A voz e a vez dos guaranis

Um grupo de 160 índios guaranis veio a Curitiba, para gravar um CD, cujas músicas abordam temas como religião e natureza. As gravações terminaram ontem e o disco estará à venda no mês que vem. Toda a renda será dividida entre as sete comunidades participantes. Esta é a primeira vez que a música indígena paranaense é registrada pela própria tribo.

A idéia de gravar o CD partiu do Instituto Nhemboete (em guarani, preservar). Segundo seu presidente, Nelson Ribeiro, esta é uma forma de incentivar as crianças das comunidades e consolidar a cultura guarani. “Nós queremos que os não-índios nos respeitem como somos. O que acontece é que uma criança sente vergonha de dizer que é índio. Eu, na minha infância, tinha vergonha de falar que sou índio, de me expressar fora da comunidade”, admite.

Para que os índios, principalmente crianças e adolescentes que nunca tinham ido até grandes centros, se sentissem à vontade, foi construída uma “casa de reza” no Parque da Ciência, ex-Castelo Branco, onde eles realizam os rituais de dança, música e orações. Ali foi montado o estúdio.

Para garantir a espontaneidade das gravações e evitar o nervosismo dos cantores amadores, “conversamos com eles para não pensarem que tem um microfone. Para eles agirem como se fosse na aldeia, pensando em Deus”, revela Jair Mariano Rodrigo, diretor do instituto e coordenador do grupo vindo de Paranaguá. Durante a gravação, eles não deixaram o nervosismo tomar conta e cantaram e dançaram como se fosse na aldeia. Cada comunidade -vindas de diversos municípios do Paraná – participa com duas faixas no CD.

As duas mil cópias iniciais a serem produzidas já foram vendidas para interessados na Bélgica. O grupo pretende mandar fazer mais cópias para destinar à venda e ao patrocinador (Copel). O projeto demorou um ano até que resultasse na gravação. Os índios conseguiram recursos pela Lei Rouanet, por meio da Secretaria de Estado da Cultura.

O Instituto Nhemboete foi criado há dois anos e meio pelos próprios índios, que trabalham diariamente com as crianças da tribo a importância da preservação da língua, hábitos e costumes.

Para o assessor de assuntos indígenas do governo do Estado, Edívio Battistelli, “é importante conhecer mais para respeitar mais o guarani. Isso fortalece a auto-estima do índio e ele pode participar da vida nacional com a sua cultura”.

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