Corra antes que acabe!

Falta pouco para descer o pano do 13.º Festival de Teatro de Curitiba. Por volta das 3h da manhã de segunda-feira apagam-se as luzes de Çelebridades, a última peça do Fringe, e Curitiba acorda do mundo de sonhos (e muitos pesadelos) em que mergulhou desde o dia 18.

Na Mostra Contemporânea, você ainda pode ver hoje a excepcional Aos que Virão Depois de Nós – Kassandra in Process, no Barracão da Mateus Leme, Temporada de Gripe no Teatro da Reitoria e Aurora da Minha Vida, no Teatro Fernanda Montenegro, todos às 20h, além das estréias de O Inspetor Geral, com o grupo Galpão, no Guairão, e Coração Bazar, monólogo de José Possi Neto com Regina Duarte no Guairinha, ambos às 21h30. Amanhã às 20h acontecem as últimas sessões desses dois espetáculos.

Mesmo antes de ver as montagens apresentadas no final de semana, já dá para tirar algumas conclusões. Primeira: a qualidade da Mostra Contemporânea este ano foi excelente. Até amanhã, a reportagem de O Estado terá acompanhado 10 dos 16 espetáculos da mostra oficial. E nenhum deles mereceria ser classificado como “ruim”. Se não chegam a ser maravilhosas, montagens como Sonhos de Einstein, a abertura com a Intrépida Trupe e a premiada Mr. K e os Artistas da Fome, Kafka com Boa Companhia, de Campinas (SP), certamente são “interessantes”. Entre as peças a que não assistimos, apenas uma recebeu críticas mais duras da imprensa nacional – Investigação Sobre o Adeus (justamente a do curitibano Edson Bueno).

Na outra ponta, mais volumosa, aparecem trabalhos magníficos, como as superproduções O Que Diz Molero, de Aderbal Freire-Filho, Porti-Nari: A Ópera – belíssimo musical de Luiz Carlos Vasconcelos com o grupo paraibano Piolim e Aos que Virão Depois de Nós – Kassandra in Process, épico gaúcho da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. E trabalhos muito bons, como [Urfaust] – Fausto Zero, Goethe do mineiro Gabriel Villela com Walderez de Barros, Otelo, grandioso Shakespeare do grupo paulistano Folias D’Arte, 100, com os ingleses da The Imaginary Body Theatre Company, e Agreste, montagem intimista da companhia paulistana Razões Inversas.

Segunda conclusão sobre o 13.º FTC: o nível do Fringe, que nunca foi muito alto, caiu vertiginosamente. A grande sensação foi a delicada Coisas Invisíveis, com os jovens mineiros da Cia. Clara de Teatro, seguida de Striptease, de Brasília, do épico brechtiano Terror e Miséria no Terceiro Reich, adaptado e dirigido por Marcelo Lazzaratto, do monólogo Licurgo – Olhos de Cão, dos curitibanos Celso Alves Cruz e Marcos Suchara e de A Melhor Parte do Homem, com a companhia de Curitiba Nossa Senhora do Teatro Contemporâneo, de Giovana Soar.

Grandes promessas, como as montagens portuguesas Algumas Polaroids Explícitas e Da Vida de Komikaze, as duas com a companhia Teatro de Braga e Titânio, de Fernando Kinas com Simone Spoladore, acabaram devendo. E o público ainda teve que encarar um caminhão de espetáculos medíocres, como Como Enlouquecer Nossos Pais e O Senhor do “Anel”, entre dezenas de outros.

A terceira e última conclusão a respeito do FTC é que a direção, capitaneada por Victor Aronis precisa encontrar urgentemente uma solução para a venda de ingressos. Não é possível que um festival que já aconteceu 13 vezes – e sempre com a Calvin Entretenimento – obrigue o público a esperar mais de três horas para comprar um ingresso. Que assim não seja em 2005, e que haja mais critério na mostra paralela, são os votos de quem aprecia o teatro.

Parece teatro, mas não é…

Para coroar a maratona de dez dias e mais de 140 peças de teatro, nada melhor que uma festa de encerramento com uma banda que congrega grandes músicos de Curitiba com alguns dos melhores profissionais de teatro da cidade. Mais ainda quando a apresentação é um deboche só, com performances memoráveis a partir de um repertório que reúne a fina flor dos anos 80 – de Metrô a RPM, de Blitz a Madonna, de Sylvinho a Boy George. A impagável formação atende pelo nome de Denorex80, e encerra amanhã o 13.º Festival de Teatro de Curitiba, às 23h, na Ópera de Arame. Os ingressos antecipados custam R$ 10, subindo para R$ 12 na hora.

Formado no início do ano passado meio de brincadeira, o grupo onde figuram o baterista Zé Loureiro Neto, o baixista Jorge Falcón, o tecladista Sergio Justen, o guitarrista Gilson Fukushima, o cantor/guitarrista Alexandre Nero e os vocalistas Maurício Vogue, Rosana Stavis e Jana Mundana rompeu 2004 com uma legião de fãs devotos e dezenas de shows Paraná afora.

E o público não se limita a trintões e quarentões saudosos da “década perdida”, incluindo jovens entre 16 e 18 anos, que sequer eram nascidos quando a Blitz lançou seu primeiro disco. O segredo, além do repertório, é a performance incendiária, marcada pela irreverência. Alguns exemplos: na música Ursinho Blau-Blau, sucesso-único de Sylvinho, a platéia se delicia com um urso gigante de pelúcia. Em Anjo, do Roupa Nova, Maurício Vogue e Alexandre Nero protagonizam um encontro entre um anjo atrevido e um diabo romântico, enquanto que em Superfantástico, do Balão Mágico, todos aparecem vestidos e do tamanho de crianças. Para hoje, a banda promete um show apoteótico, cheio de novidades. (LP)

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