Três competições, três decepções

Para o Coritiba, 2005 nem deveria ter acontecido. Mas as tristezas da pior temporada do clube em muitos anos servem como lição para o que vem pela frente.

Foram vários problemas enfrentados tanto dentro quanto fora de campo, que acabaram desaguando no pesadelo do rebaixamento. Os primeiros meses do ano foram de negação às estratégias de 2004 e de um afastamento compulsório da própria casa. E do primeiro amargor – a perda do tricampeonato paranaense.

Depois de 40 anos de serviços, o gramado do Couto Pereira necessitava de uma reforma. E se era necessário deixar o estádio, era preciso arrumar uma casa temporária. A decisão foi a seguinte: para o paranaense, jogos no estádio Willie Davids, em Maringá; na Copa do Brasil, partidas no Pinheirão.

Como nos outros anos, não houve dificuldade para ser o líder de seu grupo no paranaense. Na final, a segunda seguida contra o Atlético, a torcida transformou o Pinheirão em "casa", e o Cori venceu a primeira partida. Na segunda, Pepo acabou entrando na equipe, e o Cori acabou acuado pelos donos da casa. Aí veio a loteria dos pênaltis, que também mudou a trajetória de um jogador na temporada. Capixaba desperdiçou uma penalidade, que abriu o caminho do título atleticano.

Entre os campeonatos paranaense e brasileiro, o Coritiba disputou a Copa do Brasil. Depois de passar por CFZ e Náutico, o adversário seria o Treze. O Coritiba abriu boa vantagem com Nunes e Marciano, só que Adelino descontou e colocou o Treze em situação confortável. Bastava ganhar por 1×0 em Campina Grande que os donos da casa estariam classificados. E foi o que aconteceu – era a segunda decepção do ano.

A eliminação foi decisiva para a demissão de Antônio Lopes, que tinha seu trabalho questionado desde o ano anterior. Cuca foi contratado, com ampla aceitação da crítica e da torcida. Estreou com vitória sobre o Palmeiras, perdeu para o São Paulo mas venceu com sobras o Fluminense. Só que o Coritiba era irregular – e quando o Coxa perdeu o Atletiba, entrou em crise. O presidente Giovani Gionédis pensou em mandar Cuca embora.

O técnico ficou, e teve trabalho para recuperar a equipe. Depois de duas vitórias, enfim estreou o jogador mais esperado pela torcida: Renaldo, trazido do Paraná para ser o artilheiro do Coxa. Mas o time sofria com a irregularidade coletiva e a inconstância de resultados. A derrota para o Santos abriu novos atritos – naquele dia, Cuca e Gionédis fizeram críticas abertas ao time. Outro fracasso, desta feita para o Paysandu, no dia do aniversário do clube, foi fatal, e Cuca foi demitido.

Assumiu Antônio Lopes Júnior, uma tentativa arriscada da diretoria. O técnico afastou Renaldo, criou animosidades com parte do elenco e perdeu três partidas. Márcio Araújo foi contratado para manter o Coxa na série A. Mas duas derrotas colocaram o time na zona de rebaixamento. Só uma combinação de resultados manteria o clube na primeira divisão – os alviverdes fizeram a parte deles, vencendo o Internacional em um Couto Pereira completamente lotado, nova prova de amor da torcida. Só que Azulão e Ponte Preta também fizeram a parte que lhes cabia, e o Coxa acabou caindo para a série B.

Perspectiva de um 2006 com muitas dificuldades. E com novas atitudes

Não será um ano fácil, e ninguém espera isto para o Coritiba. Mas 2006 promete ser um ano de extrema dificuldade, principalmente pela pressão inevitável que jogadores, comissão técnica e até a diretoria sofrerão para recolocar a equipe na primeira divisão do campeonato brasileiro. Por mais que interesse a retomada da hegemonia estadual e se sonhe com uma boa campanha na Copa do Brasil, nada é mais importante para o Coxa que a disputa da série B, a partir de abril.

Tanto que, mesmo sem admitir claramente, o Cori passará por diversas avaliações durante os três primeiros meses deste ano. As contratações, que seriam catorze, deverão ficar em onze até meados de fevereiro, para que o comando do departamento de futebol possa definir quem está rendendo, o que é preciso para melhorar e quais serão as posições carentes. "Um clube grande como o Coritiba não pode fechar elenco. Vamos estar contratando sempre que for necessário", resume o diretor de futebol Almir Zanchi.

A disputa do paranaense servirá, também, para reerguer o moral de um elenco baqueado principalmente os mais jovens, que formam a base do grupo e sentiram muito o rebaixamento. "Seria ótimo conquistar o campeonato estadual. É esta a minha motivação no início do ano", admite o técnico Márcio Araújo, que começa a trabalhar com os jogadores na terça-feira, dia da reapresentação.

Ele contará com apenas 18 atletas que disputaram a temporada passada número que pode diminuir, caso Renaldo e Rubens Júnior deixem o clube, ou aumentar, se Caio e Jackson renovarem seus contratos. Terá sete reforços já anunciados: Iverton, Marcelinho, Julinho, Artur, Júlio Sérgio, Márcio Giovanini e Wílton Goiano, e mais quatro que chegarão durante a semana.

Estes jogadores foram (e serão) contratados depois de criteriosa análise do departamento de futebol. Com aval do presidente Giovani Gionédis: que toma posse do terceiro mandato na quinta-feira -, Almir Zanchi, o superintendente Odivonsir Frega e o assessor da presidência José Hidalgo Neto decidiram não contratar ?medalhões?, formando um elenco com as características da competição que o Coxa terá que disputar.

Aí estão diferenças básicas do Coritiba 2006: primeiro, a diretoria ?sai de cena? e abre caminho para profissionais ligados ao clube comandarem o futebol; segundo, não se contratará por atacado, ou sem critério. "Não podemos errar. Cada falha será tempo perdido", diz Odivonsir Frega. A torcida confia muito neles e em Márcio Araújo, a ligação do quarteto (todos com várias passagens anteriores) com o Coxa é a grande esperança de um time condizente com a força que os torcedores vêm demonstrando nas arquibancadas. (CT)

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