Parreira diz que seleção tem que jogar no limite e que é proibido errar

Frankfurt – Parreira gosta de frases definitivas, daquelas concisas, que resumam o que pensa e que causem efeito. Pois encontrou uma que considera adequada para exprimir o que espera do Brasil no duelo com a França. Para o treinador tetracampeão do mundo, hoje tem de ser um dia de ?eficiência máxima e erro zero?. Só assim, será possível manter vivo o sonho de bordar a sexta estrelinha sobre o escudo da CBF.

?A Copa entrou em um estágio, desde as oitavas-de-final, em que não se pode falhar?, repetiu ontem, na abafada sala de entrevistas do moderno Frankfurt Stadium. ?Ninguém tem mais chance de recuperar-se, como na primeira fase.?

Para dar ênfase ao que espera, apelou para o inglês, língua com a qual tem convivência cordial. ?I have a dream – eu tenho um sonho?, disse. ?Esse sonho é o de ser campeão do mundo.?

A permanência desse dream passa por despachar os franceses para Paris e acabar com a sensação de se sentirem superiores desde os ?um, dois, três? de 98. Tarefa que Parreira, como mandam as normas do bom-senso, não considera das mais agradáveis.

Jogo de xadrez O técnico enche a bola dos rivais, chama a atenção para suas qualidades e dá a receita que considera indicada para evitar que seu transatlântico vá a pique. ?A França evoluiu na hora certa?, ponderou. ?Começou com dois empates, ganhou de Togo e fez sua melhor apresentação contra a Espanha?, recordou. ?É um time experiente, que tem calma, que sabe lidar com a bola e que ilude?, detectou. ?Aparentemente, tem jogo lento?, disse, para emendar. ?Mas, quando menos se espera, arma contra-ataques bem explorados por Ribéry e pelo Henry.?

A saída, em sua avaliação, é comportar-se como exímio jogador de xadrez. Ou seja: analisar os movimentos do adversário para só então arquitetar sua seqüência de golpes. Trocando em miúdos, isso significa que o Brasil não pode ter pressa, deve banir a afobação e ficar bem atento à música, para não dançar no ritmo errado. ?A experiência de nossos atletas contará?, previu, assim como a experiência da comissão. ?É preciso fazer as escolhas certas?, frisou.

?De qualquer forma, temos de jogar no limite máximo de nossa capacidade. Contra a França, não pode ser diferente.?

Franceses à meia-boca

Carolina Leal

Os franceses que vivem em Curitiba parecem não estar muito animados para uma festa de comemoração hoje. Apesar da capital paranaense contar com 490 famílias francesas vivendo aqui, não há nenhuma grande confraternização programada para o momento do jogo.

Além disso, muitos já vestiram a camisa amarela e estarão torcendo pelo Brasil hoje à tarde.

Eric Gozlan, francês que veio para cá no fim de 1998, é um dos entusiastas da nossa seleção. Acompanhou a Copa daquele ano ainda na França e torceu pelo seu país. Hoje, afirma que a história é diferente. ?Estou afastado da França há muito tempo para poder torcer por eles. Dessa vez, vou torcer de novo pelo vencedor, que será o Brasil.?

Receoso de assistir ao jogo em um bar e reconhecerem seu sotaque, Gozlan prefere ver a partida em casa, com amigos brasileiros. ?Todos me ligaram dizendo: Vamos assistir ao jogo juntos, faço questão?. O francês, que acredita que a seleção brasileira é tecnicamente superior à francesa, arrisca um palpite: 2 a 1 para o Brasil, de virada.

Já a professora de francês Pascale Rose Ribeiro, a Calu, está no Brasil há dez anos e diz que, ?como todas as francesas?, não é muito chegada em futebol. ?Mas em época de Copa do Mundo, chega um ponto em que todos têm um pouco de interesse.?

Casada com um brasileiro, Calu afirma que vai se sentir um pouco mal caso o Brasil perca, mas no fundo está torcendo pela França. O resultado? 2 a 1 pra seleção francesa, segundo ela. O duro vai ser lidar com a torcida brasileira dentro da própria casa. ?Minha filha chamou os amigos para se reunirem aqui em casa, todos torcendo pelo Brasil. Vou ficar quietinha, mas irei comemorar se a França fizer um gol?.

No entanto, não são todos que já estão com torcida definida. Cristina Busato, colega de profissão de Calu, nasceu em Curitiba, mas viveu 24 anos na França e está no Brasil há apenas dois. Ela afirma que sente carinho pelas duas seleções e que terá sentimentos diferentes dependendo de quem vencer.

Zidane não terá marcação especial

Frankfurt – Se não imagina um jogo corrido, Parreira nem de longe acredita em espetáculo ruim.

A qualidade dos protagonistas não permite que a bola leve surra, hoje em Frankfurt.

?Brasil, França e Argentina são as seleções que, seguramente, têm os jogadores mais técnicos?, afirmou, com a autoridade de quem já teve sob seu comando craques consagrados, como os brasileiros, ou aprendizes da bola, como em suas passagens por Kuwait, Emirados Árabes, Arábia Saudita. ?São equipes que têm atletas que, em uma jogada individual, podem decidir partidas.?

Na visão prática que tem do mundo do futebol, Parreira reconhece que craque merece respeito, mas não marcação especial. Isso significa que Zidane não será seguido por um cão de guarda, como é comum entre os europeus. ?Não me lembro na história da seleção de algum adversário que tenha merecido esse tipo de marcação?, comentou. ?Nem Maradona, no auge, mereceu atenção especial.? Sinal de menosprezo por Zidane? De forma alguma, rebate Parreira. Apenas não considera eficiente perder um jogador para se transformar na sombra de um craque.

Astro, aliás, que põe entre os melhores da última década, ao lado de Ronaldo. Com a ressalva de que têm estilos e funções distintas. ?O Zidane é genial na armação, na criação, mas está a ponto de encerrar carreira?, notou. ?O Ronaldo

é finalizador, tem 29 anos e, se tiver motivação, pode jogar até mais uma Copa do Mundo.?

Parreira torce para que o Fenômeno esteja em 2010 na África do Sul. Para brigar pelo heptacampeonato. Como sonhar não custa nada…

Ronaldinho é supersticioso

Lisboa – Em entrevista publicada ontem pelo jornal português Record, o meia Ronaldinho Gaúcho admite que é supersticioso. Para este mundial, sua ?mania? é ser sempre o último a deixar o ônibus que conduz a delegação aos jogos. ?É um pouquinho de superstição, sim. Não vou mentir. Como está dando certo, e a gente tem ganho todos os jogos, eu vou continuando com a superstição?.

Com as quatro vitórias nas quatro primeiras partidas da Copa, agora a ?superstição? até já se tornou coletiva. ?A gente agora não quer mudar. Os outros jogadores são supersticiosos também e já nem me deixam sair antes deles. Então, a situação vai se repetindo?, assegura o jogador do Barcelona.

Outra mania de todo o grupo é a música a toda a hora. Quando o ônibus chega ou parte, de treino ou jogo, há sempre muita agitação no interior, em clara repetição do espírito de 2002. Naquela ocasião, ouvia-se e tocava-se Zeca Pagodinho, com o tema ?Deixa a vida me levar?. Agora, o músico carioca voltou a ser o escolhido. ?Mudamos de canção mas nos mantemos fiéis ao Zeca. Cantamos o ?Patota de Cosme?, conta Ronaldinho.

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