Opinião da Tribuna

Seremos sempre reféns da desorganização do futebol paranaense?

Getterson, o pivô da confusão. Foto: Aniele Nascimento

Foi preciso chegar as 13h30 desta sexta-feira (31) para termos a real certeza de que teríamos jogos no domingo (2). Não simples jogos, mas sim as quatro partidas que abrem as quartas de final do Campeonato Paranaense. Partidas que deveriam atrair as atenções das torcidas, que deveriam ser o assunto desde a última quarta-feira (29), que deveriam provocar filas de ingressos na Arena da Baixada, no Olímpico Regional, no estádio do Café e no Newton Agibert.

Mas Atlético, Coritiba, Paraná Clube, Cascavel, Cianorte, J. Malucelli, Londrina e Prudentópolis só puderam ter a certeza absoluta de que entrariam em campo há pouco mais de uma hora. Realizaram treinos na manhã desta sexta correndo o risco de terem que suspender todo o planejamento por conta de um possível adiamento da rodada. Tudo porque TJD-PR e STJD demoraram uma eternidade para resolver se o pedido de Toledo, Foz e Rio Branco de suspensão do campeonato até o julgamento do Caso Getterson seria aceito ou não.

O STJD ficou com o pedido na mão de terça até a noite de quinta (30), o TJD-PR até a tarde desta sexta. Ambos indeferiram o pedido. Uma demora desnecessária. E o presidente do STJD, Ronaldo Piacente, teve a pachorra de falar, em entrevista à rádio Banda B, em “celeridade” no processo. Ora, quer enganar quem? Ninguém queria ter a responsabilidade de tomar uma atitude, e no final das contas fez-se o menos doloroso, que era tocar a competição em frente.

Só que é, de longe, a atitude mais temerária. Sim, porque só pensem na confusão que vai dar se o J. Malucelli for considerado responsável pela escalação de Getterson de forma irregular nas três primeiras rodadas do Paranaense e perder 16 pontos. Ficaria com três, seria rebaixado e mudaria a vida dele e de outros nove times (só Paraná Clube e PSTC não seriam afetados). O Rio Branco teria o direito de entrar no mata-mata. E aí faz o que? O certo é começar tudo de novo. Mas já se comenta que isso talvez não aconteça, o Jotinha seria rebaixado e o Londrina automaticamente classificado para a semifinal.

Vamos a uma segunda hipótese. Por conta da “celeridade” – só que não – do STJD, o julgamento acontece depois das quartas de final, e o Caçula elimina o Londrina, enfrentando Atlético ou Paraná Clube. Aí vem o tribunal e pune o J. Malucelli. Vai classificar um time direto? O Londrina não tem direito? O Rio Branco não tem direito?

Não discuto o mérito da questão porque não tenho conhecimento pra isso. E, pra piorar, a Federação Paranaense de Futebol colabora pra complicar ainda mais a situação. Peço que leiam dois trechos do regulamento do Campeonato Paranaense: o artigo 15 e seu parágrafo terceiro:

Artigo 15: Terão condição de jogo no CAMPEONATO os atletas registrados em nome dos respectivos CLUBES disputantes e constantes do Boletim Informativo Diário-eletrônico (BID-e) da CBF, respeitados os prazos estabelecidos neste artigo.

§3º: Atletas em retorno de empréstimo podem participar com condições de jogo no CAMPEONATO, desde que não tenham atuado por outro CLUBE no mesmo CAMPEONATO, e desde que o processo de retorno seja efetivado no Boletim Informativo Diário-eletrônico (BID-e), até o último dia útil que anteceder a Nona Rodada do turno único da Primeira Fase.

Getterson voltou do Dallas FC e só apareceu no BID após a terceira rodada. Então, segundo o artigo 15, estaria irregular. Mas estava no BID antes da nona rodada. Então, segundo o parágrafo terceiro, estaria regular. Que campeonato é esse que tem dois trechos que se contradizem?

Não é à toa que o campeonato perde espaço. Não conseguimos escapar da desorganização que nos cerca. Pelo contrário, nos preocupamos com coisas menos importantes. A FPF não se preocupa com o Paranaense em si, mas com o que ele pode render. Os clubes não se unem de verdade, cada um se preocupa com o que lhe interessa – quando poderiam se fortalecer, se dividiram entre “grandes” e “pequenos”, e só se distanciaram mais.

O resultado disso? Uma competição mais desvalorizada, menos atraente para o torcedor, para o patrocinador e para a mídia. E, por enquanto, sem chance alguma de ser diferente, porque vamos continuar só olhando para os erros dos outros, em vez de pararmos pra pensar que somente com uma união real, em que clubes da capital e do interior briguem juntos, o Campeonato Paranaense será mais organizado e mais valorizado.