Sem experiência como treinador, Dunga assume seleção brasileira

Carlos Caetano Bledorn Verri é o novo técnico da seleção brasileira. Poucos conhecem o ex-jogador campeão mundial pelo seu nome completo, mas ninguém esquece da cena de Dunga, capitão do tetra, levantando a Taça Fifa no Rose Bowl, após a vitória nos pênaltis sobre a Itália. É esta imagem do Brasil vencedor que a CBF tenta recuperar ao contratá-lo para assumir o ?escrete canarinho?.

E com uma grande responsabilidade. Será o primeiro trabalho de Dunga como treinador, e logo no cargo mais importante do futebol mundial – para nós, brasileiros, só o presidente sofre mais pressão que o técnico da seleção. Dunga repetirá o feito de Paulo Roberto Falcão, que em 1991 estreou na profissão na CBF, mas fracassou e não emplacou dois anos no banco de reservas. A tática, portanto, é das mais arriscadas, apesar de ter dado relativamente certo na Alemanha, que teve o novato Jürgen Klinsmann na Copa do Mundo.

Mas a expectativa da direção da CBF é colocar alguém com ?carisma?, esta virtude de tão difícil compreensão, no comando da seleção brasileira. ?A escolha do Dunga vai atingir em cheio o anseio dos torcedores brasileiros que querem na seleção um treinador vibrante?, afirmou o presidente Ricardo Teixeira.

O cartola sabe que precisa ter um time mais aguerrido – a falta de vontade de alguns jogadores levou torcida e crítica ao desespero. ?Quero trazer para a seleção brasileira a mesma vontade que tive como jogador. Vibração, motivação e vontade de vencer são imprescindíveis para vestir a camisa da seleção brasileira?, disse o novo treinador do Brasil.

?Era Dunga?

Desde o início da carreira, no início dos anos 80, Dunga era capitão e líder dos times – até mesmo do Internacional dos ?medalhões? Mário Sérgio (hoje, seu grande desafeto) e Ruben Paz. Após o título mundial de juniores em 1983 e a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 84, Dunga foi para o Corinthians.

Depois, teve passagens rápidas por Santos e Vasco, e do Rio seguiu para a Itália no final de 1988. Jogou no Pisa, no Pescara e na Fiorentina. Em 1990, era uma das esperanças de Sebastião Lazaroni na Copa do Mundo. Fracassou com a seleção, virou piada e epíteto de uma geração que se imaginava perdedora – a ?Era Dunga?. Virou símbolo de mau futebol.

Quatro anos mais tarde, já no Stuttgart, tornou-se a referência da seleção de Carlos Alberto Parreira. Assumiu o posto de capitão com a saída de Raí, foi o principal passador do time e levantou a taça de campeão do mundo entoando desaforos para os críticos.

A ?Era Dunga? já podia ser considerada campeã. Ele ainda disputou mais um mundial, em 98, de novo como capitão e com ?amplos poderes? – quase bateu em Bebeto durante um jogo.

?Guardador de lugar?

O encerramento de carreira foi melancólico. Uma passagem pelo Japão, a volta ao Internacional (o qual tirou do rebaixamento, com um gol na última rodada do Brasileiro de 99), uma briga com Emerson Leão, um chapéu humilhante de Ronaldinho e a demissão sem justa causa em 2000.

Dunga passou a trabalhar em seu CT e em projetos comunitários. Nesta Copa, atuou como comentarista do canal pago Bandsports.

Agora, o capitão do tetra encara o maior desafio da vida: reestruturar a seleção brasileira e fazê-la voltar a ter o apoio popular. Caso consiga isto (a partir de 16 de agosto contra a Noruega), Dunga pode se consagrar. Caso contrário, ele deve ser apenas um ?guardador de lugar? para Luiz Felipe Scolari.

Jorginho e Autuori aprovam escolha

Rio – das agências – O tetracampeão Jorginho apoiou a decisão da CBF de optar por Dunga para ser o novo técnico da eleção brasileira.

O ex-treinador do América-RJ admitiu que vê com bons olhos um possível convite para integrar a comissão técnica, já que estas vagas estão em aberto.

?Pra mim, trabalhar com ele seria uma grande prazer, jogamos desde os juniores juntos, conhecemos um pouco da cabeça dos atletas e ficaria muito feliz se houvesse um convite. Mas não recebi ?nenhum convite ainda?, disse em entrevista à Rádio Globo.

Apesar de demonstrar total apoio ao ex-companheiro, o ex-lateral da seleção admitiu que a notícia o pegou de surpresa. Jorginho acredita que Dunga deverá ter algumas dificuldades, mas salientou que o amigo deverá superar todas elas.

?Para mim também foi uma grata surpresa. Nomes como Paulo Autuori e Luxemburgo eram mais cotados, mas estou feliz com a escolha do Dunga.

É claro que vai haver uma série de protestos por ele não ter experiência, mas já passou por muitos desafios, esse será mais um em sua extensa carreira?, encerrou.

Raça

Paulo Autuori, técnico do Kashima Antlers (Japão), disse que a raça do ex-volante poderá superar a falta de experiência na função. ?O Dunga sempre teve muitas dificuldades ao longo da carreira e conseguiu superar todas elas. Acho que desta vez não será diferente, ele é um vitorioso?, afirmou.

?Velho Lobo? não quer largar o osso

Rio ? AE – O coordenador técnico da seleção brasileira, Mário Jorge Lobo Zagallo (foto), esteve na tarde de ontem na sede da CBF, no Rio, para definir seu futuro. Mas não conseguiu resolver nada, já que o presidente da entidade, Ricardo Teixeira, ainda não estava por lá. Na saída, ele deu entrevista e avisou que deseja continuar no cargo, mesmo depois da saída do treinador Parreira.

O ?Velho Lobo? espera definir sua situação ainda esta semana. Foi Zagallo quem convenceu Parreira a voltar à seleção brasileira em 2003. Agora, depois da eliminação nas quartas-de-final da Copa do Mundo da Alemanha, o coordenador reconheceu que a saída do treinador foi uma ?decisão natural?. ?Quando se ganha, permanece. Se perde, sai?, admitiu.

Além de Zagallo, o presidente da CBF ainda não definiu a situação dos outros membros da comissão técnica da seleção brasileira.

Luxemburgo não comenta decisão

Santos ? AE – O técnico do Santos, Vanderlei Luxemburgo, que era o mais cotado para assumir a seleção brasileira, em substituição a Carlos Alberto Parreira, até a divulgação da escolha de Dunga, não foi localizado para comentar a decisão do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O seu assessor de imprensa, Luiz Lombardi, disse, por telefone, no começo da noite de ontem, que Luxemburgo não iria comentar o assunto, alegando que tudo o que ele tinha para falar sobre seleção brasileira disse na coletiva que deu à imprensa, na manhã de sábado, no CT Rei Pelé, e que ontem era o seu dia de folga.

Na coletiva de sábado, Luxemburgo afirmou que não havia sido procurado pela CBF e que se recebesse um convite, iria discutir o assunto no momento.

Também disse que se considera melhor preparado agora do que quando foi mandado embora, após o fracasso da seleção brasileira na Olimpíada de Sidney, quando deixou de levar três jogadores com idade superior a 23 anos. ?Depois daquilo, ganhei cinco títulos?, disse o técnico santista, referindo-se às conquistas da Copa do Brasil e dos campeonatos Mineiro e Brasileiro pelo Cruzeiro, em 2003, o Brasileiro de 2004 e o Paulista de 2006, pelo Santos.

Luxemburgo também se queixou de parte da imprensa, que dizia que sua escolha seria improvável devido aos processos que responde na Justiça.

África do Sul vem buscar Parreira

Johanesburgo ? AE – A Associação de Futebol da África do Sul confirmou ontem que enviará uma comitiva ao Brasil para tentar a contratação do técnico Parreira, que deixou o comando da seleção brasileira na última semana.

O presidente do Comitê Organizador da Copa da África do Sul de 2010, Danny Jordan, pode ser um dos integrantes da comitiva que partirá amanhã.

A intenção dos africanos é de que Parreira assuma o mais rápido possível o comando da seleção, para poder iniciar os preparativos para o próximo mundial.

Parreira havia declarado que seria uma honra dirigir a seleção sul-africana, já que o país seria o centro das atenções do próximo mundial por ser o organizador do evento.

A África do Sul está sem treinador desde fevereiro, quando Ted Dumitru foi demitido após a péssima campanha na Copa da Alemanha – foram três derrotas.

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