Casal veterano se integra com facilidade em elenco jovem

O autor Manoel Carlos aborda um elevado número de temas em Mulheres Apaixonadas, a novela das oito da Globo. Um dos destaques é o tratamento dado às pessoas que chegam à chamada terceira idade. O casal Leopoldo e Flora conquistou a simpatia do público e transformou os seus respectivos intérpretes, Louzadinha, com 91 anos, e Carmem Silva, aos 87, em verdadeiros “xodós”, tanto dos telespectadores quanto de todos que trabalham com eles na novela. “Tratam-se de pessoas muito importantes para nós, que amamos muito”, suspira o diretor Ricardo Waddington.

Os cuidados da emissora têm início com a condução para as gravações. Existe um carro disponível para levá-los aos locais onde rodam suas cenas, seja no Projac ou em tomadas externas. Depois que encerra sua participação, Louzadinha é levado de volta para casa. Carmem Silva, por sua vez, fica num hotel da Zona Sul do Rio, já que reside em Porto Alegre. Durante as gravações, há um carinho todo especial com os dois. Desde as pessoas da produção da novela até os atores do elenco, passando pela direção, todos procuram tornar o trabalho da dupla o mais agradável possível. Sempre existe alguém para ampará-los quando vão subir degraus mais elevados, sentar-se numa cadeira ou percorrer um caminho mais longo. “Eles facilitam ao máximo o nosso trabalho. Há uma consideração imensa com a gente e o carinho é uma coisa realmente maravilhosa”, emociona-se a atriz Carmem Silva.

Ricardo Waddington chama a atenção para o fato de eles receberem um tratamento mais cuidadoso em virtude das limitações naturais da idade, mas entende que isso não deve ser confundido com regalias. “Eles mesmos não gostariam disso e fazem questão de manter sua independência”, explica o diretor, que destaca a facilidade dos dois para decorar os textos que recebem como um exemplo da vitalidade deles.

Além disso, existe uma preocupação particular em respeitar os seus limites físicos. Desta forma, as dificuldades que o casal Leopoldo e Flora apresentam em “Mulheres Apaixonadas” – para andar por exemplo – são apenas reflexo dos problemas inerentes à pessoas com idade avançada. Em conseqüência, as tomadas nunca exigem mais do que seria habitual para eles – atores jovens são freqüentemente levados além de seus limites físicos. Mesmo assim, o ritmo das gravações, por vezes com mais de cinco horas de duração, pode ser bem desgastante, o que aumenta o zelo em torno deles. “Algumas vezes, fico bastante cansado ao final do trabalho. Mas a atenção de todos torna tudo agradável”, afirma o ator Osvaldo Louzada, o Louzadinha.

Exemplo

Daniel Zettel procura estar atento às lições que eles passam e absorver ao máximo estas informações. “Para mim está sendo ótimo. Eu não falo muito, mas procuro escutar mais o que eles tem a dizer. Eles dão muitas dicas”, aponta o ator que interpreta Carlinhos, o carinhoso neto de Leopoldo e Flora na novela. Ele fica especialmente admirado com o fato de o tempo não ter diminuído a capacidade profissional dos dois. “Eles são um verdadeiro milagre vivo”, elogia. Já Regiane Alves vive uma personagem que é o oposto de Carlinhos, seu irmão em Mulheres Apaixonadas. Na pele da insensível Dóris, ela comete inúmeros maus-tratos contra os avós. Bem diferente do tratamento que a atriz dispensa a Carmem Silva e Louzadinha. Regiane cerca os dois de carinhos e procura descontrair o ambiente das gravações com extremo bom humor.

O casal não cansa de elogiar a estrutura que os cerca e de valorizar o texto de Manoel Carlos. Carmem Silva enaltece o fato de as famílias estarem discutindo o tratamento aos seus idosos. Além disso, ela acredita que os jovens irão se aproximar mais dos mais velhos e trocar experiências. “A novela é uma coisa maravilhosa. A maioria dos jovens não chega junto a nós por receio, por desconhecimento. Para a gente, é importante o contato com os mais novos”, analisa a atriz.

Voltar ao topo