A banalização dos relacionamentos sexuais nas novelas

Já não se fazem mais romances como antigamente. Prova disso é que algumas novelas contemporâneas, como América e A Lua Me Disse, da Globo, andam mais "moderninhas" que nunca. Exemplo: Cena 1 rapaz começa a namorar a menina; Cena 2 casal se dirige à cama. Ninguém parece querer mais perder tempo com namoros, flertes ou afins. A banalização dos relacionamentos sexuais só não chegou ainda às produções de época, tradicionalmente mais recatadas e românticas que as atuais. Em América, a personagem Sol, de Deborah Secco, é do tipo que suspira por um, mas casa com um segundo e vai para a cama com um terceiro. "Ter de escolher entre um amor e a realização pessoal é um conflito que todos os folhetins já exploraram. A diferença de América é que esse conflito é vivido por uma mulher e não pelo mocinho da história, como tradicionalmente acontece", observa Glória Perez. 

Segundo Carlos Lombardi, autor de Uga Uga e Kubanacan, entre outras, não dá para generalizar. A exemplo do que acontece na vida, as novelas também estão repletas tanto de relacionamentos fugazes e inconseqüentes quanto de romances duradouros e responsáveis. "Se fazemos uma novela só com relacionamentos superficiais, ela fica desinteressante. Mas se fazemos também todas as histórias de amor de maneira grandiosa e conseqüente, fica falsa", defende Lombardi. Para Lauro César Muniz, todo autor precisa estar atento ao que acontece ao seu redor, para não correr o risco de se tornar ultrapassado. "Há 50 anos, o termo ‘ficar’ soaria como galinhagem ou promiscuidade. Hoje, não. Antes de assumir um compromisso mais sério, a garotada se testa para ver se dá certo ou não. Os tempos mudaram e os costumes também", pondera ele.

Em alguns casos, o romantismo em tramas atuais é reservado apenas a casais homossexuais. Foi assim em Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos, quando o romance entre Clara e Rafaela, de Alinne Moraes e Paula Picarelli, culminou num discreto "selinho" durante uma montagem de Romeu e Julieta. Mais recentemente, a primeira noite de amor de Jennifer e Eleonora, de Bárbara Borges e Mylla Christie em Senhora do Destino, só aconteceu depois de um longo e delicado namoro. "Os relacionamentos afetivos só são banalizados quando a novela não tem uma boa história para contar. Aí, sim, ela precisa se basear em acontecimentos efêmeros, como troca-troca de casais, para ganhar espaço na mídia", alfineta Aguinaldo Silva.

Os autores Walcyr Carrasco e Benedito Ruy Barbosa parecem concordar com Aguinaldo. Tanto que se abstiveram de registrar suas opiniões. Segundo Benedito, autor de novelas como Terra Nostra e Esperança, para não criticar alguns colegas… "Novela das seis, por exemplo, tem a obrigação de resgatar valores esquecidos. O amor anda muito vulgarizado. Hoje em dia, quando o cara diz que ama, pensa logo em sexo", queixou-se Benedito, por ocasião do "remake" de Cabocla. Já Marcos Lazarini, responsável pela adaptação de Os ricos também choram, do SBT, prefere adotar um tom mais moderado. "É da natureza do folhetim essa busca incessante pelo par perfeito. Além disso, como o tempo ficcional é diferente do real, temos a sensação de que o troca-troca é constante", apazigua.

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