A princesa e plebéia

A Simone, de Páginas da Vida, caiu como uma luva para Christine Fernandes. Aos 33 anos, a atriz teve na adolescência uma trajetória tão cosmopolita quanto a da personagem que interpreta na novela da Globo. Na trama, Simone retorna ao Brasil depois de uma longa temporada nos Estados Unidos. Já Christine – que nasceu em Chicago, mas cresceu no Brasil – voltou à América para estudar, para depois finalmente voltar à cidade do coração, o Rio de Janeiro. ?Todos os dados de minha vida que são próximos à história da Simone, eu usei. Personagem contemporâneo sempre traz um pouco da bagagem do ator?, explica.

Para Christine, o fato de ter morado tantos anos fora ajuda a justificar a cabeça tão ?moderna? de Simone. Não é à toa que, para evitar problemas em sua vida sentimental, ela opta por ficar sozinha e renunciar à paixão que sente por Jorge, personagem de Thiago Lacerda. ?Ela é uma mulher independente, mas que mantém o seu lado romântico?, define a atriz. Em todos os momentos, Christine se preocupa em não construir uma figura estereotipada, da mulher que precisa ser fria para ser forte. ?É possível ser firme mas ter feminilidade, ser doce?, afirma.

Páginas da Vida marca o reencontro da atriz com o autor Manoel Carlos. Em 1995, Christine integrou o elenco de História de Amor, onde viveu a doce Marininha. Nesse intervalo de onze anos, no entanto, os dois não pararam de ?trocar idéias? e conversar sobre a percepção de ambos, relacionada a cinema e teatro. ?É legal quando alguém que te viu lá no começo acompanha seu trabalho e aposta em você de novo?, derrete-se a moça, lisonjeada com o convite do consagrado autor.

 Antes de estrelar sua primeira novela das oito na Globo, Christine protagonizou Essas Mulheres, na Record, em 2005. Apesar de já ter atuado em outras tramas de época como Esplendor e Chiquinha Gonzaga, a trama baseada no livro Senhora, de José de Alencar, teve um gosto especial. ?Sou encantada com esse romance desde a época em que li na escola. Foi maravilhoso fazer a Aurélia Camargo?, valoriza. Christine explica que se divertiu muito interpretando o papel, pois acredita que conseguiu mergulhar de cabeça naquele universo. ?Todos os dias eu tinha a sensação de que algo diferente tinha acontecido?, completa.

 Ao justificar sua ?quase ausência? de quatro anos na tevê – entre Estrela Guia, de 2001, e Essas Mulheres, de 2005, Christine fez apenas uma pequena participação em Kubanacan -, a atriz fala das mudanças que a gravidez trouxe à sua vida. O filho Pedro, de três anos, fruto da sua união com o ator Floriano Peixoto, é o responsável pelo fato de que Christine agora avalia ponderadamente os convites que recebe. ?Quando você tem uma criança pequena, a qualidade do convite tem que ser proporcional ao sofrimento que vai ser sair de casa?, salienta. Mas a atriz faz questão de ressaltar que a atuação é sua paixão. Justamente por isso, na primeira oportunidade em que lhe ofereceram um bom papel, não teve como negar. ?No final das contas, valeu o sofrimento de ficar longe do meu filho?, contabiliza.

 Na busca incansável por bons personagens, Christine se apressa em avisar que adoraria representar figuras loucas. ?Gosto das mulheres intensas, que podem surtar a qualquer momento?, detalha. O recado da atriz deixa claro que não apenas mulheres fortes de Manoel Carlos e personagens de época a fariam sair de casa. É provável que um convite para encarnar uma personagem bem maluca leve Christine Fernandes de volta aos estúdios sem grande esforço.

Sonhos na rede

Nos tempos de adolescente, Christine Fernandes sonhava mesmo em brilhar nas quadras. Durante alguns anos, a moça chegou a jogar em importantes times de vôlei do Brasil. ?Eu queria ser jogadora com todas as minhas forças?, relembra. Aos 13 anos, a posição de Christine era batedora de meia. Mas o tempo passou, a menina de 1,70 m parou de crescer. Por isso, encarar o esporte como profissão passou a ser um desejo cada vez mais distante. ?Digo que não parei com o vôlei, mas o vôlei é que parou comigo?, brinca. Ao lado de grandes atletas, a ?baixinha? não teria muitas chances. ?Não estava disposta a ficar no banco de reservas para o resto de minha vida?, completa a atriz.

Ao mesmo tempo em que se dedicava ao esporte, Christine alimentava a vontade de se envolver com o mundo das artes. Tanto que se dedicou a vários cursos de teatro. O convite para trabalhar como modelo aconteceu de repente. Ela viajou o mundo, fez cursos de interpretação para comerciais e, a partir daí, todos os caminhos a levaram à representação. Só depois de se firmar nessa profissão é que seus familiares lembraram de um Natal em que, ainda criança, depois de fazer um ?showzinho? familiar, Christine afirmou incisivamente que seria atriz. ?Acho que era um sonho de infância que abafei por um tempo. Depois me defini e fui traçando meu caminho aos poucos?, avalia.

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