para a felicidade geral da nação.

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