Vampiro de Curitiba

Dalton Trevisan completa 89 anos e vive como homem comum

Dia 14 de junho de 1925. Curitiba, a cinza Curitiba recebia, nesta data, seu mais novo integrante. Ao longo de sua vida: homem de poucas palavras, poucas, quase nenhuma. Um contador de histórias que saía às ruas em busca de vidas a serem contadas. E ainda sai porque, assim como ele mesmo disse em entrevista ao jornalista Mussa José Assis, em 1972 – tanto não é difícil alguém me encontrar que eu esbarro comigo mesmo diariamente em todas as esquinas de Curitiba. Dalton Jérson Trevisan conta sem deixar ser contado. O homem que não posa para fotos, que não dá entrevistas ou autógrafos, conserva o silêncio e as palavras – escritas – sob medida. Pouca coisa já se ouviu da boca deste curitibano enigmático. Contudo, sua obra faz ecoar muitas vozes.

Dalton Trevisan, o Vampiro de Curitiba, figura emblemática e representativa, é conhecido, sobretudo pela distância que mantém da mídia. Poucos respeitam sua escolha. Falta o entendimento sobre o ininteligível. Saber sobre tal decisão desperta ainda mais o interesse sobre essa figura tão curiosa de nossa cidade. Muitos compartilham desses mesmos interesses. Como sendo fácil satisfazer a imensa curiosidade: Dalton escreve uma autoentrevista. Isso logo no início de sua carreira. Depois? Nada, silêncio. O conselho do vampiro é praticamente um convite à meditação sobre suas, e nossas palavras e ações. Quando diz que tudo o que tem a dizer está em seus textos, nos provoca, não poderia ser diferente. Em um mundo cada vez mais “sem reservas”, no qual a imagem, as aparências – que enganam, não nos enganemos – são a maior preocupação, deve-se dar mais atenção às essências.

Uma “lenda”: Trevisan. E, para ele, “é conveniente manter a lenda é preciso alimentá-la”. Contista por vocação, ele conta. Vamos pegar um exemplo de sua obra, o conto “Em busca da Curitiba perdida” e, prestemos atenção. “Curitiba, onde o céu azul não é azul”. A Curitiba de Dalton Trevisan, onde estará? Onde foi parar?

Desde suas primeiras publicações, o vampiro de Curitiba nos aponta questões sociais que, normalmente, são deixadas de lado porque, afinal, problemas não são de todo o interesse das pessoas. Ele utiliza linguagem simples e, ao mesmo tempo, rica. Descrições completas não deixam passar um detalhezinho sequer. O vampiro “viaja” a Curitiba de hoje, de ontem e de amanhã. Viaja e nos convida a viajar também. Vamos lá?

Tentando se fazer “invisível” em suas produções, o autor com mais 40 obras publicadas se revela em cada uma de suas palavras. Sua obra busca o deboche o escárnio, a contramão dos valores estabelecidos como forma de tentar reaver aquela Curitiba provinciana, aquela Curitiba perdida. E, se escondendo em sua própria “capa vampiresca”, fica mais confortável porque, além do fato de não gostar de aparecer ou ser assediado, Trevisan é um solitário em busca de um lugar só seu, um lugar que, bem demonstra em quase todas as suas obras: está perdido, não encontrado.

Então, e diante da história, da pouquíssima história de que se tem conhecimento sobre Dalton Trevisan, fica a pergunta: do que é que esse vampiro se esconde?