#ForçaChape

Tragédia com a Chapecoense nos faz recordar o verdadeiro sentido do futebol

Medellín e Chapecó nos emocionaram. Na próxima quarta (7), é a nossa vez.

O que tínhamos feito do futebol, hein?

De um lado, o futebol virou negócio. Milhões de dólares para se contratar um jogador, centenas de milhões pelos direitos de transmissão, uma batalha desesperada entre clubes para saber quem ganha mais, aliciamento de atletas nas categorias de base, meninos de dez ou doze anos com contratos milionários para que não fossem para o exterior, ingressos caríssimos, uma pressão desmedida sobre todos, uma imprensa preocupada com tudo, menos com o esporte.

De outro lado, o futebol virou guerra. Cores proibidas, ameaças veladas, total despreparo das autoridades para controlar os vândalos, bandidos se travestindo de torcedores para tocar o terror, as chamadas organizadas dando suporte indireto a quem só queria brigar ou depredar o patrimônio público e privado, famílias longe dos estádios, agressões e batalhas campais a cada final de semana, feridos e mortos nas manchetes.

Esse era o futebol até terça-feira.

Até o terrível acidente que vitimou 71 pessoas, entre jogadores, dirigentes e comissão técnica da Chapecoense, e os jornalistas que iriam cobrir a final da Copa Sul-Americana.

A equipe catarinense já havia criado uma aura de simpatia durante a heroica campanha continental. Aqui mesmo, na redação da Tribuna, sofremos durante o duelo com o San Lorenzo, prendemos a respiração naquela falta, gritamos quando Danilo defendeu. E todos em Curitiba acabaram achando legal que a Chape decidiria a Sul-Americana na cidade.

Mas não houve final, há apenas a dor que aumenta a cada dia. Conversando com colegas, cada um dizia que essa é uma cobertura dolorosa de ser feita. E, claro, todos nós choramos as perdas e choramos com os parentes e amigos das vítimas, acompanhamos a impressionante reação do mundo do futebol.

Até a noite de quarta-feira.

O futebol pode mudar a partir da quarta. Com a emocionante união de todos, com a energia e o sentimento que se derramavam da Arena Condá e do Atanasio Girardot e chegavam a cada um de nós. Lembramos que o futebol é um esporte, em que o melhor vence, mas que tem uma nova chance a cada partida. Que o dinheiro vale pouco. Que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Que tem que haver respeito a quem está em campo, e respeito a quem vai torcer.

O futebol não é uma guerra, é um congraçamento. É a chance de pessoas que nunca se viram se encontrarem em uma arquibancada. É feito para se divertir, não para brigar. É para as famílias, é para as crianças, aqueles meninos de camisa verde da Chape que correram no gramado e que me fizeram chorar sem parar.

O futebol mudou depois da noite de quarta-feira.

O futebol pode ser isso, depende de nós.

Chapecoense e Atlético Nacional deram o exemplo, o maior que já se viu na história do esporte.

O futebol não é só um jogo. A partir de hoje, tem que ser um símbolo de fraternidade e respeito entre todos.

Nós, curitibanos, podemos mostrar que estamos dispostos a mudar o futebol. Não somos a “cidade-modelo”? Então, vamos manter a chama da esperança acesa. Vamos vestir nossas cores e vamos juntos ao Couto Pereira na quarta-feira. Vamos nos abraçar, chorar e homenagear jogadores, dirigentes, profissionais, jornalistas. Não importa a religião, importa o coração, importa o que vamos mandar com nossa voz e nossa emoção para todo o planeta.

Você é atleticano? Tá convidado. Você é coxa? Tá convidado e vai receber a todos com carinho. Você é paranista? Tá convidado. Torcedor do Santos, do Grêmio, do Cruzeiro, do Londrina? Venham. Não torce pra ninguém, só pra seleção? Também será bem-vindo. Emocionou-se com o terrível acidente? Esperamos você.

É quarta, é no Couto Pereira.

Eu vou. E espero você lá.