Caixa apresenta clássico inédito

Escrito em 1894, o texto de O pequeno Eyolf, trata da fase simbolista do dramaturgo. Na primeira montagem brasileira, a peça ganha a visão contemporânea do diretor Paulo de Moraes, da Armazém Cia. de Teatro. ?Nunca pensei em montar uma peça de Ibsen e só aceitei porque não é um dos textos realistas dele?, diz Moraes, que também vê pontos em comum entre o trabalho que faz com a companhia e fora dela. ?Dou a mesma liberdade de criação aos atores?, afirma o diretor.

?O pequeno Eyolf  fala do individualismo e do egoísmo, mostra a nossa resistência em aceitar as falhas e as mudanças?, detalha a atriz e produtora Tânia Pires. ?A peça revela a hipocrisia e o materialismo da sociedade?, completa. Tânia produz o espetáculo junto com Luciana Rodriguez. As duas convidaram o diretor Paulo de Moraes para a empreitada. ?A nossa proposta era ter um diretor com uma visão moderna e atual para a leitura de um clássico?, explica Luciana.

Na peça, o dramaturgo aborda os conflitos entre dois casais e o filho de um deles. Sentimentos como ciúme, inveja, poder e desprezo vêm à tona e delineiam relações familiar e social neste espetáculo. Rita Allmers (Tânia Pires), mulher sedutora e proprietária de terras, é casada com Alfred Allmers (Fernando Alves Pinto), ex-professor e escritor que vive às suas custas. Essa relação desencadeada por uma forte atração sexual gerou um filho, Eyolf (Náshara), hoje com 9 anos e que sofre de uma deficiência em uma das pernas. Asta Allmers (Carla Marins) é a meia-irmã de Alfred, que tem com ele uma relação de grande proximidade e dependência afetiva, o que causa o constante ciúme de Rita que sustenta os dois e tem no poder seu grande aliado. Borgheim (João Vitti), engenheiro e amigo da família, alimenta uma paixão por Asta não correspondida e tem muita afeição pelo menino. A rotina familiar é abalada pela visita inesperada de uma figura mítica da cidade, a Mulher dos Ratos (João Vittti), que provoca profundas mudanças na família.

?O texto reflete sobre a inércia e a nossa possibilidade real de mudança?, diz o ator João Vitti. ?A Mulher dos Ratos é uma personagem mítica e tem a ver com a cultura da época e com a visão da morte?, conta. ?Já Borgheim representa o otimismo, a valorização da vida e a superação dos obstáculos?.

As duas figuras simbólicas retratam e exemplificam uma das fases do escritor. Carla Marins destaca o lado doce e amoroso de sua personagem. ?Asta vive uma relação complicada com o irmão, é quase um triângulo amoroso. Ela representa o lado maternal e de forma doce interfere nos relacionamentos?, revela a atriz.

O cenário, assinado por Carla Berri e Paulo de Moraes, é constituído por um píer de madeira, onde um lago de verdade foi montado especialmente para o espetáculo. Maneco Quinderé, responsável pela iluminação cênica, embarca profundamente na concepção primorosa de Paulo de Moraes que se aproveita desse resultado inspirando-se para fazer a trilha sonora.

Toda noite de estréia, o espetáculo é aberto com a palestra ministrada pelo embaixador da Noruega. Isto porque a peça marca as comemorações dos 100 anos de independência do país, comemorados em 2005. O Pequeno Eyolf  também inicia as homenagens do centenário de morte do autor, que acontece este ano. O projeto tem apoio da embaixada e consulado da Noruega, que pretende levar o espetáculo para representar a América Latina no ?Festival de Ibsen?, que será realizado em agosto de 2006 na Noruega.

Serviço:

Peça O pequeno Eyolf. Teatro da Caixa, de 2 a 4 de junho, de sexta a domingo (sexta e sábado às 21h e domingo às 19h). Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00 (clientes, idosos e estudantes), à venda no Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280). Informações 3321-1999.

Palestra de Abertura

O embaixador da Noruega no Brasil, Jan Gerhard, ministrará palestra sobre o compositor norueguês Edvard Grieg (1843-1907) que tem entre seus trabalhos mais executados as duas Suites Peer Gynt, música incidental da peça de Henrik Ibsen, que inclui preciosidades como Na grande sala do rei da Montanha, A morte de ?se, Disposição matinal, A dança de Anitra e A canção de Solveig. A música de Grieg para a peça foi escrita a pedido de Ibsen em 1874-75 e fez muito para interpretar o drama famoso por todo o mundo. A partitura,  abrange 26 peças e foi publicada em sua totalidade pela primeira vez em 1988. Também haverá projeções de pinturas de Henrik Ibsen (slides) em que ele se inspirava em fiordes noruegueses e ainda slides de pinturas de Edvard Munch (pintor norueguês do mesmo período), inspiradas em textos de Ibsen.

Voltar ao topo