Autonomia ou privatização?

Periodicamente voltamos a ser confrontados com a questão da pretensa autonomia do nosso Banco Central. Parece oportuno lembrar que aqui se trata da instalação de um superpoder no país. O poder da economia. O poder do dinheiro. Um poder que gera riquezas, só que não para o povo, que numa democracia deveria ser o maior beneficiário da economia da nação. Mas o lobby da autonomia nunca desiste. Talvez devêssemos aprender um pouco da história. O próprio Karl Marx exigia em seu “Manifesto Comunista”: Centralização do crédito nas mãos do Estado através de um banco nacional com capital do Estado e monopólio absoluto. O monopólio do controle do capital de um país é o que os grandes financistas internacionais mais desejam. No início do século passado eles já contavam com os seus “bancos centrais” na Inglaterra, França e Alemanha e começaram a se dedicar à etapa seguinte: Estados Unidos. E não é que a classe política do país não tivesse consciência das tentativas de controlar a América através de manipulações financeiras. Já Thomas Jefferson escrevera a John Adams: “… eu acredito sinceramente, assim como o senhor, que as instituições bancárias constituem perigo muito maior que exércitos mobilizados.”

Para demonstrar a necessidade de um banco central, os banqueiros internacionais promoveram uma série de pânicos financeiros no país. Era uma demonstração do seu poder e também uma advertência do que poderia acontecer a todos aqueles que não rezassem por sua cartilha. O regente desta ação foi J.Piermont Morgan, americano de nascimento, educado e preparado na Inglaterra e na Alemanha. Morgan é visto por muitos como agente principal dos Rothschilds ingleses na América. Outro homem escolhido para representar um papel importante nesta tarefa de criar um banco central nos Estados Unidos foi Paul Warburg que junto com o seu irmão Felix emigrou da Alemanha em 1902. Deixaram o irmão Max na matriz em Frankfurt, donde contribuiu no financiamento da revolução bolchevista. Paul Warburg dedicava em 1907 todo o seu tempo ao proselitismo da idéia do banco central. Recebia do banco Kuhn, Loeb & Co., o mais poderoso na época nos EE.UU., uma remuneração anual de 500.000 dólares.

Warburg assegurou-se do apoio do senador Nelson Aldrich, que então dirigia a Comissão de Finanças do senado americano. Mas o projeto de Aldrich não passou pelo congresso. Os republicanos tinham uma imagem muito ligada à Wall Street. Deu-se uma camuflada no projeto que então passou a ser patrocinado pelos democratas. A oportunidade veio com as eleições presidenciais de 1912. O republicano William Howard Taft, candidato à reeleição, era contra o projeto. Começou a perder terreno quando seus adversários Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson passaram a ter suas campanhas maciçamente financiadas por Morgan e seus mandantes. Wilson acabou sendo eleito e em 22.12.1913 o tal Federal Reserve Act, foi aprovado pelo congresso americano. Depois da votação o senador Charles Lindberg, pai do famoso aviador, declarou perante os seus pares: “Esta lei instala o truste mais gigantesco da terra … Quando o Presidente sancionar este documento o governo invisível do poder do dinheiro – comprovadamente existente, segundo nosso inquérito – estará legalizado … Isto aí é o Projeto-Aldrich transvestido … A nova lei provocará inflação sempre que o truste desejar inflação. “Tinha razão. Os tais bancos centrais autônomos em nada contribuíram para a estabilização das economias. As bolsas de ações sofrem variações diárias e os crashs se sucedem periodicamente. Inflações, deflações e recessões pipocam regularmente pelo mundo afora. Quando da instalação do FED a dívida pública dos EE.UU. era de um bilhão de dólares. Cinqüenta anos depois estava em volta dos 400 bilhões e hoje conta-se em trilhões.

A que ponto chegou o processo de deterioração da soberania das nações vem sendo demonstrado aqui neste nosso Brasil, onde um partido que sempre se posicionou contra a domínio do esquema financeiro internacional – e sob esta bandeira foi eleito – agora está considerando a liberação do Banco Central do controle dos poderes constituídos.

Norberto Toedter

é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e autor do livro “…e a guerra continua”

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