Associação de cegos dos EUA protesta contra “Ensaio”

Cegos confinados num hospital psiquiátrico, atacando uns aos outros, trocando comida por sexo. Para alguns cegos norte-americanos, o cenário mostrado no filme Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles, é ofensivo para a classe. “O filme mostra os cegos como monstros e isso é uma mentira”, disse Marc Maurer, presidente na Federação Nacional dos Cegos dos Estados Unidos (NFB). A organização planeja um protesto na frente dos 75 cinemas onde o filme vai estrear amanhã nos Estados Unidos. Eles carregarão slogans dizendo “eu não sou um ator, mas um cego na vida real.”

Adaptado do livro homônimo do ganhador do Nobel, José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira mostra uma misteriosa epidemia que causa cegueira instantânea na população mundial inteira, resultando no colapso da ordem social – uma metáfora da falta de comunicação clara e o que ela causa com a dignidade humana. Na adaptação para o cinema, Julianne Moore vive a única capaz de enxergar. O filme também é estrelado por Mark Ruffalo, Gael García Bernal e Alice Braga.

A Miramax, produtora do filme, disse que Meirelles “trabalhou para preservar as intenções e ressonâncias do aclamado livro”, descrito como “uma corajosa parábola sobre o triunfo do espírito humano quando a civilização entra em colapso”.

Mas os críticos dizem que o filme reforça estereótipos negativos como de os cegos não poderem cuidar de si próprios e serem desorientados. “Nós enfrentamos 70% de taxa de desemprego e outros problemas sociais porque as pessoas acham que não podemos fazer nada. E o filme não ajuda em nada”, disse Christopher Danielsen, porta-voz da NFB. “Todos se sentiram ofendidos”.

Fernando Meirelles está rodando outro projeto e não comentou sobre o assunto. A Miramax afirmou que está triste em saber do protesto da federação, que começou a ser planejada depois que sete membros foram a uma exibição do filme em Baltmore, na semana passada. O protesto vai incluir piquetes nos teatros com dezenas de participantes a cada exibição do filme. Será o maior protesto nos 68 anos da NFB, que tem 50 mil membros e trabalha para melhorar a qualidade de vida dos deficientes visuais.

O filme abriu o Festival de Cannes deste ano e recebeu aplausos mas também apatia de uma parte da crítica. Depois disso, Meirelles refez uma parte do longa, tirando, por exemplo, a narrativa. O filme estreou no Brasil no último dia 12 de setembro e foi bem recebido pela crítica, além de estar entre os longas mais vistos do mês de setembro. A atriz Julianne Moore veio a São Paulo lançar o filme ao lado de Fernando Meirelles e da atriz Alice Braga. As informações são do Jornal da Tarde.