Poucos gols, mas não faltou emoção na Copa

São Paulo – A história da Copa do Mundo da Alemanha pode ser resgatada por meio de episódios inusitados e marcantes ocorridos no dia-a-dia da competição.

Da primeira rodada, ficou na memória a desventura do paraguaio Gamarra, que subiu para cortar um lançamento na área de Beckham e mandou a bola contra a própria rede: Inglaterra 1 x 0 Paraguai.

Serviu como indício de que a Copa estaria mais para os zagueiros do que para os atacantes. No final, foram marcados 147 gols nos 64 jogos disputados – média de 2,296 por partida, a segunda pior da história (supera apenas a da Copa de 1990, na Itália, quando houve 115 gols em 52 confrontos, média de 2,21).

Agora é fácil falar, tudo bem, mas a verdade é que ninguém podia imaginar isso quando, na segunda rodada, choveram gols sobre Sérvia e Montenegro.

A Argentina fez meia dúzia, na maior goleada do mundial. Teve gol de todo jeito, inclusive aquele em que os argentinos trocaram bola por 55 segundos até Cambiasso mandar para a rede. E logo Sérvia e Montenegro, que chegou à Copa com a fama de ter a melhor defesa da Europa – sofrera 1 gol em dez jogos pelas Eliminatórias – e saiu como a mais vazada – levou 10 em três -, no 32.º e último lugar e, de quebra, como seleção extinta (no decorrer do torneio, o país foi dissolvido).

Papelão

A de Togo foi outra seleção a fazer papelão memorável. Antes de entrar em campo, os jogadores já estavam em pé de guerra para definir os prêmios em caso de vitória e empate. Nisso, o técnico do time, o alemão Otto Pfister, fugiu da concentração. Acabou voltando às vésperas da estréia. Nada adiantou brigar ou fugir: Togo foi saco de pancadas e ainda ressuscitou a França, olha só, que até a última rodada da primeira fase continuava sem vencer desde a final contra o Brasil, em 1998. Viram no que deu?

Foi também no fim da primeira fase que Ronaldo, até então ?gordo?, desencantou, fez dois gols e virou ?fofinho?. Nessa mesma rodada, a Itália despachou com autoridade a temida República Tcheca de Nedved. E o juiz inglês Graham Poll protagonizou a patacoada de dar três cartões amarelos para o mesmo jogador da Croácia.

Oitavas

Cinco fatos marcaram as oitavas-de-final: 1) Ronaldo superou o recorde histórico de artilharia em mundiais ao pedalar para fazer seu 15.º gol em Copas, na vitória do Brasil sobre Gana; 2) a Suíça conseguiu ser eliminada invicta e sem sofrer gol – e foi incapaz de converter um único pênalti na disputa contra a Ucrânia; 3) Portugal e Holanda deram um show de vale-tudo e bateram o recorde de advertências num jogo de Copa, com 12 cartões amarelos e quatro vermelhos; 4) a Itália ganhou um pênalti nos acréscimos do confronto diante da Austrália; 5) a imprensa espanhola quis antecipar a aposentadoria de Zidane, mas foi a França quem mandou a Espanha mais cedo para casa.

Quartas

E eis que as quartas-de-final aclamaram a participação da seleção brasileira na Copa: muita badalação para pouco futebol. Cercado de um favoritismo sem igual, o time de Carlos Alberto Parreira, Ronaldinho Gaúcho e cia. disse adeus à competição de forma melancólica. De mais bonito, o que os astros brasileiros ganharam foi a aula de futebol lecionada por Zidane, que lhes ofereceu dois chapéus – um a Ronaldo e outro a Gilberto Silva – e uma série de dribles e fintas desconcertantes. Ainda nessa ocasião, Lúcio estabeleceu novo recorde do jogo limpo entre os zagueiros, ao completar 385 minutos sem cometer falta.

E foi também nas quartas-de-final que o técnico Jürgen Klinsmann conclamou a Alemanha a ganhar sua primeira Copa, ao lembrar que as conquistas anteriores (54, 74 e 90) foram obtidas ainda como Alemanha Ocidental.

A torcida alemã, já empolgada por uma excelente campanha, delirou ao ver sua seleção eliminar a Argentina nos pênaltis. O embate terminou em troca de insultos e sopapos, mas o incidente fez parte de uma bela batalha entre ótimas equipes.

Semifinais

Definidas as quatro melhores seleções do mundial, as semifinais deixaram frente a frente Alemanha x Itália e França x Portugal. No primeiro jogo, os italianos mantiveram a escrita de nunca perder para os alemães em Copas. Fizeram 2 a 0 nos minutos finais da prorrogação e garantiram vaga na decisão. Já o embate entre França e Portugal encerrou o ciclo vitorioso do técnico Luiz Felipe Scolari, que cumpriu 12 jogos invicto em mundiais, com 11 vitórias consecutivas e um empate.

Decisão

Na finalíssima entre Itália e França, mais uma vez as defesas se sobrepuseram aos ataques. Zidane fez o gol francês e se tornou o quarto jogador na história a marcar em duas finais. Mas acabou expulso, após uma cabeçada no zagueiro Materazzi, autor do gol de empate da Itália no tempo normal. Nos pênaltis, deu a Itália de Gianluigi Buffon, goleiro que obteve a segunda melhor média de invencibilidade em Copas ao cumprir 460 minutos sem tomar gol.

?Festival de besteiras? do mundial

Berlim – A Copa da Alemanha, que terminou ontem com o tetracampeonato da seleção italiana, foi repleta de ?gafes? e comentários ?impensados? por parte de jogadores e membros de todos os países. Muitas dessas declarações provocaram risos, assim como boa parte delas irritou alguns atletas e dirigentes.

Confira as ?grandes frases? do mundial 2006:

– ?Sem dúvida, Ronaldinho é um jogador maior do que eu. Mas só por quatro centímetros?, contou Pelé, fazendo uma comparação com o meia do Brasil.

– ?Os goleiros não gostam da bola. Eles queriam que ela fosse pesada e em forma de cubo?, comentou o técnico dos Estados Unidos, Bruce Arena.

– ?Já tirei o David Beckham do time no passado. Não estou casado com ele, ainda que vocês pensem o contrário. Aliás, também não estamos noivos?, revelou o técnico da Inglaterra, Sven-Goran Eriksson.

– ?Alguns jornais alemães nos criticaram. Mas, eles ofenderam principalmente os nossos pais, quando falaram de espaguete e da máfia para nos descrever. Tomara que as mulheres deles conheçam os italianos?, contou o volante italiano Gennaro Gatusso, após as críticas sobre a seleção italiana.

– ?Faz 15 anos que eu não mostro vídeos aos meus atletas. Eles dormem ou abrem a boca de sono?, revelou o técnico da Espanha, Luis Aragonés, após ser questionado sobre a possibilidade de mostrar fitas com os jogos da Arábia Saudita aos seus jogadores.

– ?Simplesmente não gostamos como os alemães celebraram a vitória sobre a gente. Saltando por todos os cantos do estádio?, explicou o atacante argentino Hernán Crespo, após seus companheiros de equipe se envolverem numa ?briga? com alguns alemães. A Argentina foi eliminada nos pênaltis por 4 a 2, depois de empatar o jogo contra a Alemanha por 1 a 1.

– ?Os brasileiros praticam futebol desde que nasceram. Eles jogam futebol durante todo o dia. Mas, os franceses não faziam isso. Estudávamos oito horas por dia e quando perguntávamos para nossas mamães se elas deixariam a gente jogar bola, a resposta era só uma: não?, do francês Thierry Henry, antes do jogo contra o Brasil.

– ?O futebol é raro. Costa do Marfim, Gana, Holanda e Espanha jogaram muito bem. E onde estão? Todos em casa, eliminados. Não consigo entender isso?, disse o técnico da Inglaterra, Sven-Goran Eriksson.

– ?Quando quero!?, enfatizou o italiano Fabio Cannavaro, ao ser questionado sobre relações sexuais durante a Copa do Mundo.

– ?Edema na parte superior do músculo reto anterior ao músculo direito, sem rupturas das fibras?, esse foi o comunicado médico divulgado pela CBF sobre a lesão de Robinho.

– ?Não sei o que (os médicos) quiseram dizer. Meus pais acompanharam pela televisão e ficaram assustados?, comentou Robinho, explicando a reação dos seus pais após ficarem sabendo de sua lesão.

– ?Vale mais jogadores velhos que correm em campo do que jovens que dormem?, comentou o técnico da França, Raymond Domenech, após a vitória sobre a Espanha pelas oitavas da Copa.

– ?É um grande atleta. Atuou na Itália por muito tempo. Por essa razão, sabemos que é um bom ator. Se atira muito no gramado e exagera nas faltas?, explicou o meia italiano Andrea Pirlo, sobre o jogador Pavel Nedved, da República Tcheca.

– ?Os técnicos deveriam ter mais conhecimento. Eles deveriam saber como jogam os adversários antes do início dos jogos?, foi o comentário do presidente da Fifa, Joseph Blatter, sobre a capacidade dos treinadores do mundial.

– ?O melhor jogador da Copa será Ronaldinho. Depois Ronaldo. O terceiro será Kaká, seguido por Cafu e os outros brasileiros?, previu Roberto Carlos, antes do início do mundial.

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