Danton Mello não via a hora de deixar de só fazer “mocinhos”

Danton Mello achava que era vítima de uma maldição: em 20 anos de carreira, só interpretava mocinhos na tevê. Viveu tantos tipos “do bem” que, em 2000, assumiu uma postura radical. Só voltaria à tevê quando fosse chamado para viver um personagem realmente diferente. “Recusei muitos papéis na Globo durante esses anos. Se quisesse fazer o bom-moço, estaria até hoje no horário nobre”, revela. O chamado para o “mal”, contudo, partiu mesmo do SBT. Como o mau-caráter sedutor Eduardo Moraima, de “Jamais Te Esquecerei”, Danton debuta na arte da vilania – e não se arrepende. “É uma delícia exercitar um sorriso irônico, um ar dissimulado que nunca tive na televisão”, conta, com inegável entusiasmo.

Mas o ator afirma que não estava interessado apenas em interpretar papéis diversificados. Embora reconheça a superioridade da Globo em dramaturgia, ele jura que pretendia circular mais por outras emissoras. Das 15 produções em que atuou, somente três não foram globais. “Invejo os profissionais que já passaram pela Globo, Band, Record, SBT… Eu quero ser como eles e ter muitas histórias para contar para os meus netos”, garante o ator, que é pai da pequena Luísa, de três anos, e aguarda a chegada do segundo filho com a roteirista Laura Malin.

Na verdade, histórias não vão faltar. Aos oito anos, Danton estreava como ator de tevê na obscura “Braço de Ferro”, exibida na Band em 83. Depois, viveu o simpático Cuca de “A Gata Comeu” – novela de Ivani Ribeiro, exibida na Globo em 85 e reprisada em 2001. Daí não parou mais. Em 86, fez “Novo Amor”, de Manoel Carlos. Em 87, atuou em “Mandala”, de Dias Gomes. No ano seguinte, trabalhou em “Vale Tudo”, de Gilberto Braga, e, em 89, foi chamado para “Tieta”, de Aguinaldo Silva. Mas o primeiro protagonista só veio em 95. Na pele do ingênuo Héricles, do primeiro ano de “Malhação”, o ator experimentou um de seus papéis mais bem-sucedidos. “O personagem teve uma identificação e empatia enormes. Até hoje sou lembrado por causa dele”, reconhece. Depois de “Malhação”, Danton prosseguiu com papéis de bom-moço em produções como “Torre de Babel” e a minissérie “Hilda Furacão”, ambas de 98, e “Terra Nostra”, sua última novela, em 99.

Versatilidade

Para o ator mineiro da cidade de Passos, interpretar um tipo ambicioso e mulherengo em “Jamais Te Esquecerei” é uma oportunidade de mostrar versatilidade. “Não pensei duas vezes em aceitar o convite. E não só por ser um vilão, mas porque não gostava de ser tachado como ?global?. Sou profissional de teatro, cinema e tevê. Quero mais é diversificar”, desabafa o ator de 28 anos, que usa cavanhaque e paletó na novela do SBT para “convencer” – como ele mesmo diz – que não é mais um adolescente.

De fato, só nos últimos anos, Danton encenou várias peças e filmou quatro longas: “Benjamim”, filme de Monique Gardenberg, baseado no livro homônimo de Chico Buarque, “A Conspiração do Silêncio”, de Ronaldo Duque, “Quanto Vale Ou É Por Quilo”, de Sérgio Bianchi, e o português “Tudo Isto É Fado”, de Luís Galvão Teles. Com exceção do último, todos têm estréia prevista para este ano. “Estou ansioso para ver o resultado. São todos personagens extraordinários, que vão mostrar outras facetas do meu trabalho”, acredita Danton – que é dois anos mais novo que o irmão, e também ator, Selton Mello.

Apesar de se dizer apaixonado pela arte de interpretar, Danton afirma que não dá prioridade à vida profissional. Principalmente depois que sofreu um grave acidente de helicóptero, em 98. Ele era apresentador do “Globo Ecologia” e sobrevoava com a equipe do programa o Monte Rorâima, na região Norte do país. “Aprendi a colocar a vida pessoal em primeiro lugar. Hoje, sou capaz de recusar um trabalho para viajar com a minha mulher e não faço planos para um futuro distante, que não sei se vai chegar”, revela o ator que, por conta do acidente, esperou 25 horas pelo resgate e perdeu um colega da equipe.

Começo

Danton Mello não chegou a enfrentar a crise típica dos adolescentes que não sabem que profissão seguir. Bem antes disso, já tinha enveredado pela carreira de ator, juntamente com o irmão, Selton Mello. A primeira experiência foi aos cinco anos, numa apresentação de calouros infantis, na capital paulista. Daí, Danton foi chamado para fazer o teste de um comercial. Ele e Selton acabaram por dividir a cena no anúncio do brinquedo Torpedinho, da Estrela. Em 83, os dois foram selecionados pelo diretor Jayme Monjardim para a novela infantil “Braço de Ferro”, na Band.

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