Caixa de Cds reúne o primeiro ano de sucesso dos Beatles

Por mais que se imagine livre de especulação, o baú dos Beatles parece estar sempre longe de se esgotar. A novidade da hora são as versões americanas dos quatro álbuns de 1964, que saem pela primeira vez em CD – pelo menos desta forma. Em edição vistosa, a caixa The Capitol Albuns vol. 1 (EMI) reúne Meet the Beatles!, The Beatles’ Second Album, Something New e Beatles ’65, que, apesar do título, foi lançado em dezembro de 1964.

Todos os CDs trazem as versões mono e estéreo das mesmas canções, obedecendo ordem idêntica. Os fanáticos pelos originais em vinil podem até desprezar o processo de remasterização, mas a qualidade sonora, dentro dos limites técnicos da matriz, é bem boa e em mono parecem que soam até melhores. Para os iniciados na beatlemania, a caixa insinua ser algo mais do que um (irresistível) caça-níqueis. Para quem ainda não embarcou na história, não deixa de ser um bom começo.

As edições americanas da maioria dos álbuns dos Beatles são diferentes das originais britânicas. Por mais estranho que pareça hoje, este era um procedimento corriqueiro quatro décadas atrás. Conterrâneos dos Fab Four, os Rolling Stones passaram pelo mesmo processo nos Estados Unidos. Não apenas o título e as capas dos álbuns e a ordem das faixas eram trocados, como havia algumas suprimidas para dar lugar a outras. Com os lançamentos simultâneos de hoje, as diferenças mais comuns de um país para outro são as faixas-bônus.

Como se sabe, o álbum de estréia de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr foi lançado no Reino Unido em 1963 com o título de Please Please Me, que não tem correspondente nos EUA. O primeiro álbum americano do grupo, Meet the Beatles! (que tem a mesma foto da capa do britânico With the Beatles) abre com I Want to Hold Your Hand, megahit lançado só em single no Reino Unido e que não consta de nenhum álbum oficial do quarteto no país natal. A sincronia entre os lançamentos só seria estabelecida em 1967 com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Mexer no conceito deste álbum já seria ultraje.

Enfim, antes de Sgt. Pepper’s outro momento crucial de transformação em sua carreira ocorreu em 1964. Não devido a um único álbum, estratégia ou qualquer guinada estética, mas por uma seqüência espantosa de acontecimentos que eles (e o mundo) vivenciaram – a partir do sucesso de I Want to Hold Your Hand, em janeiro. O retumbante desembarque nos Estados Unidos foi apenas um aperitivo para o resultado de sua participação ao vivo no programa de TV The Ed Sullivan Show, em fevereiro: a audiência de 73 milhões de espectadores.

Conseqüência da conquista da América, a beatlemania se propagou pelo planeta, reforçada pelo lançamento do filme A Hard Day’s Night, em agosto, quando eles voltaram ao Ed Sullivan Show repetindo o sucesso. Foi um ano sensacional, como exalta o texto de Mark Lewisohn, expert no assunto, no luxuoso livreto, recheado de fotos históricas, que acompanha a caixa. Outro atrativo são as capas, réplicas fiéis às dos LPs originais em miniatura.

Letras ingênuas sobre situações amorosas, canções fáceis e indiscutivelmente eficazes para a juventude da época preencheram esses discos dos rapazes de Liverpool. Alternando bons covers de clássicos do rock – como Long Tall Sally, Please Mr. Postman, Roll Over Beethoven, entre outros – com as primeiras composições da dupla Lennon & McCartney, era um hit atrás do outro. No meio da euforia, surgiam melodias mais sutis, como Till There Was You, de Meredith Willson, If I Fell e And I Love Her, num notável aprimoramento a cada gravação. Isto era apenas o começo.

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