Autor de Sinhá Moça, Ruy Barbosa agora será consultor de suas filhas

Tempo vai, tempo vem, e as tramas históricas continuam no gosto popular. E poucos autores brasileiros conhecem tão bem este território quanto Benedito Ruy Barbosa. Mais uma vez chamado a pôr no ar uma de suas novelas, Benedito verá, no próximo dia 13, a estréia do ?remake? de Sinhá Moça, sucesso que foi ao ar originalmente em 1986. Autor de folhetins como Cabocla e O Rei do Gado, desta vez o autor será mais um consultor de suas filhas, Edmara e Edilene Barbosa, responsáveis pela adaptação do roteiro original. ?Para mim é como se a novela estivesse começando do zero de novo. Só que desta vez eu serei um privilegiado espectador?, comemora.

Mesmo orgulhoso de ver as filhas seguindo seus passos, o autor não vê o processo de criação como uma vocação das mais fáceis. ?Tenho pena delas. Não é fácil passar 14 horas por dia escrevendo?, justifica. Ainda assim, mesmo que não esteja à frente do projeto como em outras épocas, Benedito ?veste a camisa? da novela. Entre as dificuldades que enfrentou na fase de pré-produção de Sinhá Moça, a disputa por nomes fortes no elenco foi algo que poucas vezes ele viu na Globo. ?Houve muitos problemas. Mas graças a Deus, todos os nomes que eu pedi vieram para mim. Pudera, né, eu estou nessa há muito tempo?, esbraveja.

P – Por que você não assumiu pessoalmente a adaptação do ?remake? de Sinhá Moça?

R – As meninas já trabalham comigo há muitos anos. E tanto Cabocla quanto Sinhá Moça já estavam escritas, eu apenas entreguei nas mãos delas para que fizessem as alterações que achassem necessárias. Em Cabocla eu cuidei dos 20 primeiros capítulos. Dessa vez eu nem mexi. Estou vendo a coisa correr muito bem. Elas estão muito afinadas com meu modo de pensar. A história está toda ali. Uma coisa ou outra que se mude não altera o contexto.

P Os freqüentes ?remakes? revelam uma carência de bons novos argumentos?

R – Não. Às vezes você, quando gosta de um filme, o assiste dez vezes. E novelas como Sinhá Moça e Cabocla fizeram grande sucesso e a juventude de hoje não viu. Mas em Cabocla a gente percebeu que as pessoas que já haviam visto se deleitavam e assistiam de novo. Sob esse aspecto, eu acho que muitas novelas merecem um ?remake?. Quando a novela tem todas as condições de dramaturgia para fazer sucesso, vai ser bem-sucedida de novo.

P Acha que as tramas de época exercem um fascínio sobre o telespectador?

R -Exercem. Normalmente, as tramas de época trazem um romance diferenciado do de hoje. A novela de hoje começa e o casal já está na cama. Parece que não existe o trabalho de conquista, é tudo muito rápido. Na trama de época há um trabalho de conquista, é poético, as crianças se envolvem com a trama. Ao mesmo tempo, você tem o dado histórico, a novela valoriza a cultura brasileira e o homem brasileiro, tem pureza, tem respeito.

P – Em uma trama original, o autor escreve para determinado ator. Numa adaptação, pode haver uma perda dessa ?química??

R – Não. Eu tive muita sorte com o elenco, que está muito bem escalado. Quando começo a desenvolver uma história, eu não penso no ator que vai fazer. Só penso no ator quando vou fazer o capítulo, ao pensar nos diálogos, que são a base de uma novela. Aí eu já começo a pensar em quem pode fazer o papel. Depois de escrever uns 15 ou 20 capítulos eu já sei o elenco que eu quero. Mas o diretor também tem suas preferências e tem de opinar…

P – Uma novela hoje tem muito mais páginas por capítulo do que há 20 anos. Isso colabora para uma perda de qualidade?

R – Não. Virou uma estiva. Quando eu escrevi Cabocla e Sinhá Moça, os capítulos tinham 25 laudas. Hoje são 45. O tempo de duração do capítulo também é maior hoje, tem uma hora de duração. Você praticamente escreve um roteiro de cinema por dia. Se você juntar dois capítulos, equivale ao tempo de duração de um filme. Hoje está muito mais difícil escrever. Às vezes eu penso que o meu estilo de fazer novela está superado.

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