Paraná tem que se cuidar pra não ser esquecido

O Paraná Clube vive o pior momento de sua história, tendo que experimentar o amargo sabor da Segundona Paranaense. Numa encruzilhada, busca encontrar o melhor caminho para não se transformar em mais um time de tradição do futebol brasileiro que caiu no obscurantismo. Guarani, Santa Cruz, Juventude, Paysandu, América-RJ são alguns exemplos dos efeitos danosos que administrações e escolhas equivocadas podem provocar na vida de uma agremição.

Na teoria, a falta de dinheiro sempre surge como o maior vilão da história. A transformação do futebol brasileiro, após a criação do Clube dos 13, fez com que simples entretenimento virasse um grande negócio. E como em tantos outros ramos, há bons e maus “comerciantes”. Quem não soube se adaptar a essa realidade ficou pelo meio do caminho. Na prática, muitos clubes deram as costas para suas categorias de base, deixaram de produzir seu melhor produto de venda e, por conta desse erro estratégico, estão onde estão.

O Guarani, que em abril completa 101 anos, foi campeão brasileiro de 1978. Tinha um ataque sensacional, formado por Capitão, Careca e Bozó. Esta, porém, não foi a única conquista do time bugrino. Em 1986 e em 1987 foi vice campeão nacional -em 1987, por conta da Copa União, é verdade – e disputou por três vezes a Libertadores da América. Entre 1992 e 2004, esteve sempre na Primeira Divisão nacional. Porém, desde então, tem convivido com um incômodo efeito gangorra. Já visitou a Série C e até mesmo no Paulista foi rebaixado duas vezes.

Outros clubes tradicionais, como América-RJ e Bangu, praticamente “desapareceram”. Clube do ex-presidente da CBF, Giulite Coutinho, o América era “figurinha carimbada” nos campeonatos nacionais entre as década de 1970 e 1980. Porém, sua derrocada teve início com a criação da Copa União. Em 1987, desistiu de participar do Módulo Amarelo da competição. Retornou no ano seguinte, mas aí, enfraquecido, caiu no campo. Desde então, segue uma trajetória ladeira abaixo. Na temporada 2011, foi rebaixado pela segunda vez no Carioca e o desempenho gerou o afastamento de seu presidente.

E o Bangu, vice brasileiro em 1985? O time do falecido bicheiro Castor de Andrade também traz no currículo uma Libertadores. Hoje, caminha com dificuldades no Carioca e está fora dos torneios nacionais. Em 2009, chegou a garantir vaga na recém criada Série D, mas abriu mão por dificuldades financeiras.

Juventude e Santa Cruz

No Sul, outro clube tradicional também não consegue se desvencilhar da Quarta Divisão. O Juventude viveu sua “era de ouro” nos anos 1990. Numa parceria com a Parmalat, saiu do anonimato, chegou à Série A, onde fez boas campanhas, e em 1999 conquistou a Copa do Brasil e a vaga na Libertadores do ano seguinte.

Assim como tantos outros, o Juventude não soube administrar o sucesso. Em 2007, cairia para a Série B; em 2009, para a C, e no ano seguinte seria rebaixado para a Série D. Em meio a tudo isso, quase caiu também no Gauchão. Na temporada passada, foi bem no Estadual, mas fracassou na luta pela volta à Terceirona. Na reta final da temporada, conquistou a Taça FGF e, assim, já tem vaga assegurada na Série D de 2012. Uma divisão que campeões de público, como Paysandu e Santa Cruz, conhecem muito bem.

O Papão da Curuzu, em 2003, surpreendeu a todos disputando uma inédita Libertadores. Um dos melhores times da primeira fase, com Iarley, Vélber e Robgol, o Paysandu só parou no Boca Juniors. Isso após vencer os argentinos em plena “La Bombonera”, por 1 x 0. Dois anos depois, o clube era rebaixado para a Série B e no ano seguinte para a C, aonde vegeta até hoje. O Santa Cruz, em 2012, retorna à Terceirona nacional após três temporadas seguidas relegado à Série D. Maior tor,cida do Nordeste, o clube pernambucano conseguiu, mesmo na Quarta Divisão, ter a maior média de público do Brasil: 38 mil pagantes por jogo, em 2009.

São exemplos de clubes que já foram do céu ao inferno quase num piscar de olhos e que tentam, ainda no purgatório, recuperar o status que tiveram um dia no futebol brasileiro. O Paraná, em 2012, terá de exorcizar esses mesmos fantasmas. A aposta está no planejamento. “Precisamos disso para que a gente consiga não apenas subir, mas criar uma base sólida. Só isso nos permitirá permanecer com tranquilidade na Série A”, diz o presidente Rubens Bohlen.