Cultura cigana clama por respeito

Cansados de sofrer preconceito e na luta por reconhecimento e uma qualidade de vida melhor, na terça-feira passada lideranças ciganas de todo o Brasil estiveram no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), em encontro coordenado pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Durante o encontro, o Ministério da Cultura (MinC) lançou o Grupo de Trabalho Cultural Cigano, projeto que visa desenvolver políticas de reconhecimento, direitos humanos e  manifestações ciganas. Principal representante cigano presente na conferência, o curitibano Cláudio Iovanovitchi, se reuniu quinta-feira passada com outros ciganos de Curitiba para repassar as decisões de Brasília.

"Nossos grupos encontram dificuldades em se relacionar com o resto da sociedade devido à falta de conhecimento que a maioria da pessoas tem em relação a nós. O que gera preconceito", indica Iovanovitchi, que também é presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana. Ele afirmou que muitas vezes os ciganos são tachados como ladrões, vagabundos e imorais, outro motivo para reivindicar seus direitos. "O próprio governo é ignorante em relação à nossa cultura. Não estamos tão ligados ao dinheiro, mas sim ao triunfo do espírito."

Junto com negros e índios, os ciganos constantemente saem prejudicados no mercado de trabalho e meio social por representar uma minoria étnica. "Parece piada, mas esses três povos construíram o Brasil,  hoje são os que mais sofrem." Segundo Cláudio, os ciganos chegaram ao País em 1574, muitos fugindo da perseguição de reis católicos do leste europeu, Portugal e Espanha. "No Brasil, os ciganos não viraram escravos, mas os portugueses os impediram de se estabelecer. Então eles tiveram que se unir com os negros dos quilombos onde realizavam escambos para sobreviver."

Atualmente se estima que, aproximadamente, 600 mil ciganos vivam em território nacional. Vindos de diferentes localidades do mundo, sua maior parte não possui documento de identificação nem residência fixa (moram em cabanas e barracas), já que uma de suas principais características é o fato de serem nômades, assim constantemente estão viajando, adquirindo e disseminando cultura. "Alguns ciganos fixam residência e vivem um estilo de vida parecido com o convencional", diz Iovanovitchi, que mora em uma casa, possui carro e telefone.

Em Curitiba, os ciganos moram em 50 barracas em quatro bairros diferentes. As condições de vida são básicas, faltando acesso ao sistema de saúde e educação. Como a própria sociedade é indiferente em relação a seu povo, as mulheres ciganas trabalham lendo a sorte em praças e os homens são vendedores de raízes, cavalos e utensílios domésticos. "Após sermos reconhecidos, nossa segunda intenção é conseguir emprego e renda. Tenho consciência que ainda levará muito tempo para o cigano ter seu estilo de vida respeitado. Existe muita burocracia e nossas culturas são muito diferentes. Nossa cultura não dá valor a tempo e espaço, fundamentais no mundo ocidental."

Em breve, os ciganos de Curitiba estarão rodando um filme sobre sua cultura, as gravações devem ocorrer na capital. Com roteiro assinado pelo dramaturgo Edson Bueno, o filme será um longa- metragem de ficção com a finalidade de mostrar os costumes e valores ciganos. Segundo Edson Bueno, seu roteiro aborda a maneira como o cigano vive e se relaciona entre si e a sociedade. "O personagem principal tenta se entender como cidadão vivendo em um país que não reconhece sua cultura", conta.

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