Despedida

Superações pontuaram a carreira de Ronaldo

A carreira do mais importante jogador de futebol de sua geração – ao lado do francês Zinedine Zidane -, não ficou apenas marcada pelos gols, títulos e prêmios que Ronaldo conquistou nestes quase 18 anos. O Fenômeno fez história também pelo número de vezes que deu a volta por cima. Agora, o atacante decide se aposentar exatamente quando encontrou uma adversidade que ele não poderia de forma alguma reverter: o efeito do tempo.

Desgastado pela longa carreira, pela perseguição dos zagueiros adversários e pelas inúmeras contusões – algumas delas de alta gravidade -, Ronaldo já sofria há algum tempo com os limites do seu corpo. Nos últimos anos, as dores no joelho direito passaram a ter a companhia do visível excesso de peso. Dentro de campo, contornou ambos enquanto deu.

Nos últimos jogos, só na expressão do rosto lembrava o jovem jogador que, aos 16 anos, foi o destaque do Brasil no Campeonato Sul-Americano Sub-17, no Paraguai. A seleção brasileira, porém, decepcionou na competição, não se classificou ao Mundial da categoria, e Ronaldo, formado no São Cristóvão, mas já jogador do Cruzeiro, teve que esperar um pouco mais para mostrar todo seu talento ao mundo.

CRUZEIRO – O bom desempenho com a camisa do Brasil credenciou Ronaldo a estrear pelo time de cima do Cruzeiro em 25 de maio de 1993, contra a Caldense, em Poços de Caldas, pelo Campeonato Mineiro. O primeiro gol, porém, só veio três meses depois, em um amistoso contra o Benelenses, em Portugal. No jogo seguinte da excursão cruzeirense por terras lusitanas, brilhou contra o Peñarol e se credenciou para, aos 16 anos, assumir a titularidade do time.

No Brasileirão daquele ano de 1993, o atacante fez 14 jogos e marcou 12 vezes. Foi o artilheiro do time e o terceiro maior goleador do torneio. Cinco dos gols foram sobre o Bahia, no primeiro grande espetáculo de Ronaldo. Ainda naquele ano, o atacante foi o artilheiro da Supercopa, marcando oito dos 12 gols do Cruzeiro no torneio. Com 17 anos recém-completados, recebeu, no final do ano, sua primeira convocação para a seleção brasileira. Também teve que dar a primeira grande volta por cima da carreira. Na decisão da Recopa Sul-Americana, contra o São Paulo, errou a sua cobrança de pênalti e viu o time paulista comemorar o título.

O jovem destaque do Cruzeiro começou 1994 em alta e foi campeão e artilheiro do Campeonato Mineiro, com 22 gols. Seguiu sendo lembrado por Parreira e fez, em 23 de março daquele ano, o seu primeiro jogo pela seleção, justamente contra a Argentina. Como existia um outro Ronaldo no time – o zagueiro do São Paulo -, o jovem passou a ser chamado de Ronaldinho, nome que vingou até o surgimento de mais um Ronaldinho, o Gaúcho, já em 1999.

PRIMEIRA COPA – Voltou a defender o Brasil em maio de 1994, contra a Islândia, partida em que marcou pela primeira vez com a camisa da seleção. Acabou sendo convocado para a primeira Copa do Mundo de sua carreira. Aos 17 anos, não chegou a entrar em campo nos Estados Unidos, mas participou do grupo tetracampeão do mundo.

PSV – Após a Copa, fez mais um amistoso com a camisa do Cruzeiro e partiu para jogar no PSV, da Holanda. Ali, também foi artilheiro e manteve a média de quase um gol por jogo. Atuou em 57 partidas oficiais e fez 54 gols. Foi o principal goleador do Campeonato Holandês de 1994-1995, mas acabou deixando a equipe ao final da temporada seguinte para defender o Barcelona. Na seleção, ele também seguia brilhando. Titular absoluto de Zagallo, marcou cinco gols na frustrante campanha que deu a medalha de bronze olímpica para o Brasil em Atlanta.

BARCELONA – Aos 19 anos, Ronaldo chegava ao Barcelona para repetir o sucesso de Romário, que também havia feito a ponte entre Eindhoven e a Catalunha. Nos 20 jogos que fez com a camisa azul-grená em 1996, marcou 17 gols. Com justiça, foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa aos 20 anos de idade. Não é à toa que recebeu o apelido de Fenômeno.

No Camp Nou, manteve a média de quase um gol por jogo. Balançou a rede 34 vezes em 37 jogos no Espanhol e virou ídolo da torcida quase que instantaneamente. Ao final da temporada, porém, a Inter de Milão pagou sua multa rescisória e Ronaldo partiu para a Itália.

INTER – Em Milão, seguiu o padrão. Fez 14 gols em 19 jogos e arrebatou mais um prêmio de melhor do mundo pela Fifa. Pela primeira vez, recebeu também a Bola de Ouro da revista France Football, ainda uma premiação independente à da entidade máxima do futebol. No clube, fechou a temporada 1997/1998 com o vice – e a artilharia – do Italiano e o título da Copa da Uefa.

Foi no período que passou na Inter, porém, que Ronaldo começou a ter problemas graves com seu corpo. A começar pela convulsão na véspera da final da Copa do Mundo da França, que o Brasil perdeu para os donos da casa – no torneio, ele marcou quatro gols e foi eleito o melhor jogador do Mundial. Terminou o ano com o segundo melhor do mundo na premiação da Fifa, atrás apenas do incontestável Zidane.

Depois, já em 1999, machucou o joelho em um jogo contra o Lecce e ficou cinco meses fora dos gramados. Na volta, aguentou 10 minutos contra a Lazio, viu seu joelho direito ceder e o tirar de combate por longos 15 meses. Desafiou previsões pessimistas e voltou a jogar em alto nível no primeiro semestre de 2002. Chegou ainda sob desconfianças à Coreia do Sul e ao Japão, bancado por Felipão, para a Copa do Mundo de 2002. Fez oito gols no torneio, acabou como artilheiro e pentacampeão.

REAL MADRID – Mal voltou da Copa e Ronaldo mais uma vez trocaria de clube. Insatisfeito com o tratamento recebido do técnico Héctor Cuper, o Fenômeno decidiu voltar à Espanha, agora para jogar no arquirrival do Barcelona, o Real Madrid. Deixou Milão apenas com um título de Copa da Uefa e com a ingratidão da torcida. Por conta das contusões, fez, nas três últimas temporadas na Inter, só 24 jogos oficiais e 10 gols.

Mais uma vez eleito melhor do mundo, agora em 2002, Ronaldo encontrou em Madri um elenco galáctico: Zidane, Beckham, Figo, Roberto Carlos, Raúl. A equipe montada por Florentino Pérez, porém, apesar do sucesso de marketing, não foi tão bem dentro de campo. Quando saiu do clube, na virada de 2006 para 2007, Ronaldo havia conquistado apenas um Mundial, dois títulos da Liga Espanhola e uma Supercopa da Espanha. Fez 177 jogos e 104 gols. Na lista de melhores do mundo, apareceu apenas em 2003, na terceira posição.

MILAN – Já convivendo com dificuldades em manter o peso, chegou ao Milan no meio da temporada e não pôde participar da campanha que deu ao time italiano o título da Liga dos Campeões em 2007 – ele já havia defendido o Real no torneio. Não apresentou o futebol que o colocou como melhor do mundo três vezes e, para piorar, sofreu grave lesão em fevereiro de 2008. Machucado e sem perspectivas de outra reviravolta na carreira, acabou não tendo seu contrato renovado.

CORINTHIANS – Desempregado, Ronaldo voltou ao Brasil, treinou e jurou amor ao Flamengo, mas fechou com o Corinthians, já no fim de 2008. Estreou contra o Itumbiara, na Copa do Brasil de 2009, mas só mostrou a que veio no jogo seguinte, quando entrou no meio da partida, marcou um gol e garantiu o empate por 1 a 1 no clássico contra o Palmeiras, em Presidente Prudente (SP). A torcida corintiana ficou ainda mais apaixonada.

O craque foi um dos principais jogadores da equipe corintiana que conquistou em 2009 os títulos paulista e da Copa do Brasil, classificando o time para tentar a inédita conquista da Copa Libertadores, justamente no ano do centenário alvinegro. Cada vez sofrendo mais com seu corpo, Ronaldo não conseguiu brilhar na competição e decepcionou quem apostou nele como o grande nome do Corinthians no ano que o clube fazia 100 anos. O atacante, já menos conhecido por Fenômeno e mais por apelidos que se referiam ao seu peso, não só pelos torcedores rivais, mas também por corintianos, fez 27 jogos em 2010 e apenas 12 gols – quatro de pênalti -, média muito baixa para seus padrões.

Ronaldo começou 2011 ainda mais acima do peso do que o de costume. Preparou-se para estar na melhor forma física possível nos dois jogos do Corinthians contra o Tolima pela fase classificatória da Copa Libertadores. Não foi bem em nenhum dos dois e decidiu se aposentar após apenas quatro jogos no ano, nenhum gol e nenhum brilho.

O FIM – Ronaldo marcou seu último gol como profissional no dia 13 de novembro de 2010, contra o Cruzeiro, time que o revelou, de pênalti. Com a bola rolando, o último algoz foi o time do seu coração: o Flamengo. Da seleção brasileira ele se despediu na melancólica eliminação frente à França, na Copa do Mundo de 2006. Seu último gol pelo Brasil foi nas oitavas de final daquele torneio, frente a Gana. Foi o 15.º gol dele em Mundiais, o que o fez se tornar o maior artilheiro da história do mais importante torneio do futebol mundial. Coisa de Fenômeno.