Seleção sub-23 é só mistério!

Pela primeira vez desde que assumiu o comando da seleção brasileira sub-23, o técnico Ricardo Gomes faz mistério sobre a escalação. Para o jogo de amanhã contra a Argentina, na primeira rodada do quadrangular final do Pré-Olímpico, sete jogadores disputam quatro vagas do meio-de-campo para a frente. Os únicos garantidos são Diego e Robinho. E na defesa está confirmada a entrada de Wendell no lugar de Maxwell. “Depois do treino (desta tarde) vou anunciar o time. Estou estudando a Argentina para decidir quem vai jogar.”

O treinador comemora o fato de ter muitas opções para armar o time. E dá um aviso: a equipe que começar jogando nesta quarta dificilmente será repetida na partida de sexta-feira contra o Chile (que teve seu horário alterado e será às 21 horas de Brasília) e a formação do segundo jogo também deverá mudar para o terceiro. “Com jogos decisivos a cada dois dias, vai ser preciso fazer um revezamento entre os jogadores para o time não cair tanto fisicamente, como aconteceu no jogo da primeira fase contra o Uruguai. E é maravilhoso saber que ganhei opções depois da partida contra a Colômbia. Todos os times serão muito exigidos e por isso é importante ter um grupo forte.”

Ricardo começou sua carreira de treinador na Europa, dirigindo o Paris Saint-Germain, e foi jogador do clube francês e do Benfica. Foi no futebol europeu que ele aprendeu a importância de fazer um rodízio entre os jogadores para manter o nível do time. “No Brasil as pessoas acham que o bom é definir um time no início da competição e seguir em frente com ele. Também acho isso ótimo, mas só se o calendário ajudar, se houver um bom intervalo entre um jogo e outro. Num torneio em que a tabela nos obriga a jogar a cada dois dias, é impraticável colocar o mesmo time sempre.”

Paulo Almeida, Elano, Fábio Rochemback, Dudu Cearense, Daniel Carvalho, Marcel e até Nilmar têm chance de jogar, segundo o treinador. E, pelo que disse na entrevista que deu ontem, no saguão do Hotel O’Higgins, é boa a chance de Dudu ser mantido e Rochemback ir para o banco. Ricardo Gomes não garantiu que o volante do Sporting voltará à equipe – cumpriu suspensão contra a Colômbia -, disse que sua atuação contra o Chile não foi muito boa e encheu a bola de Dudu. “Ele fez um excelente jogo domingo e é uma ótima opção.”

Outro que está bem cotado é Daniel Carvalho. O treinador elogiou muito sua atuação contra os colombianos, dizendo que foi sua melhor partida na competição. E deixou claro que se o aproveitar contra a Argentina, será para jogar aberto como jogou domingo e não como um segundo atacante. “Acho que o Daniel rende mais saindo de trás com a bola. Se colocá-lo lá na frente, vai facilitar para a marcação. A combinação dele com o Robinho é muito interessante e faz a diferença para o nosso time.”

O fato de pela primeira vez no torneio o Brasil ter pela frente um adversário que joga com três zagueiros também vai influir na maneira de Ricardo montar o time. “Vamos procurar uma fórmula para desorganizar esse sistema, fazendo os três centrais se afastarem.” E é bem possível que Tevez receba marcação individual. “Não é por acaso que ele foi eleito o melhor jogador da América. Não podemos dar espaço para ele e a marcação individual é uma boa opção.”

Madruga

A organização do Torneio Pré-Olímpico definiu os horários dos jogos do quadrangular final que dará duas vagas para Atenas. Assim, o Brasil estréia contra a Argentina, amanhã, a partir da meia-noite (horário de Brasília). Na preliminar, jogam Chile e Paraguai. O segundo jogo da seleção Sub-23 será contra o Chile, na sexta-feira, às 21 horas (de Brasília). E a última partida do torneio acontecerá no domingo, com o Paraguai, a partir das 18 horas (novamente no horário brasileiro).

Em paz, Bielsa estuda o Brasil

Os ares do Chile fizeram bem para o técnico argentino Marcelo Bielsa. Longe da pressão da imprensa – menos de 12 jornalistas foram cobrir o Pré-Olímpico – e da bronca dos torcedores, que ainda não o perdoaram pelo fracasso na Copa do Mundo de 2002, ele abriu um pouco a guarda e tornou-se menos rigoroso do que costuma ser.

A prova disso é que desde a chegada ao Chile, no último dia 4, todos os treinos foram abertos aos jornalistas – e em quase todos o público teve acesso. Em Buenos Aires, a imprensa não pôde ver nenhum treino no complexo esportivo da AFA (Associação de Futebol Argentina) em Ezeiza, ao lado do aeroporto internacional.

Ontem, a seleção trabalhou em dois períodos na Universidad Ibañez, em Valparaíso. Pela manhã, enquanto os jogadores faziam um treino físico sob as ordens do preparador Luís Bonini, Bielsa estava no hotel fazendo o que mais faz quando não está no campo: vendo vídeos dos adversários. Ele é obcecado por isso e é capaz de passar a noite em claro em busca de detalhes que possam ajudá-lo a conseguir a vitória. E, no final da tarde, dirigiu um treino tático no mesmo local. Tudo para enfrentar o Brasil amanhã, na abertura do quadrangular final do Pré-Olímpico.

Para ajudar nos treinamentos e também para dar experiência aos garotos, Bielsa trouxe a seleção Sub-17 para servir de “sparring” nos coletivos. São 18 jogadores que estão junto com o time Sub-23. Na Copa do Mundo, Bielsa levou a equipe Sub-20 para fazer esse papel.

As ruas que levam à entrada da Universidad são tão estreitas e sinuosas que o ônibus que conduz a delegação não consegue chegar até o portão. O motorista estaciona a uns 200 metros da entrada e os jogadores fazem a pé esse pequeno trecho – na chegada, é uma descida; para ir embora, é uma subida. Não há aquela segurança rigorosa para manter as pessoas longe dos jogadores, como costumava ocorrer com a equipe de Bielsa. Eles caminham cercados por fãs e são aplaudidos pelos moradores que observam a cena de suas janelas.

O elenco argentino tem sete jogadores do Boca (o goleiro Caballero, os laterais Jerez e Clemente Rodriguez, os zagueiros Burdisso e Calvo, o meia Cangele e o atacante Tevez) e cinco que estiveram no Mundial Sub-20 – Mascherano, Gonzalo Rodriguez, Leandro Fernandez, Ferreyra e Cangele.

O time para enfrentar o Brasil terá Caballero, Leandro Fernandez, Gonzalo Rodriguez e Burdisso; Mascherano, Medina, Lucho Gonzalez e Ferreyra; César Delgado, Tevez e Mariano Gonzalez.

Amuleto contra “los hermanos”

Se depender do retrospecto de Diego em jogos contra a Argentina, o Brasil tem tudo para começar o quadrangular final do Pré-Olímpico do Chile, amanhã, com uma vitória. O jogador do Santos enfrentou três vezes os argentinos com a camisa da seleção e ganhou as três. “Joguei pela Sub-16 num torneio na Itália, pela Sub-17 num Sul-Americano no Peru e pela Sub-21 no Torneio de Toulon. Dou sorte contra eles e espero manter essa escrita aqui no Pré-Olímpico.”

Com a camisa do Santos, ele perdeu os dois jogos para o Boca Juniors na final da Libertadores do ano passado. Mas deixa essa frustração de lado para falar sobre a partida de amanhã. “Foi uma tristeza muito grande deixar escapar um título que estava tão perto, mas isso ficou para trás e não tem jeito de mudar a história. Não penso no jogo daqui como uma revanche, porque não é o Santos que está jogando. A rivalidade entre brasileiros e argentinos vai existir sempre, porque são dois países de muita tradição e qualidade no futebol, mas é preciso separar as coisas.”

Diego teve de ver o jogo contra a Colômbia da tribuna do estádio Playa Ancha, no domingo, por ter recebido seu segundo cartão amarelo na partida contra o Chile. Logo depois daquela partida ele reclamou muito do árbitro argentino Cláudio Martín – que também lhe mostrou um cartão no jogo contra o Uruguai. Agora, depois de perder o sono com medo de um desastre que tirasse o Brasil do quadrangular e das declarações do presidente Ricardo Teixeira, de que os jogadores estavam reclamando muito do juiz, ele promete virar um santo.

“Daqui para a frente, me recuso a falar sobre arbitragem. Se acontecer algum problema em campo, vou engolir o desaforo quieto. Só quero saber de jogar o meu futebol e ajudar o Brasil a se classificar para a Olimpíada”, avisou Diego.

Em sua opinião, o susto que o time passou ao ter de jogar a repescagem serviu para ajudá-los a se concentrarem mais na competição e deixar as brincadeiras no hotel um pouco de lado. “Há males que vêm para bem. Ninguém esperava ter de jogar a repescagem, mas o grupo saiu mais forte dessa experiência. Estamos mais compenetrados. Não sei se chegamos a cometer excessos nas brincadeiras, mas a verdade é que agora estamos vivendo o clima de decisão, de termos três finais pela frente”, garantiu Diego.

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