De tudo, um pouco

Daisy Lúcidi, a síndica Iracema de Paraíso tropical, começou no rádio aos 6 anos de idade, declamando poemas. Nos 55 anos seguintes, atuou no teatro, no cinema, na televisão, foi vereadora, deputada estadual, mas em momento algum abandonou seu primeiro ofício. Através das ondas curtas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Daisy já transmitiu inúmeros espetáculos de teleteatro e, desde 1971, comanda na mesma rádio o programa Alô, Daisy. Sobre uma possível preferência, ela afirma ?Não sou uma mulher do rádio ou da televisão, sou da arte?.

P – A pesquisa encomendada pela Globo revelou que o público tem simpatia pela Iracema. Como você percebe a repercussão da personagem nas ruas?

R – As pessoas me param na rua, falam sobre os inadimplentes do condomínio, pedem minha opinião sobre essas questões. Eu respondo: ?Eu não sei de nada, quem fala é o Gilberto Braga?. Todas as vezes que passo por um certo senhor que tem uma loja de conserto de cadeiras em Copacabana, ele fala: ?Você é muito durona, hein??. Outros pedem: ?Queria você lá no meu prédio!?. Isso tudo é muito engraçado. Ela não quer mudar só o Copamar, quer mudar Copacabana toda. A Iracema é encrenqueira, mas tem um bom coração, ela é o lado cômico da novela. É um pequeno grande papel.

P – Sua última novela, O casarão, exibida em 1976, foi dirigida por Gilberto Braga. Como surgiu o convite para atuar em Paraíso tropical?

R – Uma vez, entrevistei o autor de novelas Manoel Carlos em meu programa e ele me convidou pra fazer um papel, mas naquela época eu não tinha condições. Quando acabou meu terceiro mandato de deputada estadual, decidi dar um tempo da política. Meu programa da Rádio Nacional, que era diário, passou a ser semanal. Uma amiga comum disse ao Gilberto que eu estava com tempo de fazer novela e, uma noite, ele telefonou, me convidando para ir à casa dele conversar sobre um papel. Não sabia qual seria o papel, nem perguntei, aceitei e pronto.

P – Você começou no rádio aos seis anos. Já se vão 55 desde então. Qual o balanço que você faz?

R – Cheguei na Rádio Nacional na época de ouro do rádio, nos anos 50. Eram 150 cantores, cinco orquestras, uma época de esplendor. Eu vivi esse tempo, fazendo as novelas de Janete Clair, do Dias Gomes, com grandes nomes como Roberto Faissal e Paulo Gracindo. Depois, fiz teatro, televisão e até cinema. O rádio é uma técnica diferente, só tem voz. Trabalha com o imaginário do ouvinte. O rádio é marcante justamente porque expõe a voz. Até hoje as pessoas me reconhecem pela voz.

P – Você atuou na televisão brasileira em uma época que não existia sequer o videotape. Como você avalia as mudanças ocorridas na teledramaturgia brasileira?

R – Nos anos 70, a televisão era praticamente artesanal. Os atores tinham que botar uma roupa por cima da outra, para ir tirando ao longo das cenas. Era tudo ao vivo, gravava-se em seqüência. Hoje, as cenas são gravadas fora de ordem e depois tudo é editado. A tevê é uma indústria, é quase cinema. Usam-se, inclusive, as novas tecnologias do cinema. Não vejo nisso um problema, me adapto facilmente.

P – Seu programa de rádio, Alô, Daisy, completará 36 anos em 2007. A que atribui o sucesso da atração?

R – O Alô, Daisy foi o 1.º programa de prestação de serviço do rádio. Foi feito para que a população pudesse reclamar da falta de água, do aumento do preço da carne. Deu certo porque sempre houve seriedade e empenho de todos. Depois que passou a ser aos sábados, transformou-se em uma produção jornalística, de caráter mais técnico. Os debates, que antes eram entre pessoas da sociedade em geral, hoje são com autoridades envolvidas diretamente no assunto debatido. Acho uma pena, porque a contribuição popular é fundamental para a existência deste tipo de programa. A melhor parte de fazer rádio é ter essa ligação imediata com o povo.  

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