Aventura de Robicheaux

A Coleção Negra da Editora Record traz Ferrovia do crepúsculo, em que James Lee Burke traz de volta o detetive David Robicheaux. Depois de protagonizar grandes romances – como Negro e amargo blues, vencedor do prestigiado Prêmio Edgard Allan Poe, e Cadillac KKK – , ele sai dos bayous dos arredores de Nova Orleans para desvendar uma série de crimes aparentemente sem nenhuma relação, mas com raízes comuns no passado racista de Louisiana.

Desta vez, o detetive está empenhado em corrigir uma injustiça que perdura há mais de quarenta anos: o assassino de um líder sindical jamais foi encontrado. Um crime bárbaro, que marcou a vida do então menino Robicheaux, primeira pessoa a encontrar o cadáver de Jack Flynn, pendurado, de ponta-cabeça, à parede de um celeiro.

Jornalistas preocupados

Escrito pelos jornalistas norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, Os elementos do jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir (Geração Editorial, 304 págs.) chega ao Brasil, com prefácio de Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo. O editor Luiz Fernando Emediato é um entusiasta da obra: “O livro analisa o que está acontecendo com os veículos de comunicação e o próprio jornalismo nos dias de hoje, quando muitas empresas estão sendo compradas por conglomerados internacionais do entretenimento e eventualmente perdem sua independência. Os autores tratam também do próprio fazer jornalístico, com o avanço das investigações e denúncias – muitas das quais provocadas por concorrentes econômicos ou políticos do denunciado – e seu estilo. Seria lícito, por exemplo, usar microcâmeras escondidas para colher depoimentos, sem o entrevistado saber disso? Seria lícito gravar conversas telefônicas com o repórter fingindo ser outra pessoa?”.

A idéia do livro surgiu após um encontro realizado em Harvard em 1997, que reuniu 25 dos mais importantes jornalistas norte-americanos para discutir o que havia acontecido com o jornalismo entre Watergate (1974) e Whitewater (era Clinton). Foi criado o Comitê dos Jornalistas Preocupados, que, dois anos depois, idealizou, sob a batuta de Kovach e de Rosenstiel, 21 fóruns reunindo mais de 3 mil pessoas e 300 jornalistas para debater se e como a imprensa livre pode sobreviver. Chegou-se à conclusão de que a finalidade do jornalismo é definida pela função exercida pelas notícias na vida das pessoas. E seu princípio mais importante seria, assim, o compromisso com a verdade, para que as pessoas disponham de informação para sua própria independência.

Além desse, foram estabelecidos nesses fóruns oito outros princípios: a primeira lealdade do jornalismo é com os cidadãos; sua essência é a disciplina da verificação, seus praticantes devem manter independência de quem estão cobrindo; o jornalismo deve ser um monitor independente do poder; deve abrir espaço para a crítica e o compromisso público; deve empenhar-se para apresentar o que é significativo de forma interessante e relevante; deve apresentar notícias de forma compreensível e proporcional, e os jornalistas devem ser livres para trabalhar de acordo com sua consciência.

Adélia Prado, boa releitura

A Record leva às livrarias Bagagem, obra de estréia – publicada pela primeira vez em 1976 – da poeta Adélia Prado. Em suas 144 páginas já se vislumbrava o talento que faria dessa mineira uma das mais aclamadas poetas da literatura brasileira, com um estilo que contrasta a leveza das palavras com a força dos sentimentos.

Os poemas, no entanto, percorreram longo caminho antes que pudessem ser apreciados pelo público. Mesmo escrevendo sonetos desde os 14 anos, a severa autocrítica da autora afastou os leitores desses textos repletos de entusiasmo e descoberta pela criação literária. “Tudo que eu escrevi até Bagagem não tem nenhum valor literário. São coisas que têm importância para mim, afetiva, de um bom tempo de minha vida”, explica.

Quando de sua primeira edição, o livro foi recebido com empolgação por Drummond de Andrade, um dos entusiastas da obra de Adélia e que indicou sua publicação. O livro traz textos repletos de emoções que, para a autora, são inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento.

“Os poemas praticamente irromperam, apareceram cargas e sobrecargas de poemas”, lembra Adélia Prado. “Eu escrevi muito nesse período.” Apesar de muitos e variados, abordando temas tão diversos quanto o amor carnal, o amor divino, a vocação do poeta, as cores e as dores da vida, os textos possuem uma unidade, uma fala peculiar. “Entre outros títulos que me ocorreram, Bagagem era o que resumia, para mim, aquilo que não posso deixar ou esquecer em casa. A própria poesia.”

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