Talentos tipo exportação

Apesar de alguns tropeços, como a eliminação precoce na Copa das Confederações, na segunda-feira, o Brasil continua sendo o país do futebol. Nenhum outro -nem mesmo o berço do futebol, a Inglaterra – consegue “fabricar” tantos talentos para a bola como o Brasil. No entanto, os problemas ecônomicos do País, que refletem naturalmente no futebol, fazem nossos grandes talentos acalentarem o sonho de jogar no exterior – que é ávido pelos talentos brasileiros. Não tanto pelo status. Mesmo brilhando na Europa, jogadores menos conhecidos podem ver a seleção brasileira cada vez mais distante, mas especialmente para receber maiores salários e ter o pagamento em dia. Alguns saem antes mesmo de se tornar profissionais, o que o coordenador das seleções de base, Branco, considera lamentável. “Não podemos perder nossos talentos”, diz.

No entanto, esse “sonho dourado” povoa a mente de atletas do Oiapoque ao Chuí.

E não é diferente no futebol paranaense. Quem não lembra das especulações em torno da possível venda de Kléberson para a Europa? O desejo do meia atleticano jogar fora após consagrar-se pentacampeão era tão grande que o atleta chegou a experimentar uma queda de rendimento. Afinal, ele foi um dos poucos pentacampeões que não conseguiram, ainda, alcançar o estrelato fora do país. Mesmo que envolvendo cifras bem menores que as especuladas em torno de Kléberson, para alguns dos nossos talentos, jogar fora do país tornou-se uma rentável realidade. Nos últimos anos, cerca de vinte jogadores que fizeram sucesso com a camisa de equipes da capital paranaense se transferiram para equipes dos exterior e colocaram o talento brasileiro à disposição pelos quatro cantos do mundo. Atualmente, um dos maiores receptores de paranaenses é o México. Hoje, estão lá a dupla artilheira Alex Mineiro e Kléber, os ex- coxas Flávio, Veiga e Marcelo Lipatin e Marcelo Tamandaré, revelado pelo Malutrom.

Europa

De férias, alguns “bichos do Paraná” vieram matar as saudades de Curitiba. É o caso do volante Mozart, que hoje defende o Reggina, da Itália. O goleiro Marcos, que deixou para trás dez anos de Paraná Clube em busca de novos horizontes, encontrou o sucesso no Marítimo,de Portugal, e também esteve em Curitiba para curtir as férias ao lado dos companheiros de equipe. No Marítimo também está o volante Paulo Sérgio, que brilhou no Coritiba em meados dos anos 90.

A lista de “europeus” é extensa e conta com jogadores que passaram por clubes de vários países. É o caso do meia Rodrigo Batata, que tem seus direitos federativos presos ao Malutrom e está prestes a voltar a Portugal, onde na última temporada defendeu a Portimonense, da segunda divisão. “Ficamos em quinto e não conseguimos o acesso. Ainda estou com a situação indefinida, mas seria interessante voltar”, diz com autoridade de quem já defendeu o Paris Saint Germain e o Yokohama Flugels. “Jogar fora do país tem dois lados. Financeiramente, é ótimo, pois os salários são pagos em moeda mais valorizada. Mas existe a saudade da família e o afastamento do mercado brasileiro. Quando se quer voltar, é complicado”, diz. Por isso, Batatinha não se acanha em declarar. “Se ganhasse o mesmo e tivesse as mesmas condições de trabalho no Brasil, ficaria aqui.”

O meia Paulo Miranda, que vestiu as camisas de Paraná e Atlético, defendeu Cruzeiro e Flamengo no primeiro semestre. Mas está ansioso para voltar para o Bordeaux, da França, que detém seus direitos federativos. Tanto que fez questão de manter um professor particular de francês enquanto estava no Brasil, para não perder a fluência. “Na Europa há outra cultura no futebol. O profissionalismo é maior, especialmente no aspecto financeiro”, diz. Apesar de reconhecer que sente falta do Brasil – especialmente da família – e que os olhos da seleção brasileira dificilmente alcançam os jogadores que não são consagrados no exterior, Paulinho aproveita ao máximo a chance que está tendo. “É um aprendizado em todos os aspectos. Uma experiência especial.”

No entanto, como a maioria dos conterrâneos, o objetivo é encerrar a carreira no Brasil e aplicar o dinheiro conquistado no país. Afinal, “o bom filho à casa torna”. Cedo ou tarde.

Expresso rumo ao Oriente

O México tem recebido muitos jogadores que já passaram pelo futebol paranaense, mas o Oriente ainda é supremo. Desde a explosão da febre do futebol em países como Japão e China, nos anos 80, a busca pela picardia dos talentos brasileiros é incessante.

O precursor Zico, hoje técnico da seleção japonesa, abriu um mercado financeiramente atraente, alicerçado no profissionalismo. Hoje, nem mesmo os brasileiros que estão lá sabem precisar quantos conterrâneos atuam nos gramdos japoneses. Só de “paranaenses”, há pelo menos seis: o atacante Márcio – ex-Paraná, no Kashiwa Reysol; o ex-atleticano Fabiano, no Kashima Antlers; os atacantes Kelly (Atlético) e Marquinhos (Coritiba), no Verdy Kawasaki e Magrão (ex-Coritiba) e Reginaldo Vital (ex-Paraná e Atlético), no Gamba Osaka. “É bastante gente, mas é difícil precisar. O mercado para brasileiros no Oriente está cada vez melhor”, diz Magrão, um dos grande ídolos do Coritiba em meados dos anos 90.

Magrão vive a sua segunda aventura japonesa. “Primeiro eu fui para o Verdy. Depois acabei aceitando voltar. A parte financeira pesa bastante, mas também contam pontos a regularidade dos calendários e a segurança nos estádios”, diz o atacante. Realista, Magrão reconhece que é muito difícil um jogador conquistar a independência financeira jogando apenas no Brasil, mesmo na região sudeste. “As diferenças e condições salariais são muito grandes. Se não fosse assim, grande parte certamente optaria por ficar no Brasil.”

Mesmo que esteja enchendo o cofre, Magrão não esconde a saudade do Brasil – e da torcida coxa-branca, mesmo que seu último clube no Brasil tenha sido o São Caetano. “Tenho saudade do carinho da torcida do Coritiba, com quem tive uma relação especial. Desde que saí surgem contatos e sondagens. Quem sabe um dia eu não volte?”, pergunta.

Além do Japão, a China também tem o mercado aberto para os brasileiros. No entanto, o regime do futebol chinês é mais complicado do que o do japonês, especialmente porque é usual um processo de testes antes das contratações. Alguns atletas de origem no futebol paranaense, como o atacante Calmon e o meia Tcheco, passaram maus bocados na China. Outros, como o ex- zagueiro coxa-branca Pícoli, estão sendo bem sucedidos. “No início foi complicado, mas por questões extra-futebol. A epidemia da pneumonia asiática apavorou a todos. Só agora, no dia 6, é que o campeonato volta ao normal”, diz Pícoli. O que não o fez desistir? “A carreira de jogador de futebol é curta e temos que garantir o futuro. Mas nada se compara a jogar no Brasil”, diz o beque.

Aliás, tanto no oriente quanto no ocidente, o sucesso no exterior é incerto. Se o jogador conseguir se adaptar, pode ser bem-sucedido. Mas se não conseguir ultrapassar as barreiras culturais, vale mais a pena ficar no Brasil, onde o futebol tem características únicas, que o tornaram conhecido em todo o mundo.

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