Um ano de aprendizado

Assim foi 2002 para o Clube Atlético Paranaense. Após ter sido campeão brasileiro, o Rubro-Negro penou para manter o status recém adquirido e quase naufragou na defesa do título no segundo semestre. O principal culpado acabou sendo a muleta de sempre, ou seja, o calendário brasileiro. Mas, ninguém está livre de dar a mão à palmatória e se penitenciar pelas lambanças cometidas na primeira temporada com a estrela dourada no peito.

Já no começo do ano, o melhor time do Brasil se preparou para disputar a primeira competição oficial com a estrela dourada no peito com um equipe reserva. O clube vivia uma nova era e prometia repetir em 2002 o sucesso do ano anterior. Com os principais jogadores mantidos, a meta era apostar todas as fichas na Copa Libertadores e partir para a conquista da América. No entanto, na primeira partida da Copa Sul-Minas, um Atlético formado por apenas dois titulares, alguns reservas e outros juniores perdeu para o Cruzeiro por 2 a 0, no dia 20 de janeiro.

A programação foi para o espaço e o barco começou a fazer água. Alguns jogadores, que estavam em férias, foram chamados, mas nem todos compareceram na data pedida. O atraso no pagamento da premiação, prometida pela conquista do Brasileirão, começou a ser cobrada e o time nunca mais foi o mesmo. No âmbito político, o clube vivia momentos de indefinição. O ex-diretor de futebol Valmor Zimmermann abriu mão da candidatura à presidência em favor de Mário Celso Petraglia, mas este só pôde assumir o Rubro-Negro no começo de abril. Nesse período, o presidente do conselho deliberativo, Guivan Bueno, discretamente tocou o barco.

Apesar da campanha apenas regular (conseguiu empatar com os modestos Joinville e Tubarão na Baixada), o time conseguiu se classificar para a semifinal. Mas, foi suado. Numa partida inacreditável, o Furacão conseguiu virar o jogo diante do América Mineiro com dois atletas a menos. Estava perdendo por 3 a 2 e, numa atuação primorosa de Dagoberto, que marcou dois gols, o time passou à fase seguinte. “Foi a mão de Deus”, disse um enfurecido presidente Mário Celso Petraglia após a partida, que prometeu e barrou Nem da equipe. Nas finais, a melhor partida do ano. Num Olímpico lotado, o Atlético deu um baile nos gaúchos e venceu por 5 a 1. De virada e com show de Adauto. O jogo de volta foi só para cumprir tabela. Na final, o pique caiu e o Cruzeiro venceu as duas partidas e deixou o vice-campeonato para o Rubro-Negro.

Libertadores

Se em 2000 o Atlético fez um brilhante primeira fase da Copa Libertadores da América e foi infeliz nos pênaltis diante do Galo nas oitavas-de-final, em 2002, a coisa foi totalmente diferente. Do mesmo modoirregular que começou a Sul-Minas, o time entrou na competição continental. No dia 5 de fevereiro, o modesto Bolívar veio à Arena e carimbou a faixa do campeão brasileiro. Venceu a partida por 2 a 1 e mostrou que as coisas não estavam andando bem nos bastidores do clube.

No entanto, a expectativa era de que os jogadores voltassem à melhor forma com o decorrer dos treinamentos. Ledo engano. Nas partidas seguintes, o Furacão voltou a mostrar que continuava a meio pau. Perdeu para o também modesto Olmedo e empatou com o forte América de Cáli em casa. Em três partidas, somou apenas um ponto e viu seu sonho de conquistar a América mais longe.

Mesmo assim, a classificação dependia apenas de suas próprias pernas. A história parecia começar a mudar na partida de volta contra o Bolívar. O time rubro-negro fez um primeiro tempo perfeito e massacrou os bolivianos por 5 a 1. Era o cartão de visitas do campeão, mas na segunda etapa a coisa degringolou. O atacante Ilan e o meia Adriano perderam a cabeça e foram expulsos. O time ficou com dois a menos e a altitude começou a fazer efeito. Resultado: o Furacão não conseguiu manter o resultado e permitiu o empate por 5 a 5.

Na partida seguinte, a única vitória na competição diante do Olmedo por 2 a 1, na Baixada. Mas, o time voltou a decepcionar na última partida. Quando precisava apenas da vitória para se classificar, acabou perdendo para o América de Cáli por 5 a 0 e deu adeus ao sonho com mais um vexame.

Supercampeonato

O Supercampeonato Paranaense marcou a despedida do técnico Geninho do clube. Com ele, o Atlético conquistou o Campeonato Brasileiro e a aprovação, quase unânime, da torcida rubro-negra. Após perder para o Coritiba no Alto da Glória, a direção resolveu antecipar o fim do contrato entre as partes alegando contenção de despesas. Em seu lugar, entrou o ex-preparador físico Riva Carli.

O novo comandante estreou com vitória diante do Prudentópolis e garantiu a vantagem na semifinal, quando empatou por 0 a 0 diante do Iraty. Na final, o time deu um show e massacrou o Paraná Clube por 6 a 1. O resultado praticamente garantia o tricampeonato para o Furacão, que relaxou no jogo de volta contra o Tricolor na Vila. Perdeu por 4 a 1, dia 2 de junho, mas levou o troféu para o outro lado da Avenida Rebouças. A façanha inédita, o primeiro tricampeonato paranaense da história do Rubro-Negro não comoveu o presidente Petraglia. Revoltado com o tratamento recebido na Vila Capanema, se recusou a receber a medalha de campeão. Mesmo assim, a caravana em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros percorreu a cidade.

Copa dos Campeões

Com o fracasso na Copa Libertadores da América, as esperanças se voltaram para a Copa dos Campeões, que daria uma vaga no torneio continental em 2003. Inovando mais uma vez, o Atlético apostou em uma nova comissão técnica, que seria composta por treinadores em cada setor e um técnico geral para orientar técnica e taticamente a equipe. A intenção foi boa, mas a realização foi vexatória e sonho de conquistar o mundo mais uma fez ficou adiado.

O time foi um desastre nas três partidas que disputou. Perdeu todas elas (Flamengo, Goiás e São Caetano) e saiu da competição com a pior campanha entre as 16 equipes. Mais do que isso, vitimou quase todos os membros da comissão técnica. O técnico Riva Carli foi mandado para o precário Grêmio Maringá, o preparador físico Eudes Pedro foi demitido, o auxiliar Lio Evaristo retornou aos juniores e somente Vinícius Eutrópio e Ricardo Pinto permaneceram. O autor intelectual da inovação, Antônio Carlos Gomes, continuou firme à frente da área científica do clube, apesar da desconfiança geral sobre seu trabalho.

Brasileiro

O abalo pela campanha na Copa dos Campeões fez com que a direção atleticana optasse pelo tradicional. Tirou o experiente Valdyr Espinosa do ostracismo no Rio de Janeiro e apostou que, na defesa do título de campeão brasileiro, o time voltaria aos eixos. Quase deu certo. Os jogadores se esforçaram e levaram o Furacão novamente para as cabeças. Só que, Espinosa trombou com o atacante Alex Mineiro e pôs tudo a perder.

O jogador dormiu titular a noite de sexta-feira e acordou no sábado como reserva de Dagoberto. Era a véspera do confronto diante do São Paulo e o time nunca mais foi o mesmo depois disso. O Atlético começou a perder na Arena, foi despencando na tabela e a torcida exigiu a demissão de Espinosa. “Fora Espinosa”, ecoava pelas arquibancadas. O time estava na sétima posição e Petraglia atendeu ao povão.

O que ninguém esperava, nem a direção nem a torcida, é que a mudança de comando iria afundar de vez o time na competição. O substituto de Espinosa, Gílson Nunes, já chegou trombando com o zagueiro Gustavo, ídolo da torcida. Adivinha o que aconteceu? Mais uma vez o grupo apoiou o companheiro e o treinador dançou. Em quatro partidas, o Furacão ganhou apenas dois pontos e ficou mais para o rebaixamento do que para a classificação. Os problemas começaram a aparecer e as virtudes do passado, como o fôlego invejável, foram para o espaço.

Para salvar a pátria, o paizão Abel Braga foi chamado. A missão era digna de Tom Cruise, ou seja, impossível. Ganhar seis jogos nas sete partidas restantes. Obviamente não deu certo e Abelão já estreou perdendo para o horrível Internacional. O único bom momento foi no Atletiba. Até uma tropa de choque formada por empresários (entre eles o poderoso Juan Figer) esteve presente nos treinamentos da semana para incentivar o grupo. A rivalidade também ajudou a motivar os jogadores, que fizeram um grande jogo e puseram o Coritiba na roda. No toque de bola e na malandragem, os atleticanos passaram pelo rival e ainda sonharam com a classificação, mas depois tudo voltou ao normal e o time ficou apenas numa modesta 14ª colocação. A pá de cal foi dada pelo Cruzeiro. Numa partida ridícula, os jogadores se esforçaram mais para ser expulsos do que para marcar gols. O vexame só não foi maior (o time perdeu apenas por 4 a 1) porque o técnico da Raposa, Vanderlei Luxemburgo, pediu para seus atletas maneirarem.

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