Como criar um fenômeno pop

Pegue uma emissora de TV de peso, junte com um gigante da indústria fonográfica e abra um concurso nacional para um grupo pop a la Spice Girls, com direito a CD comercial e shows promocionais pelo Brasil, para meninas entre 18 e 25 anos. Em seguida, submeta as milhares (30 mil no caso) de garotas a penosas provas eliminatórias (foram onze em seis meses de produção), devidamente televisionadas, até que só restem cinco. Com a ajuda de compositores “do momento”, monte um repertório com quatorze músicas, reunindo ritmos de fácil digestão – música eletrônica oitentista, composições dançantes, black music, música latina, baladas românticas, um pitada de rock’n’roll e swing – tudo isso temperado com letras descompromissadas, falando de amor e sonhos juvenis. Para completar, convide um megassucesso de vendas (KLB) para uma participação especial. Está pronto! Em menos de seis meses, você tem nas mãos um fenômeno pop surgido do nada! Assim nasceu Rouge, o grupo e o disco criados no programa Popstars, exibido desde março pelo SBT. O CD foi lançado pela Sony Music no último dia 19, e o grupo se apresenta oficialmente ao público no próximo sábado, no Via Funchal, em São Paulo.

Para o que se propõe, o Rouge não é mau. As cinco meninas – Aline, Fantine, Karin, Luciana e Patrícia (esta última paranaense de Sertanópolis) – são talentosas, cantam e dançam muito bem. As composições foram feitas sob medida para os ouvidos adolescentes – principalmente os das meninas. O problema é o nível de corantes e conservantes artificiais, e a falta de flexibilidade musical da “fôrma” na qual o grupo foi montado. As cinco garotas nunca tinham se visto, têm estilos e gostos diferentes, que foram convenientemente “domesticados” para viabilizar o conjunto.

Normalmente, essas diferenças corróem o grupo por dentro – vide o destino das Spice Girls, fenômeno e paradigma pop um pouco mais “autêntico”. Se bem que é estupidez esperar longevidade nessa fatia do mercado, simplesmente porque nenhum dos antigos ícones do pop adolescente sobrou para contar a história. Que o digam Menudo, Tremendo, New Kids On The Block, Dominó e os moribundos Backstreet Boys, Five, N’Sync e Twister. Para o bem (ainda que temporário) da indústria fonográfica, a juventude irremediavelmente segue o conselho definitivo do grande Nelson Rodrigues: envelhece.

Voltar ao topo