Torcedores famosos do Atlético comentam a crise do time

No futebol, nenhum time está livre de crises e fases negativas. Mas o atual momento do Atlético está deixando a torcida assustada e desconfiada sobre o futuro do clube. Os péssimos resultados em campo, aliados à indefinição sobre a conclusão da Arena da Baixada e sua participação na Copa do Mundo de 2014, incendiaram de vez o ambiente na Baixada, acirrando ainda mais a disputa pelo comando do Furacão.

Em busca de explicações e possíveis soluções para a crise rubro-negra, a Tribuna ouviu alguns ilustres torcedores atleticanos. Entre eles, poucos arriscam dizer quem tem razão na “briga” entre o ex-presidente Mário Celso Petraglia e o atual, Marcos Malucelli. Mas uma impressão é praticamente unânime: a fase atual é uma das mais graves já vividas pelo Rubro-Negro.

Jackson Nascimento
Craque do Furacão nas décadas de 1940 e 1950

“Nunca vi uma crise política como essa. A minha fase como jogador foi felicíssima. Éramos campeões quase sempre. A administração nunca foi ruim. Um grupo cuidava do futebol e outro cuidava do dinheiro.”

“A direção do futebol não tem sido feliz. Contrata muitos jogadores, a maioria sem qualidade. Porque tem pessoas que não entendem de futebol cuidando do departamento de futebol.”

“Não há razão (na atual disputa política). Todos são atleticanos e querem o melhor para o clube. Mas uns sabem administrar melhor.”

“O negócio é saber escolher os dirigentes de cada setor. No futebol tem que colocar ex-jogadores, treinadores, gente com experiência. E nas finanças, um economista, um administrador.”

“O clube é de futebol, tem que ganhar títulos. Se não a torcida protesta, ameaça invadir a sede… Daí surgem as crises e os salvadores da pátria. Mas a salvação do Atlético é sua torcida.”

“Essas fazes são passageiras. O clube não morre. Dirigentes entram e saem. Mas o nosso Atlético continua o melhor do mundo.”

Heriberto Ivan Machado
Historiador rubro-negro e co-autor do livro “Atlético, uma paixão eterna”

“Nunca houve uma disputa dentro desse espírito atual. Dos anos 1960 para cá, mesmo quando houve bate-chapa, os grupos sempre procuraram se conciliar.”

Valério Hoerner Júnior
Membro da Academia Paranaense de Letras, torcedor atleticano desde os anos 1940 e coautor do livro “Atlético, uma paixão eterna”

“É uma coisa que acontece de tempos em tempos. Ninguém precisa ficar apavorado. Logo essa crise passa. É preciso ter cuidado para não causar outros prejuízos, com uma queda para a segunda divisão.”

“Já era esperado que o Petraglia aparecesse. Ele é vivo o suficiente para captar o momento certo. Não sou “petraglista”, mas vejo que o Atlético saiu da mídia. Só aparece com notícia ruim. É preciso que o clube tenha uma boa imagem e isso o Petraglia sabe fazer.”

Waldemar Niclevicz
Alpinista, primeiro brasileiro a escalar o Everest

“É um dos piores momentos da história do clube. Não vemos nenhum fato positivo ligado ao Atlético nos últimos tempos, algo que nos dê alegria. Estou entristecido e gostaria que essa fase fosse superada logo.”

“Reconheço a importância tanto de Malucelli quanto de Petraglia. É uma situação desagradável e a gente fica sem saber a quem dar o apoio. A autoridade do Petraglia pode por a coisa em ordem e acabar com essa bagunça? Ou o Malucelli, com bom senso, pode achar uma solução? É difícil saber.”

“É preciso superar esses problemas, esquecer o lado pessoal, focar na reestruturação do time e na conclusão da Arena para a Copa do Mundo, que será importante para o Atlético, para o esporte e para toda a cidade.”

“Estou frustrado, triste… Torço todo dia para ver uma notícia boa, que nos ajude a sair dessa crise.”

Carneiro Neto
Jornalista, co-autor do livro “Atletiba, a paixão das multidões”

“A parte política é uma coisa, Copa do Mundo é outra. É evidente que se o time vai mal, tudo vai mal. Por mais que haja interesse em patrimônio e crescimento, futebol é resultados. Torcedor que ver o time ganhar.”

“Ano passado faltou ataque. Mas começou este ano e eram os mesmos atacantes. Aí então não tem solução. Diretoria contrata errado e tenta insistir pra mostrar que estava certa, com Guerrón, Nieto e outros que há anos não jogam nada. O Atlético não tem ataque.”

“Falta capacidade de organização do departamento de futebol, pois lá parece não ter gente que conheça de futebol.”

“O Atlético é um circulo vicioso. Não tem uma programação em médio prazo e em longo prazo. É tudo de imediatismo. Tudo na base do impulso. Veja essa dispensa do Antônio Lopes, da forma grosseira como foi, dispensado na madrugada por um funcionário. E essa dispensa do Geninho, depois de 83% de aproveitamento. Essas são as coisas que atrapalham.”

“O Atlético sempre foi um clube confuso. A vaidade dos dirigentes se sobrepõe a tudo. O clube sempre viveu de salvadores da pátria. No passado, Capitão Maneco Aranha, depois Jofre Cabral, Valmor Zimermann, Aníbal Cury, Mário Celso Petraglia. No primeiro momento existe o choque, mas na sequência, se não tiver base e organização, veja o que acontece.”

“O Atlético tem essa marca: time que ganhou poucos títulos, pois não consegue se organizar. Quando se organiza e faz bons times, eles logo são desfeitos. Em 68 fez o time e 69 já estava desfeito. Com o time do Washington e Assis, passou o ano e a primeira coisa que fizeram foi vender os dois. Quando foi campeão brasileiro em 2001, no final da temporada 2002 não tinha mais quase ninguém lá. Não tem critério, falta bom senso, sensibilidade.”

Alfredo Gottardi Júnior
Zagueiro atleticano nos anos 1970, filho do lendário goleiro Caju

“Não sabemos o que está acontecendo. Se contrata, contrata e não consegue montar um time. A pressão é cada vez maior e a diretoria fica perdida. Estão mudando demais o time, contratando muito treinador.”

“Nesse momento muitas pessoas se aproveitam e começam a fazer pressão. Se não fizer uma reunião entre todos os grupos que querem comandar o clube… Todos tem que se reunir para ajudar o Atlético.”

“Ano passado fizemos uma boa campanha, mas este ano o time se desfez de muitos jogadores, como o Neto e o Rhodolfo. A inexperiência da diretoria causou isso.”

“Em 1970 tivemos uma fase assim. No primeiro turno do estadual não ganhamos de ninguém, mas o time foi mantido, o treinador Alfredo Ramos foi mantido, teve tempo para acertar. No segundo turno deslanchamos e fomos campeões.”

Cristóvão Tezza
Professor e escritor, autor de obras como “O filho eterno”, “O fotógrafo” e “Um erro emocional”

“O campeonato vai muito longe, até dezembro, reviravoltas devem acontecer. Tem muito tempo pra recuperar. Mas parece que tem urucubaca nesse time. O padrão dos jogadores é superior aos resultados. Não é um time pra ter um ponto em sete jogos.”

“O momento chave foi a saída do Geninho, pois complicou o Atlético. Primeira chave (para sair da má fase) é um bom técnico. Não necessariamente alguém de nome, mas alguém que tenha sintonia com jogadores, entenda o time que tem, e tenha o estalo de colocar cada um no lugar certo. Foi o que ocorreu com o Carpegiani ano passado.”