Prost foi tirado da 1ª fila do caixão de Senna

Assessora de imprensa de Ayrton Senna quando de sua morte, em 1994, Betise Assumpção, hoje casada com Patrick Head, projetista da Williams em que o piloto faleceu, revelou, no seu blog, mais um fato até então desconhecido relacionado à morte do ídolo brasileiro. De acordo com ela, o francês Alain Prost teve que ser retirado, por ela, da linha de frente dos carregadores/puxadores do caixão de seu maior rival.

Por intervenção dela, conta Betise, Gerhard Berger, “o melhor amigo de Ayrton na F1”, e Emerson Fittipaldi, outro brasileiro campeão mundial, foram os escolhidos para puxar a fila dos carregadores.

No dia em que a morte de Senna completou 20 anos, Betise contou, também em seu blog, que precisou mentir para a família do ex-piloto, por cerca de cinco horas, mantendo a esperanças de que ele pudesse sobreviver. O chefão da F1, Bernie Ecclestone, porém, já havia afirmado a ela e a Leonardo Senna, irmão de Ayrton, que o ídolo brasileiro morreu na pista de Ímola.

CONFIRA O RELATO DE BETISE:

“A maioria de nós – amigos, familiares, convidados internacionais – fomos de helicóptero da Assembleia Legislativa (de São Paulo), onde o corpo tinha sido velado, para o cemitério (do Morumbi). Eu tinha ajudado a direcionar os convidados aos seus voos e tive de fazer alguns malabarismos para acomodar os mais variados pedidos; inclusive de pessoas que se recusaram a andar no mesmo helicóptero com este piloto ou aquele chefe de equipe.

Depois de fazer o trajeto, ladeado por centenas de milhares de pessoas, o carro de bombeiros carregando o corpo do Ayrton chegou ao cemitério. Gerhard Berger, o melhor amigo de Ayrton na F1, veio correndo para mim, indignado. ‘Betise, você tem de fazer alguma coisa. Fulano/a me disse que Alain (Prost) e Jackie (Stewart) serão os homens de frente carregando o caixão! Aparentemente, é por ordem de quem ganhou mais títulos Mundiais! Você tem que mudar isso. Eles são as duas pessoas que o Ayrton mais odiava, que mais complicaram a vida dele.’ Ele estava horrorizado e, francamente, eu também. Meu estômago começou a doer.

Eu me virei rapidamente e fui para a porta do cemitério. No caminho, topei com o Geraldo Rodrigues, manager do Rubinho (Barrichello) e um amigo querido. Ele perguntou onde eu ia com tanta pressa. ‘Gê, você não vai acreditar. Eles querem colocar o Jackie Stewart e o Alain Prost bem na frente carregando o caixão. Ayrton deve estar se revirando no caixão. Preciso mudar isso’, expliquei e saí correndo.

Depois de falar com o chefe do Corpo de Bombeiros , descobri que ninguém iria carregar o caixão. ‘Como ele foi selado com material extra para a viagem, o caixão é extremamente pesado e, portanto, não é seguro que ele seja carregado nos ombros’, me disse .’Ele será colocado em um carrinho e empurrado para o local onde será enterrado.’

Eu ainda tinha o problema da distribuição de posições. Não havia nenhuma dúvida em minha mente que Gerhard tinha de estar bem na frente, pole position absoluta. Ele tinha participado da maioria dos bons momentos do Ayrton dentro e fora das pistas. Se o critério era Campeonato Mundial, então eu colocaria Emerson Fittipaldi do outro lado .

Atrás de Emerson, um piloto estrangeiro; atrás de Gerhard, um brasileiro. (O francês Thierry) Boutsen tinha sido também um bom amigo de Ayrton. Então eu o coloquei atrás do Rubinho, que estava atrás de Gerhard. Prost veio depois de Emerson…

Lembro-me de correr para a entrada do cemitério para tirar o Damon Hill da van que transportava o grupo da Williams . Frank estava branco e surpreendeu-se quando abri a porta e perguntei ao Damon. ‘Desculpa ser tão abrupta, mas a família gostaria que você, Damon, carregasse o caixão’, menti.

Não tive tempo de consultar a família. Em minha mente, eu queria fazer o que acreditava deixaria o Ayrton satisfeito. Ele gostava do Damon. Eu gostava Damon. Mas o piloto inglês estava sem graça, achou que seria um pouco inconveniente. Ele mal conhecia o Ayrton, tinham se passado apenas três corridas! Eu achei que era importante ter seu companheiro de equipe lá.

Depois disso, eu voltei até onde estavam reunidos os pilotos, fingindo que não sabia de nada sobre os arranjos anteriores e expliquei-lhes que o caixão era muito pesado, não seria carregado, mas puxado, e sentenciei: ‘Gerhard, o melhor amigo de Ayrton no automobilismo, ficará na frente, no lado oposto o nosso piloto brasileiro mais condecorado, Emerson; atrás deles, vamos alternar um estrangeiro e um brasileiro e assim por diante…’.

Eu acho que o Ayrton ficaria feliz de me ver tomando suas dores, ajudando seus amigos e tomando decisões sem titubear. Ele era assim.”

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