CD de M.I.A aproxima o funk carioca da dança do ventre árabe

Há quem acredite que M.I.A. seja um fenômeno passageiro, como foi outro filho de imigrantes, Apache Indian (aquele do Boom-Shak-a-Lak, lembra?). E que ela se tornou esse hype todo mais por causa de sua história do que pela música. De fato, a experiência de vida dela é impressionante, mas ao mesmo tempo indissociável de sua música. A mistura, feita com recursos poderosos de eletrônica, é interessante, de certa forma original e, mesmo soando um tanto descartável, é irresistível para dançar. Sim, porque à parte a consciência política de M.I.A., disco e show são bem festivos.

CD abre com uma vinheta que é uma tolice, mas começa a pôr fogo na seqüência com Pull up the People e Bucky Done Gun. Interessante como nesta ­- em que faz referencias ao Rio, aos Estados Unidos, Sri Lanka e Inglaterra – ela aproxima o funk carioca da dança do ventre árabe. Até o mais radical detrator do funk mexe o esqueleto. Dá para imaginar o que isso vai surtir de efeito no Rio. Outra que tem approach brasileiro é Amazon, com barulhinhos, palmas e vocais que tem lá algo de indígena.

Uma curiosidade a cada faixa, o CD tem bons momentos menos, digamos exóticos, como Sunshowers (assinada por Kid Creole) e a poderosa Gangalang, que desde setembro do ano passado, quando foi lançado o single, vem detonando as pistas com beats pesados e o refrão grudento e tatibitate que diz: "Blaze a blaze / Galang a lang a lang lang / Purple Haze / Galang a lang a lang lang." No show, é devassadora.

Vista da platéia, M.I.A. é uma gigante comparada ao porte de garota que naturalmente é. Envergando um macacão colorido, ela conduziu uma massa eufórica de cerca de 4 mil pessoas no show de domingo no Festival de Reading. Cantou todos os hits do disco, acompanhada apenas de um DJ e uma backing vocal, dançou, requebrou e brincou com o público com o volume e a temperatura nas alturas. Sensual, cheia de ginga, ela tem presença marcante.

Como costuma fazer em suas apresentações, acabou arremessando a platéia diversas cornetas, que é para fazer barulho mesmo. No fim deu até trabalho para os seguranças que tiveram de lidar com dezenas de mulheres que ela convocou a subir no palco. Dá para entender porque a gringolândia branquela se espanta tanto com ela.

Voltar ao topo