Artistas expõem obras em parques e no Centro de SP

Vestido de calça jeans, camisa de manga comprida e boné, o famoso violinista norte-americano Joshua Bell empunhava seu Stradivarius de 1713, avaliado em R$ 6,5 milhões. Era abril de 2007 e ele estava no metrô de Washington (EUA) tocando de graça para os passantes – o ingresso para o concerto do artista custa, em média, R$ 300. Em 43 minutos, apenas sete pessoas pararam para ouvir o repertório clássico do músico virtuoso. Apesar de a arte estar logo ali, houve quem não prestasse a menor atenção.

Será que em São Paulo vai ser diferente? Nesse exato momento, obras de artistas – entre eles, Thiago Rocha Pitta, José Spaniol, Paulo Penna e Mauro Sérgio Néri – misturam-se à arquitetura da cidade, à vista de quem quiser apreciá-las. Pitta, por exemplo, pintou uma das fachadas do Edifício Isnard, que fica no número 1382 da Avenida São João. A obra Pintura com temporal #6 é uma forma orgânica em preto, feita com uma tinta que muda de cor de acordo com a chuva.

“Quando uma das minhas pinturas secava, me sentia angustiado”, diz o artista. “Nesse projeto, elaborei uma tinta que não se estabilizasse. A pintura, então, está na paisagem urbana e partilha com ela a característica de transformar-se constantemente”, completa. Pitta, de fato, confere ritmo à sua obra, em contraponto ao próprio ritmo da cidade. Uma discussão pertinente, aliás, se pensarmos que a arte urbana pode ir além de conversar somente com o espaço. Ao adicionar o tempo como um dos elementos constitutivos de sua arte, o artista sugere novas propostas. Se elas serão percebidas ou não pelos passantes, difícil saber.

Como o pigmento que muda de cor tende à cor marrom, há o risco da obra assemelhar-se a resquícios de sujeira da chuva. “O importante é que as obras causem estranhamento e mudem, de certa forma, a visão que as pessoas têm da cidade”, diz o curador Douglas de Freitas. Nesse sentido, a instalação Descanso da Sala, de José Spaniol, tem mais chances de ser notada, sem ser confundida. A obra, no Parque Burle Marx, compreende uma sala invertida que está suspensa a oito metros de altura do solo. Abaixo dela, há um espelho d’água que a reflete, mostrando-a, então, na posição normal.

Seja uma obra com o potencial de camuflar-se – como a de Pitta -, seja escancarada – como a de Spaniol -, o fato é que esses trabalhos têm em comum proposições sobre a cidade. “Eles trazem interpretações e questões diversas sobre os ambientes que os cercam”, opina Douglas de Freitas. No caso dos artistas Paulo Penna e Mauro Sérgio Néri, isso fica ainda mais evidente.

Penna, por exemplo, colocou xilogravuras de grande formato em pilares e passarelas do Parque Dom Pedro II. A ideia do artista foi chamar a atenção para o fato de o Rio Tamanduateí estar oculto a quem frequenta o lugar. Já Mauro Sérgio Néri ocupou a Praça Eugene Boudin, em Pinheiros, com um mural feito a partir de colagens, pintura, grafite e outras técnicas. “A ideia foi oferecer um espaço agradável para as pessoas frequentarem”, conta. As informações são do Jornal da Tarde.

Parque Burle Marx – Av. Dona Helena Pereira de Moraes, 200, Panamby. Parque Dom Pedro II – Avenida do Estado, 3600, Sé / República. Praça Eugene Boudin – Pinheiros. Edifício Isnard – Av. São João, 1382, Centro. Todos gratuitos.

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