Aula de história e leitura obrigatória

O Estado tem duas sugestões de livro essa semana. O primeiro é O continente esquecido – A batalha pela alma latino-americana, lançado no Brasil pela Editora Campus-Elsevier, traz uma visão contemporânea e abrangente da história, política e cultura do hemisfério, ao traçar uma análise dos principais acontecimentos desde o início do século XIX, quando a maioria dos países latinos iniciou sua luta pela independência.

Ao passar anos como repórter nas cidades, palácios presidenciais e favelas da América Latina, o jornalista Michael Reid assistiu de perto ao desdobramento da história da região e pôde fazer perguntas a muitos de seus protagonistas.

O continente esquecido expõe o processo de democracia e de desenvolvimento dos países latinos e conta com o aval do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso: “Uma aula viva de História e de leitura obrigatória”.

Reid põe abaixo muitos dos mitos que ofuscam a compreensão da região e apresenta um relato vivaz, imediato e abalizado de um continente dinâmico e de sua luta para competir em um mundo globalizado.

“Trata-se de uma tentativa de dar a conhecer as realidades complexas que muitas vezes não são contempladas pelas vastas generalizações e pelas distorções superficiais, que são tudo o que a América Latina parece merecer em muitos veículos de comunicação na Europa e nos Estados Unidos”, diz o autor.

Nem tão ascendente quanto a China, mas não tão pobre quanto a África, a América Latina é muitas vezes esquecida pelo Ocidente em geral. No entanto, esse vasto continente possui 550 milhões de habitantes e um dos ambientes naturais mais importantes ecologicamente.

A região tem as maiores reservas mundiais de terras aráveis e é depósito de muitas commodities importantes como metais, alimentos e 8,5% do petróleo global.

A partir do estudo sobre os esforços da região para alcançar um crescimento econômico sustentável, e sobre o surgimento de democracias de massa genuínas em boa parte do continente, esse trabalho de reportagem é o resultado de um quarto de século de observação.

O continente esquecido foca nas experiências, nos problemas e nas possibilidades da democracia, das reformas econômicas e do desenvolvimento da América Latina.

O outro livro, Cultura é nossa arma – AfroReggae nas favelas do Rio (Editora Civilização Brasileira), aborda os problemas sociais do Rio de Janeiro e fala do trabalho do AfroReggae, grupo cultural que ajuda os moradores, principalmente os jovens, das comunidades carentes a não seguir o caminho das drogas e da criminalidade.

A questão que o livro discute é que dois milhões das pessoas que moram nas favelas do Rio de Janeiro fornecem grande parte da mão-de-obra que faz a cidade funcionar.

Dirigem os ônibus, executam o trabalho pesado das obras, atendem os clientes nas praias, lojas, bares e restaurantes, limpam condomínios e residências das classes sociais mais bem remuneradas e zelam por sua ordem e bom funcionamento. Então, por que o restante da cidade parece ter uma relação tão complexa com essa população?

No livro, dois jovens ingleses, um escritor e um pesquisador, acompanham a dura realidade das favelas cariocas e revelam a luta de vários moradores para melhorar as condições de vida em suas comunidades, a batalha por respeito e dignidade.

Através das ações do grupo AfroReggae, Damian Platte e Patrick Neate mostram a importância dos resultados obtidos pela cultura nos focos de maior violência do Rio de Janeiro. Uma mensagem de conciliação e justiça social.

Os autores analisam o Rio de Janeiro – uma cidade paradoxal, onde tudo muda, mas, ao mesmo tempo, tudo parece igual. E tratam de fen&ocirc,;menos novos e preocupantes, como a presença de milícias em algumas favelas, e outros que parecem petrificados no tempo, como a relação favela-asfalto, que quase não mudou desde a fundação do Morro da Providencia no final do século XIX. Por que o Rio não consegue reduzir a violência e a exclusão social? essa é a grande pergunta.

No final de 2007, o filme Tropa de elite, ficção baseada em fatos ocorridos dez anos antes, inspirou um feroz debate sobre a insegurança. Ao mesmo tempo, chacinas, balas perdidas e a morte de inocentes são muitas vezes tratadas como acontecimentos “normais”, incapazes de provocar reflexões profundas.

Mas enquanto houver pessoas na sociedade dispostas a buscar soluções, organizações como o AfroReggae e outros grupos que militam nessa área continuarão a ser imprescindíveis para abrir o caminho para a paz. Cultura é nossa arma é mais um volume da Coleção Segurança e Cidadania, coordenada por Julita Lembgruber.