Autores e diretores de novelas acabam fazendo suas parcerias naturalmente

Novela vai, novela vem, e muitos autores escolhem sempre os mesmos profissionais para dividir a maratona de quase nove meses de trabalho. Todos têm, por exemplo, seu diretor favorito. E, embora os próprios diretores não tenham a oportunidade de trabalhar sempre com um único autor, já que desfrutam de menos tempo de descanso entre uma produção e outra, há sempre aquele com quem mais se identificam. Depois de um tempo, a dupla começa a “falar a mesma língua” e é quase impossível não associar o trabalho de um ao outro. Entre os “casamentos” mais antigos, estão os de Gilberto Braga e Dennis Carvalho e de Sílvio de Abreu e Jorge Fernando.

Mas há parcerias mais recentes que parecem ter décadas de estrada, como a de Manoel Carlos e Ricardo Waddington – ele dirigiu todos os trabalhos do autor desde História de Amor, de 1996, somando cinco produções. “Desde o início, ficou claro que tínhamos linguagens parecidas. O sucesso também contribui para o relacionamento e motiva a repetir a dose”, avalia Ricardo.

O diretor vê muitas semelhanças entre o trabalho de Maneco e o de Benedito Ruy Barbosa, autor de Cabocla, com quem se prepara para emendar na minissérie Mad Maria. “Eles se parecem na busca incessante pela qualidade, na escrita artesanal e no tratamento dos personagens”, compara Ricardo, divertindo-se com a “traição”. “É uma bigamia, mas… paciência! Que seja para o bem da dramaturgia”, conclui.

Fora da tela

Não é raro uma parceria se transformar em amizade fora da telinha. É este o caso de Gilberto Braga e Dennis Carvalho, responsáveis por sucessos como Vale Tudo e a recente Celebridade. Para um bom entendimento, o autor acha imprescindível que os dois tenham cabeças parecidas e gostem dos mesmos atores. “Falamos a mesma língua, temos grande respeito um pelo outro e nenhuma competitividade”, enumera Gilberto. Opinião semelhante tem Benedito Ruy Barbosa, que fez com Luiz Fernando Carvalho Renascer, O Rei do Gado e Esperança. “Gosto de falar da terra e ele tem esta vivência. Não dá para fazer isso com um diretor que tenha medo de mosquito”, sentencia.

Com experiências semelhantes ou não, chega um momento em que a sintonia facilita o trabalho. Dennis acredita já ter atingido esse patamar com Gilberto. “Fica mais fácil descobrir o que o público quer ou não”, aposta o diretor. Outra vantagem é poder apurar o estilo. Manoel Carlos e Ricardo Waddington, por exemplo, levaram ao extremo em Mulheres Apaixonadas uma característica iniciada em Laços de Família: a inserção de fatos do dia-a-dia na trama. Muitas cenas eram gravadas, propositalmente, no dia em que iam ao ar. “Como ele compreende o que escrevo, fica muito mais simples”, costuma destacar o autor.

De novo

De fato, quem experimenta a sensação de uma parceria bem-sucedida quer repetir a dose. É exatamente o que estão fazendo atualmente duas duplas. Glória Perez e Jayme Monjardim, depois de O Clone, começam a trabalhar em América, a próxima novela das oito. “Já escrevo pensando nas características de cada um”, entrega ela. Em Começar de Novo, é Antônio Calmon quem reedita um encontro de 2002, quando fez O Beijo do Vampiro com Marcos Paulo. “Quando há respeito mútuo e as opiniões são levadas a sério, o trabalho só tem a crescer”, justifica o diretor de núcleo e protagonista da trama, num ponto de vista absolutamente compartilhado por Calmon. “O diretor não é uma marionete do escritor. E o escritor não é um datilógrafo do diretor”, ensina.

Trabalhos além da telinha

# Sílvio de Abreu e Jorge Fernando vão levar sua parceria para o cinema com Guerra dos Sexos, que começa a ser rodado no início de 2005. “Torço por um bom resultado pela possibilidade de outros autores e diretores transformarem suas novelas em filmes”, ressalta Sílvio.

# Aguinaldo Silva, que pela primeira vez trabalha com Wolf Maya, diz que Paulo Ubiratan, seu antigo parceiro, já preconizava o encontro dos dois. “Quando o Paulo morreu, fiquei meio ‘viúvo’. Mas ele sempre dizia que, um dia, eu teria de trabalhar com o Wolf. Ele sentia que daria certo”, valoriza o autor.

# Foi Antônio Calmon quem insistiu para que Marcos Paulo assumisse o protagonista de Começar de Novo. Em função do trabalho como ator, ele deixou a direção geral a cargo de Carlos Araújo e continuou apenas diretor de núcleo.

Relações nem sempre com finais felizes

Tal qual um verdadeiro casamento, a parceria autor-diretor exige jogo de cintura. Nem sempre as coisas terminam bem. Depois de acompanhar Carlos Lombardi em trabalhos como Uga Uga e O Quinto dos Infernos, por exemplo, Wolf Maya abandonou Kubanacan no meio do caminho. O motivo do desentendimento foi o atraso na entrega dos capítulos. Atualmente na direção de Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva, o diretor comparava as duas formas de trabalho na estréia da novela. “O Aguinaldo produz muito. Isso facilita o planejamento. O trabalho fica mais seguro e mais profícuo. Como tudo na vida, a arte depende de planejamento”, justifica.

Para o diretor Ricardo Waddington, que garante nunca ter tido qualquer problema com autores, os desentendimentos sempre começam em função de dificuldades no trabalho. “Se há tensão, estresse, os ânimos ficam exaltados”, imagina ele. Nem sempre, no entanto, as tais “dificuldades” têm relação com a repercussão da trama. Kubanacan foi um grande sucesso. Assim como Terra Nostra, novela depois da qual Benedito Ruy Barbosa e Jayme Monjardim, que eram parceiros desde a época da Manchete, ficaram “estremecidos”. Glória Perez, por sua vez, acredita que só um detalhe poderia deixá-la absolutamente enfurecida com qualquer diretor. “Não admito que um diretor mexa no meu texto. Assim como não vou ao estúdio ensinar a ele como posicionar a câmara. Este respeito é um bom início”, sentencia.

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