Brian Wilson levou 38 anos para concluir Smile

Há 30 anos, ele disse que completar o álbum Smile seria a mesma coisa que “resgatar o Titanic” do fundo do mar. Mas Brian Wilson, eterno líder da banda mais harmônica de todos os tempos, os Beach Boys, resolveu enfrentar suas próprias “cicatrizes mentais” e concluiu o mais famoso disco que jamais fora completado, a sua “sinfonia adolescente para Deus”.

Em Nova York, ele recebeu a reportagem para falar dessa façanha, a de concluir um disco 38 anos depois que ele foi iniciado. “Levou um mês e meio para completar o trabalho. E então, umas duas semanas para gravá-lo. Pensei o disco como uma ópera-rock, com os temas distribuídos como se fossem uma história e os diferentes ritmos e níveis musicais levando de um a outro tema”, disse Brian.

Smile, o álbum mais famoso do mundo que jamais tinha sido concluído não só está pronto como Brian Wilson e sua banda estão fazendo uma turnê para divulgá-lo. Esta noite, eles estréiam o show no Carnegie Hall, em Nova York. E o melhor de tudo: a turnê passa pelo Brasil. O show Uma Noite com Brian Wilson, no dia 7 de novembro, às 21h30, no Tim Festival, em São Paulo, será o primeiro encontro de Brian com seus fãs brasileiros.

Você, que é mais jovem, pode pensar: quem é esse tal de Brian, que está causando toda essa agitação? “Sem Pet Sounds (disco dos Beach Boys), Sgt. Pepper’s não teria acontecido”, afirmou George Martin, o produtor dos Beatles. Pet Sounds é o maior disco de pop jamais feito”, disse Eric Clapton. “Eu costumava ouvir Pet Sounds e chorar”, contou Paul McCartney.

O disco mais celebrado de Brian Wilson, Pet Sounds, foi concluído em maio de 1966. Quando McCartney o ouviu, sua reação foi dizer o seguinte: “Esse é o álbum de todos os tempos. Como nós podemos ir além disso?” A resposta dos Beatles foi Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Mas Sgt. Pepper’s veio como uma pedrada artística, galgando novos patamares musicais no pop internacional. E Brian, com alguma obsessão competitiva, entrou numa espiral de insanidade para produzir o sucessor de Pet Sounds, aquilo que ele chamaria de “uma sinfonia adolescente para Deus”, o disco Smile.

“O LSD me tornou amedrontado. Teve um efeito muito negativo sobre mim. Você nunca mais é o mesmo depois de experimentar drogas como o LSD. Eu nunca deveria ter experimentado maconha também. Sinto muito sobre isso. Não fumo mais há 30 anos. A maconha me tornou paranóico, mas também me deu uma melhor visão de minha própria mente musical. Acho que me fez pensar sobre o que eu era e também sobre o que eu supunha ser”, diz o músico.

Hoje em dia, Brian Wilson diz que sempre houve mais admiração do que espírito de concorrência com os Beatles. “Fui verdadeiramente inspirado pelos Beatles. Eles me ajudaram a jogar meu jogo. Acho mesmo que Sgt. Pepper’s é melhor do que Pet Sounds. Nunca tive inveja dos Beatles, jamais. Creio que os Beatles e Phil Spector foram as coisas mais inspiradoras que encontrei”, afirma.

Sua criatividade musical parece que continua intacta. Smile, lançado no último dia 28, recebeu cinco estrelas da revista Rolling Stone e continua amealhando críticas extremamente favoráveis. Comparam seu estilo de compor com as técnicas preconizadas pelos beatniks, especialmente William Burroughs, a estética cut ‘n’ paste (corta e cola), além das infindáveis camadas de sons sobrepostos, a excelência melódica e os vocais delicados.

A lenda da música surfe se tornou calma

Exceto por um comportamento um tanto arredio, nada parece demonstrar que homem sentado na suíte de um hotel em Nova York é o sujeito que passou por um inferno de drogas e internações psiquiátricas.

P – As canções no seu novo disco que evocam o jazz como You Are my Sunshine e também outras que lembram os Beatles como por exemplo Songs for Children. Isso é certo?

Brian Wilson – É isso mesmo, você está certo. O que eu diria para o jovem músico que fosse começar a carreira seria o seguinte: ouça os disco de Phil Spector, ouça os discos dos Beatles, ouça os discos dos Beach Boys.

P – Você disse em entrevista recente, que as drogas o tornaram assustado e paranóico. Isso é verdade?

Wilson – É, as drogas me levaram à escuridão. As drogas não fazem parte do processo criativo. Elas podem revelar algo sobre o seu íntimo, mas não ajudam você a criar nada.

P – Ouvindo seus concertos temos a impressão que você se torna cada vez mais um bandleader e menos músico. Estou certo?

Wilson – Sim, é isso mesmo. Fazer música e executá-la são duas coisas distintas. No palco eu procuro coordenar a ação dos músicos e dar o ritmo do show.

P – O que você conhece de música brasileira?

Wilson – Nada. Mas vou procurar ouvir mais, não conheço muito.

P – Dizem que você não ouve a música que se faz hoje. É verdade?

Wilson – É verdade, não gosto de nada. Acho que hip-hop não é música. Também não acho que seja uma forma de arte.

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