Com mais de 50 anos de carreira, Emiliano Queiroz continua “ralando”

Emiliano Queiroz tem "cortado um dobrado" para "encarnar" o Bernardo de Alma Gêmea, da Globo. Cada vez que o ator precisa gravar os passeios de charrete pela fictícia Roseiral, encontra dificuldades para "domar" o ânimo do cavalo Valente, que puxa a carroça. Emiliano conta que o mais complicado é "segurar" o animal para fazer as diversas tomadas das cenas. "Precisamos entrar em sintonia. Mas é difícil manter um ‘diálogo’", confessa, entre risos. Apesar da convivência problemática eqüina, Emiliano garante que tem se divertido bastante com o Bernardo, personagem que também é responsável por "amansar" os impulsivos Mirna e Crispim, de Fernanda Souza e Emílio Orciollo Netto. "Ele sofre com eles, que não dão sossego. São muito explosivos e o Bernardo sempre precisa segurar as pontas", comenta.

Com mais de 50 anos de carreira, Emiliano Queiroz já perdeu a conta de quantos personagens interpretou na tevê. Mesmo assim, ele tem no currículo papéis inesquecíveis. Na galeria de tipos, o ator destaca que os mais marcantes foram o Juca Cipó de Irmãos Coragem, de 1970, e, é claro, o Dirceu Borboleta de O Bem Amado, de 1973. Este último, aliás, o ator voltou a "encarnar" no seriado, em 1980. "Eram duas figuras bem diferentes, mas foram fundamentais na minha carreira", recorda.

P – Depois de mais de 40 personagens na tevê, o que ainda o motiva a encarar a rotina de gravações de uma novela?

R – Primeiramente, mantenho uma postura profissional. Sou funcionário da Globo e, por mais que me permitam descansar, sou convocado para trabalhar e não posso recusar. O segundo motivo é por ser a única coisa que sei fazer relativamente bem. Preciso exercer a minha profissão. Além disso, sinto prazer em todos os trabalhos que faço na tevê. Com o Bernardo, por exemplo, posso conviver com dois jovens atores muito talentosos.

P – Qual ponto destacaria de mais interessante no Bernardo?

R – A serenidade. Sempre admirei as pessoas que colocam a sabedoria a serviço da razão. O Bernardo é centralizado e tenta conter o temperamento explosivo dos sobrinhos. O personagem é bem-resolvido, diferente de outros que interpretei.

P – Em algum momento teve medo de ficar marcado pelo Dirceu Borboleta de O Bem Amado?

R – Fiz o personagem na novela, a primeira em cores. Foi ótimo. Confesso que, assim que recebi o convite para interpretá-lo no seriado, tive muito receio. Achava que o Dirceu poderia não ter o mesmo sucesso. Mas estava errado, pois até hoje se lembram dele. Além disso, o texto do Dias Gomes para a série, assim como na novela, era muito bem-escrito.

P – Por falar em textos, você chegou a escrever a novela Anastácia, a Mulher Sem Destino, de 1967, que teve vários problemas. Como foi essa experiência?

R – Nada boa. Havia trabalhado em algumas novelas da Glória Magadan. E, como sabia que eu já tinha feito adaptações na TV Ceará, ela me convidou para adaptar Touti Negra do Moinho, de Emile Richebourg. Mas a Glória me abandonou no meio do caminho, já que ela não era mais interessante para a Globo. A intenção da emissora, depois da entrada do Walter Clark e do José Bonifácio Sobrinho, o Boni, era trazer algo novo. Houve, então, uma reunião e disse que não tinha condições de escrever sozinho. Propus o nome de Janete Clair e eles aceitaram. A Janete viu que não dava para fazer muita coisa. Falei que no texto original havia um maremoto no final e a Janete resolveu criar um terremoto, matando vários personagens.

P – Mas o senhor foi acusado de empregar vários amigos, deixando o elenco com quase 100 personagens. Esse foi uma das causas para o fracasso da novela?

R – Essa história é uma grande brincadeira do Régis Cardoso, diretor da novela. Como a Tupi havia acabado com o teleteatro na emissora, chamei pessoas talentosas que conhecia para trabalhar. O problema é que não é fácil adaptar uma novela.

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