Armazém Cia de Teatro se apresenta no Guaíra

A programação do Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante traz para Curitiba o espetáculo teatral Toda nudez será castigada, com Armazém Cia de Teatro. Nesta sexta e sábado, no Teatro Guaíra, o público paranaense poderá conferir a adaptação para os palcos do texto de Nelson Rodrigues, que conquistou o Prêmio Eletrobrás de Teatro 2006, nas categorias de Melhor Iluminação, Melhor Cenografia e Melhor Figurino, e o Prêmio Shell de Teatro 2005 nas categorias de Melhor Direção (Paulo de Moraes) e Melhor Iluminação (Maneco Quinderé).

A peça começa pelo fim, com a voz de Geni (Patrícia Selonk) rodando num gravador. “Herculano, quem te fala é uma morta. Eu morri. Me matei”. É Herculano quem ouve.

Abrindo mão de sua maior surpresa, o suicídio da protagonista, Toda nudez será castigada é toda contada em flash-back e a ação vai se construindo, como cacos da memória de Herculano (Thales Coutinho).

O viúvo Herculano é o chefe de uma família conservadora, “uma família só de tias”. Fez um pacto com Serginho, o filho de 18 anos, prometendo que jamais iria substituir a mãe do menino por outra mulher. Movido por um ódio desmedido e de olho no dinheiro de Herculano, seu irmão, o ardiloso Patrício, sustenta uma das ideias centrais da peça: “todo casto é um obsceno”.

Antagonista em estado bruto, Patrício promove, então, a aproximação entre Geni e Herculano. É um encontro insólito. Herculano é um homem austero, o “semi-virgem”. Geni é prostituta, movida por instinto, pulsão de vida, ao mesmo tempo que acha que vai morrer de câncer.

“A Geni subverte por meio do sexo”, diz Patrícia Selonk vencedora do Prêmio Shell 2009 que interpreta o papel. “O texto é uma montanha-russa, não tem parada. A trama parece se construir toda dentro da cabeça de Herculano. Ele é uma espécie de “herói expressionista’, oscilando o tempo todo entre a ciência e a fé, entre a liberdade de pensamento e os dogmas”, acentua o diretor Paulo de Moraes. Herculano brande seus princípios, mas sucumbe à carne. A hipocrisia ronda a família do viúvo.

Não é por acaso que Nelson Rodrigues adota para a peça o subtítulo “obsessão em três atos”. O fantasma da morte ronda o tempo todo enquanto o desejo se impõe, mas com ele a impossibilidade amorosa. O autor conduz Herculano como protagonista, mas, lá pelas tantas, converge para Geni, “expondo a trajetória clássica de ascensão e queda de uma heroína”, segundo Moraes.

A montagem do Armazém não é presa a uma época ou a um lugar. “Não montamos uma tragédia carioca, mas uma obsessão em três atos”, diz o diretor. A cenografia dá o suporte necessário a essa encenação não-realista, sugerindo as gavetas da memória de Herculano, com suas portas giratórias que compõem no palco uma caixa inteiriça de acrílico e ferro. As transparências marcam os vitrais coloridos que tanto poderiam ser de uma igreja ou de um bordel, dando possibilidade ao sagrado e ao profano.

Serviço

Toda nudez será castigada. Sexta e sábado, às 20h, no Teatro Guaíra (Rua XV de Novembro, 971 – Centro). Ingressos: R$ 15,00 (inteira). Classificação indicativa: 16 anos.