Brasilidade intrínseca

Na tevê, Tonico Pereira é dono de um currículo de tipos populares. Desde a estréia em O Espigão, de 1974, quando fez o presidiário foragido Bambolê, o ator acumula personagens bem brasileiros. Foi assim com o ingênuo detetive Kléber, de Desejos de Mulher, e o inesquecível Zé Carneiro, de O Sítio do Pica-pau-amarelo. Nos últimos cinco anos, por sinal, Tonico interpreta o fanfarrão Mendonça, de A Grande Família, chefe do correto Lineu, vivido por Marco Nanini. ?Gosto dos personagens que tenham características que a gente pode encontrar no ser humano e que sejam bem próximos aos brasileiros?, destaca.

– Você já interpretou tipos bem variados, como pescador, dono de botequim e detetive. Qual é o seu critério na hora de escolher seus personagens?

R – Não escolho personagens. Ao contrário: são eles que me escolhem. Aliás, sou funcionário da Globo e faço o que me mandam fazer. Mas é claro que tenho dado muita sorte ao longo da minha carreira na tevê. Mas gosto de todos os personagens que faço. O Mendonça, por exemplo, tem essa coisa bem brasileira. É uma espécie de mau-caráter, mas é do bem, tem sentimentos, nutre uma amizade profunda e verdadeira com o Lineu.

– São cinco anos como o Mendonça, de A Grande Família, e quase oito como o Zé Carneiro, do Sítio do Pica-pau-amarelo. Qual dos dois é mais lembrado pelo público?

– As pessoas me abordam lembrando os dois personagens. É claro que quem tem mais de 30 anos cresceu vendo o Sítio e vai se lembrar para o resto da vida do Zé. Fez parte da infância de muita gente. O Mendonça, por sua vez, também é muito querido, mas pelas pessoas mais jovens. São dois personagens que muito me orgulham.

– Sua última novela foi Desejos de Mulher, em 2002. Gostaria de voltar a participar?

– Eu não posso fazer novelas, graças a Deus. Nem lembre isso, pois estou sossegado no meu cantinho em A Grande Família e prefiro estar onde estou. Estou satisfeito e acho que a Globo também está. Novela é um produto cansativo, com gravações diárias e desgastantes. Mas, é claro, que se a Globo me chamar para fazer, tenho de fazer, já que sou contratado pela emissora. Agora, entre fazer A Grande Família e uma novela, fico com o seriado, um produto mais bem acabado.

P – Quando surgiu o interesse em seguir a carreira de ator?

– Nunca havia imaginado isso. Quando vim para o Rio, aos 18 anos, foi para fazer pré-vestibular. Além disso, era ponta-direita do Goytacaz, time da minha cidade natal, Campos, no norte fluminense. Vim com uma carta de apresentação para entrar no América, mas nunca fui ao clube. Já era meio boêmio e desisti do futebol. Um dia, porém, fui visitar um primo em Niterói e ele e a mulher tinham acabado de criar o Grupo Laboratório de Teatro da UFF – Universidade Federal Fluminense. Fiquei encantado com as belas mulheres do grupo teatral e resolvi fazer parte. Nunca mais parei.

– Mas, paralelamente, você também mantinha outros trabalhos. Quando realmente decidiu se dedicar exclusivamente ao teatro?

– Não pensava em me profissionalizar. Tanto que passei por vários empregos, mas sempre os perdia, pois não conseguia conciliar os horários. Ensaiava a noite inteira. aliás, a gente discutia mais do que ensaiava e ficava muito cansado para trabalhar no dia seguinte. Na Varig, por exemplo, eu batia o ponto, deitava e dormia num banco em frente à empresa. O teatro, então, não ficou como opção e passou a ser obrigatório e constante na minha vida. Passei a ganhar dinheiro com a profissão.

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