Egberto Gismonti fará show gratuito em praça de SP

Corria o ano de 1953 e Betinho, aos 6, corria para distribuir as partituras para o tarol, o clarinete e outros instrumentos entre os músicos da orquestra comandada pelo tio Edgard. Ao mesmo tempo, os ouvidos do garoto já vinham sendo moldados pelas valsas do vô Antônio, “compositor de mão cheia”. Sem se dar conta, ali se escancarava um universo que não mais pararia de lhe revelar novidades.

Mais de meio século depois, ele completou 63 anos no domingo passado, em uma festa comemorada no Teatro Castro Alves lotado, em Salvador, com direito a “Parabéns a Você” antes de um concerto histórico que fazia parte da programação do Mercado Cultural da Bahia. Há tempos cultuado como um dos compositores e instrumentistas mais revolucionários da música brasileira, Betinho é conhecido do público como Egberto Gismonti e, no próximo sábado, apresenta-se em São Paulo em show gratuito, na Praça Dom José Gaspar.

A oportunidade de ouvir os temas desse embaixador da música moderna é rara. Não apenas em espetáculos e pelo fato de Gismonti transitar com mais frequência entre o Rio e o exterior, mas também porque ele não pretende mais gravar discos. “Eu não vou mais a estúdio para fazer discos, não tenho mais preocupação de compor. A composição é consequência de uma limpeza que eu devo fazer no meu registro sonoro. Quando você grava cinco, dez discos, você comemora. Quando você tem 63 discos é diferente, eu tenho tantos discos quanto tenho de idade”, diz Gismonti.

Na visão de Gismonti, cerca de 50% dos violonistas do mundo tocam sua obra para violão e 40% de pianistas, a de piano. Hoje, os anseios são diferentes do início da carreira. Nos tempos modernos, em que programas de edição são usados para costurar músicas e maquiar imperfeições, o compositor não critica quem abusa das ferramentas tecnológicas, apenas argumenta que só sabe gravar tocando um tema do início ao fim. “Se o cara faz assim e fica feliz, quem sou eu para discutir a felicidade dos outros? O que eu tinha que deixar como legado, já deixei. Hoje eu quero o anonimato. Eu já fiz tanto e tanto já foi aceito que isso agora tem vida própria. Eu não tenho mais significado, quem tem significado é o que foi feito. O que eu estou procurando não é me qualificar, é dar uma razão muito mais ampla à minha vida. Eu tenho amigos muito bons, tenho uma dívida com eles. Na vida quando se vira devedor é a melhor coisa do mundo”, diz o músico nascido na cidade do Carmo, no Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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