A tevê e o pulo do gato

Essa não é a primeira vez que escrevo sobre televisão. É um assunto recorrente; estou sempre ligado nisso. É um tema interessante e com o qual tenho afinidade. Nasci em 1961 e, na casa de meus pais, já havia uma TV Invictus, que me divertiu, informou, iludiu e educou por vários anos. No começo, era tudo novidade. Lembro dos festivais de música da Record; assisti a todos. Lembro do homem chegando à Lua, dos seriados americanos que eu adorava, das primeiras produções da TV Brasileira e da Copa do Mundo no México. Os detalhes se foram, mas a emoção que todos sentimos é inesquecível. As primeiras novelas, os programas muito loucos que, de certa forma, inauguraram o estilo brasileiro de se fazer TV. Os primeiros “pulos do gato”.

Lembro, como se fosse hoje, da primeira TV colorida que compramos. Abria-se um novo horizonte. As cores não faziam falta até a primeira vez que assisti a uma TV colorida. Daí em diante, ficou ridículo assistir a uma TV em preto-e-branco. A cor foi o tipo de novidade que se tornou indispensável. Grande “pulo”. A gente tem assistido às Copas do Mundo ao vivo, graças aos satélites. Vibramos com sucessivos campeonatos do Guga, direto das quadras; às frustrações do Rubinho junto com ele, ao mesmo tempo. As novidades tecnológicas, como o “link”, que permite uma transmissão ao vivo de um lugar distante do ponto de produção de um programa; o “chroma-key”, que revolucionou a produção dos programas de TV. A MTV foi a primeira a usar, de forma sistemática, essa técnica de gravação. A tecnologia está sempre avançando. Isto é certo e inevitável.

E as idéias? É aí que chegamos ao “pulo do gato”. No ano passado, estava conversando com um grande amigo, da área de criação da TV, e discutíamos a esse respeito. O que falta hoje na TV é o “grande truque”, a “boa nova”, a “trama interessantíssima”, o “pulo”, se é que vocês me entendem! Tudo que está aí já está aí há um tempão.

A última grande papagaiada é o “reality-show”; uma explosão mundial. E, se é de mau gosto, é de mau gosto mundial. Chegou no Brasil e tomou conta do interesse das pessoas. Até a MTV tem seu “reality-show” com a família Osbourne. Como todos os outros, foi recorde de audiência na emissora. E qual será o próximo grande “pulo do gato”? Será que vai demorar muito para surgir uma grande idéia genuinamente brasileira? Acho que é disso que precisamos. Já estamos fartos de talk-shows (todos!), programas de calouros (todos!), de paradas de sucesso (todos!), de debates (todos!), de games (todos!), TODOS!

A única dúvida que eu tenho é: quem tem um problema? A audiência ou os produtores de TV? Na verdade, os produtores de televisão, eu sei, têm problemas. Resolvidas essas crises, a audiência poderá assistir a vários gatos pulando da tela.

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