Concepção trágica da cultura

O sangue corre pelas palavras, distribui-se pelos parágrafos e percorre o livro da antropóloga, professora da UFPR-Universidade Federal do Paraná e escritora Selma Baptista. Una concepción trágica de la cultura analisa a realidade do Peru, no contexto de transformações mundiais, e interpreta os sentidos de relações dialógicas expressivas entre as antropologias do presente.

A autora brinda os leitores com a descrição de sua trajetória metodológica, no primeiro capítulo. Inicia por um drama pessoal, o suicídio de um novelista e antropólogo peruano, José Maria Arguedas (1911-1969), para transcender o limite entre o individual e o coletivo. Parte da questão étnica, pensada a partir da inserção da sociedade peruana no movimento do capitalismo internacional, da origem da auto-reflexão moderna no Peru e a revolução urbana de Lima, que, explicitadas no terceiro capítulo, colocam José Carlos Mariátegui como o pioneiro na tentativa de unir as demandas urbanas e camponesas na busca da totalidade nacional.

No segundo capítulo, Baptista estabelece uma relação entre mito e história, buscando a origem do drama peruano em novembro de 1532, em Cajamarca, quando ocorre a conquista simbólica do Peru pelos espanhóis e a morte de Atahualpa. O quarto capítulo delineia um drama, segundo o pensamento de José Carlos Mariátegui e de suas imagens polêmicas.

A compreensão metafórica da antropologia peruana através da trajetória de seus antropólogos é o tema do quinto capítulo. A questão étnica é colocada como base das formas de representação sobre a nação e a identidade étnica/cultural. Dentre as diversas séries de mediações, Baptista prioriza as trajetórias antropológicas de Valcárcel e Arguedas, criando analogias entre eles de forma a sugerir que essas trajetórias podem ser pensadas como metáforas literárias e antropológicas.

No sexto capítulo, a autora reforça a existência de uma matriz andina e de que maneira essa estrutura chega aos nossos dias através do trabalho de dois antropólogos contemporâneos: Juan Ossio Acuña e Rodrigo Montoya Rojas. Ossio estuda Guamán Poma de Ayala, pelo interesse na cultura incaica e, com a orientação de Evans-Pritchard, busca um sentido atual para o messianismo andino. Montoya escreve sobre o cronista inca Garcilaso de la Vega, e a autora conclui que o cronista pode ser pensado como aquele personagem que formulou, pela primeira vez, perguntas que ainda aguardam as respostas.

O lançamento será dia 7 de dezembro, a partir das 21h, no Beto Batata do Alto da XV, Rua Prof. Brandão, 678, com o show Latinidade.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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