Criatividade e Conexão

luadistorcida240406.jpgHá muitas definições possíveis para criatividade. E cada definição está intimamente relacionada ao seu contexto cultural. Por exemplo, sociólogos terão uma definição específi-ca, devido a sua visão específica.

Criatividade é um conceito fundamentado na noção de idéia nova. Essencialmente, ser criativo é ter uma idéia nova.

A criatividade, na verdade, é um conceito aberto. Isto quer dizer que nem tudo no pro-cesso criativo pode ser explicado de forma convencional, ou seja, reduzindo-se indefinida-mente a princípios racionais constituintes. Os princípios constituintes do conceito de criati-vidade são complexos. Porém, veremos que o processo criativo — se não pode, muitas ve-zes, ser explicado racionalmente — é auto-evidente e formado por axiomas que encontram sua validade na dimensão prática da vida.

Ser criativo é, em grande medida, ser capaz de fazer conexões. Conexões entre modos de pensamento diversos, conexões que muitas vezes geram conceitos de grande relevância. Estes conceitos são chamados pelo pesquisador norte americano Daniel Pink de high-concepts (em analogia à tecnologia high-tech).

Daniel Pink

?High-concept significa a habilidade de criar beleza artística e emocional, elaborar nar-rativas prazerosas, detectar padrões e oportunidades, combinar idéias aparentemente não relacionadas em novas invenções.?  (dp@danpink.com)

Modalidades Paradoxais de Pensamento

O grande debate que se desenrola hoje nas principais universidades do mundo é sobre até que ponto a Religião (ou o pensamento tradicional) pode interferir em questões ligadas à Ciência (ou o pensamento intelectual). Darwinismo e Criacionismo são exemplos de grandes correntes de pensamento que certamente estão influenciando decisivamente a for-mação intelectual dos cientistas, artistas e teólogos de maior expressão deste século.

Acalorado, o debate continua provocando grandes crises que mostram, acima de tudo, o quanto modos de pensamento diferentes confluem para um mesmo campo de ação humana. Mais do que nunca, estamos precisando encontrar saídas criativas para nossos problemas.

A Lua e o Dilema

Em palestras recentes (Scientific American, December 2005), o líder espiritual do Bu-dismo Tibetano, o Dalai Lama, tem apresentado este dilema na forma do conceito budista de luz da Lua. Para o budismo, a Lua tem luz própria. Mas, como Dalai Lama realça, hoje sabemos que a luz da Lua é proveniente do Sol. Então, vem o dilema: o homem budista deve acreditar que a Lua tem luz própria (ensinamento de sua religião) ou que ela é ilumi-nada pelo Sol (ensinamento científico)? Para alívio dos cientistas presentes nas palestras, Dalai diz que superou o dilema optando pelo conhecimento científico, do qual não podemos negar a evidência.

E como a Fotografia dá resposta ao dilema da Lua? Na imagem fotográfica que vemos da Lua, a sombra das crateras indica que há uma fonte de luz que a ilumina — o Sol. Mas para a Fotografia, a Lua também é uma fonte de luz: a luz da Lua é mais difusa que a do Sol, é tênue (em contraposição com a luz intensa do Sol) e fria (o Sol tem uma luz de cor quente, amarelada). Então, para a Fotografia, o paradoxo foi superado. Na verdade, para a Fotografia a Lua é iluminada pelo Sol e também é fonte de luz. No campo da Fotografia o dilema não existe. Então, podemos dizer que a Fotografia pode auxiliar com sua estética que superemos criativamente alguns dos problemas mais importantes de nossa época? Sim. E a Fotografia consegue este feito porque uma imagem fotográfica é uma síntese objetiva dos modos de pensamento diferentes do ser humano. A imagem fotográfica tanto abriga conceitos científicos como tradicionais. A Lua da Ciência e a Lua do Sagrado convivem harmoniosamente em uma única Lua da Fotografia. Assim, a Fotografia mostra como po-demos vir a fazer conexões criativas.

Conclusão

A conexão é um dos conceitos mais importantes no campo da criatividade. Pois, de que adianta termos novas idéias se não encontramos conexões entre elas e o mundo em que vi-vemos? A criatividade é um fator cognitivo humano, um elemento de nosso espírito, que pode ser usado para que ampliemos nossa consciência dos universos humanos exterior  (o cosmos) e interior (a mente). E para que alcemos a estados de consciência mais elevados, capazes de fazer com que encontremos soluções para os problemas mais importantes de nossa época; para que, enfim, propiciemos uma existência melhor para nós próprios, as de-mais pessoas e futuras gerações.

Roberto Lopes (robertolopes@pron.com.br) é  fotógrafo corporativo, pesquisador da imagem  e editor do site exclusivo de Fotografia do Paraná-Online, Pensamento Fotográfico. Atualmente trabalha em um livro sobre a dimensão intelectual da Fotografia.

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