Chico Albuquerque é homenageado em mostra

O cearense Chico Albuquerque (1917-2000) tinha 25 anos quando foi contratado como fotógrafo de cena de It’s All True (É Tudo Verdade), que o mítico cineasta Orson Welles (1915-1985) rodou no Brasil em 1942. O diretor de Cidadão Kane começou filmando favelados cariocas e terminou registrando a chegada de jangadeiros, vindos de Fortaleza, terra natal de Chico, para se encontrar com o então presidente Getúlio Vargas e reivindicar direitos trabalhistas.

Um dos jangadeiros, Jacaré, após 61 dias no mar, navegando com três outros companheiros, morreu durante as filmagens, ao cair da jangada. Uma semana depois, partes do seu corpo em decomposição foram encontradas dentro de um tubarão capturado na Barra da Tijuca. Welles voltou para os EUA e o filme jamais foi concluído. Albuquerque mudou para São Paulo em 1945, instalando aqui um estúdio, na Avenida Rebouças.

Chico Albuquerque foi pioneiro da fotografia publicitária, registrando campanhas para montadoras de automóveis e a nascente indústria da moda, ainda nos anos 1940. Paralelamente, fazia fotos experimentais, dialogando com outros adeptos do fotoclubismo no histórico Foto Cine Clube Bandeirante, como Geraldo de Barros, Thomas Farkas e German Lorca, trio que dividiu com ele uma sala na segunda edição da Bienal de São Paulo, em 1953. Esses registros são até mais conhecidos que as fotos publicitárias, apesar de seu imenso acervo – cerca de 70 mil imagens, hoje sob a guarda do Instituto Moreira Salles.

Para corrigir essa falha, o IMS abre nesta quarta-feira, 26, em seu centro cultural no Rio, a exposição O Estúdio Fotográfico Chico Albuquerque, com curadoria de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do instituto.

São 130 fotos que cobrem o período de atuação do fotógrafo em São Paulo, registrando cenas da cidade, gente de teatro (a atriz Maria Della Costa), políticos (Jânio Quadros), representantes do mundo literário (Hilda Hilst) e artistas visuais (Brecheret). Em todas elas, é visível a preocupação de Albuquerque com a composição formal, que, ele admitia, só foi incorporada graças ao convívio com o esteta Welles durante as filmagens de It’s All True. A experiência foi tão marcante que ele voltou ao Ceará dez anos depois, em 1952, para fotografar a paisagem de Fortaleza e os jangadeiros. Morreu sem ver pronto o livro com essas fotos, Mucuripe, 63 arrebatadoras imagens que ele ainda teve tempo de editar.

Mundialmente premiado (na Argentina, Alemanha e Itália), Chico teria sido o primeiro fotógrafo brasileiro a usar flash eletrônico. É possível notar o uso racional que faz da luz artificial, tentando controlar as sombras como se fazia nos antigos filmes de gângster da Warner. A foto maior desta página, que mostra a fachada da loja Três Leões, na Avenida São João, nos anos 1950, parece até cenário de um desses filmes noir dirigidos por Howard Hawks, mas era apenas um inofensivo comércio de peças de automóveis que passou a vender também geladeiras e televisores.

O enquadramento amplo, a posição da câmera, a inclinação que buscava o ponto de fuga da pintura, tudo faz das fotos de São Paulo por Chico uma cidade “de cinema” que poucos diretores (além de Walter Hugo Khouri) souberam explorar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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