Paraná fecha temporada especial com a vaga na Libertadores

O Paraná Clube viveu ontem seu momento mais grandioso em competições nacionais. Com a providencial mãozinha do Figueirense, que segurou o Vasco em Florianópolis, o Tricolor terminou o Brasileirão em quinto lugar após o empate sem gols com o São Paulo, na Vila Capanema. Como prêmio pela histórica campanha, vai disputar a Copa Libertadores pela primeira vez em 2007.

A conquista foi comemorada como um título. E merecidamente, pois o Tricolor superou a desconfiança da mídia nacional (freqüentemente era apontado como candidato ao rebaixamento), o pequeno orçamento, erros constantes de arbitragem e alguns momentos de irregularidade para alcançar a vaga na maior competição interclubes do continente. Coroou assim um ano perfeito, que teve ainda a reconquistado Campeonato Paranaense depois de nove temporadase o esperado retorno à Vila Capanema.

Os minutos finais da rodada foram de angústia para o torcedor paranista, que se dividia entre a partida na Vila e as notícias vindas de Florianópolis – se o Vasco ganhasse do Figueirense, o Paraná também teria que vencer para assegurar a vaga.

No apagar das luzes os cariocas meteram um bola no travessão, quase colocando tudo por água abaixo. A apreensão era refletida pelo silêncio na Vila superlotada, só quebrado quando o jogo do Orlando Scarpelli terminou em 0 x 0.

A torcida finalmente pôde explodir: a classificação para a Libertadores estava garantida.

A partida da Vila, que já não importava mais, acabou instantes depois.

Já sabendo do resultado em Santa Catarina, jogadores, comissão técnica, diretores e alguns torcedores quase foram à loucura dentro do gramado. Caio Júnior pulou as placas de publicidade e jogou a camisa para as arquibancadas na reta do relógio. José Carlos de Miranda ofereceu a conquista à galera e teve o nome gritado por ela. ?São momentos como este que justificam nossa existência. É muito bom ser tricolor, é muito bom ser paranaense, ser campeão paranaense, e pela primeira vez chegar à Copa Libertadores?, vibrou o presidente, entre lágrimas e soluços. Os jogadores deram a volta olímpica no gramado, enquanto o público cantavao hino tricolor. Festa com emoção proporcional ao salto histórico dado pelo clube.

CAMPEONATO BRASILEIRO
Última rodada
Local: Durival Britto (Vila Capanema)
Árbitro: Alício Pena Júnior (FIFA-MG)
Assistentes: Marco Antônio Gomes (FIFA-MG) e Guilherme Dias Camilo (MG)
Cartões amarelos: Beto e Leonardo (P), Alex Silva e Ramalho (SP)
Cartão vermelho: Rodrigo Fabri (8-2º)
Público: 16.172 (total)
Renda: R$ 240.030,00

PARANÁ CLUBE 0x0 SÃO PAULO

Paraná
Flávio; Peter, João Paulo, Edmílson e Eltinho (Gerson); Pierre, Beto, Batista (Henrique) e Sandro; Cristiano (Joelson) e Leonardo. Técnico: Caio Júnior

São Paulo
Bosco; Edcarlos, André Dias e Alex Silva; Souza, Ramalho, Richarlyson, Rodrigo Fabri e Lúcio; Thiago (Alan) e Alex Dias (Edgar). Técnico: Muricy Ramalho

Com ajudinha do Figueira

O Paraná tentou fazer sua parte e jogou melhor que os reservas do São Paulo. Mas o time esbarrou em certa improdutividade ofensiva e, mesmo com um jogador a mais durante quase todo o segundo tempo, ficou na dependência do resultado do Vasco para chegar à Libertadores.

Caio Júnior postou o time com ênfase na defesa. E o desempenho do setor foi convincente – com destaque para as atuações brilhantes de Pierre, praticamente um terceiro zagueiro, e de Edmílson. Assim, Flávio teve trabalho somente uma vez, ao defender uma cobrança de falta precisa de Souza – único titular em campo do campeão brasileiro.

No mais, o Tricolor da Vila criou as melhores chances. Sandro perdeu cara a cara com Bosco, e Cristiano e o mesmo Sandro estiveram perto de marcar, ainda no primeiro tempo. No segundo, o Paraná arriscou mais – tanto porque precisava vencer, como pela expulsão infantil do meia Rodrigo Fabri, aos 8 minutos. Caio Júnior trocou Eltinho por Gerson, e depois Batista por Henrique, deixando a equipe com três atacantes. Mas o time insistia em jogadas pelo meio e errava muito na preparação das jogadas. Mesmo em inferioridade, o São Paulo passou a levar perigo em contragolpes. Apesar da pressão, o gol não saiu e, para sorte paranista, o Figueirense fez o serviço, segurando o 0 a 0 com o Vasco, em Floripa.

Técnico dirá se fica ou não no comando do Tricolor, na quinta

A permanência ou não de Caio Júnior será o assunto da semana no Paraná Clube. Procurado por outros clubes, técnico estabeleceu a próxima quinta-feira como data limite para definir seu futuro.

Caio disse ter recebido sondagens de ?três ou quatro? clubes. Todos são da Série A, segundo o técnico, e um deles disputará a Libertadores – pode ser o Internacional, que deve perder Abel Braga após o mundial de clubes. ?Não quis falar em valores antes do fim do Brasileiro. Vou esperar a oficialização das propostas, ouvir minha família e o presidente Miranda para decidir o que é melhor para mim?, disse o treinador. Por outro lado, além da chance real de disputar a Libertadores pelo Tricolor, Caio aponta fatores sentimentais para permanecer na Vila. ?Já tirei o clube do rebaixamento e o levei à Libertadores. Falta ser campeão como técnico, e vejo boa chance no Campeonato Paranaense. Penso muito nisso.?

O presidente José Carlos de Miranda confirmou ter oferecido um reajuste para Caio ficar em 2007, mas não cobrirá outras propostas. ?Não é de meu feitio impedir que os profissionais sigam seus caminhos. Ele passa a ser extremamente valorizado e, se sair, que vá para um clube que dê as condições que merece? falou Miranda.

O presidente, porém, traiu-se mais tarde ao abordar outro assunto importante – disse que Caio será consultado para definir onde o clube jogará a Libertadores-2007. Oficialmente, a Vila Capanema não comporta 20 mil torcedores, como exige o regulamento da competição. Miranda, porém, afirma que pedirá às autoridades de segurança uma recontagem da capacidade do estádio. ?A Vila já recebeu 23 mil pessoas, isso antes da ampliação. Hoje (ontem) tínhamos 16 mil e havia espaço para mais?, argumentou.

Caso a tentativa seja frustrada, o presidente praticamente descarta a ampliação às pressas da Curva Sul, por falta de dinheiro em caixa. A primeira possibilidade citada por Miranda é o Pinheirão (?temos uma dívida de gratidão com a Federação?), mas cogitou também o empréstimo do Couto Pereira ou da Arena da Baixada.

Daqui a duas semanas, Paraná conhecerá o seu adversário na Libertadores

O Paraná saberá em duas semanas o primeiro adversário de sua história na Copa Libertadores. O sorteio que definirá tanto os grupos quanto os confrontos da 1.ª fase acontece em 20 de dezembro, em Assunção (Paraguai), sede da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).

Paraná e Santos serão os representantes brasileiros na 1.ª fase da competição, chamada popularmente de Pré-Libertadores – o país tem duas vagas porque o Inter é o atual campeão. Outros 10 times (um de cada nação) completam esta etapa, que terá duelos eliminatórios para definir os seis últimos participantes na 2.ª fase (de grupos).

Nos dois anos em que o sistema vigorou, a Conmebol elegeu cabeças-de-chave no sorteio da 1.ª fase. Assim, os brasileiros não enfrentam, por exemplo, Vélez Sarsfield (Argentina), Danubio (Uruguai) nem o representante mexicano, ainda indefinido. Os outros países dos cabeças-de-chave variaram entre 2005 e 2006, mas a tendência é que a entidade confirme o Tacuary, do Paraguai.

Entre os possíveis adversários do Tricolor, portanto, estão Cobreloa (Chile), Sporting Cristal (Peru), Real Potosí (Bolívia), Deportivo Táchira (Venezuela), o terceiro colocado no Campeonato Equatoriano (atualmente é o Barcelona de Guaiaquil) e o time com maior pontuação no ano na Colômbia (o Deportivo Chicó, que ainda pode entrar direto na 2.ª fase se ganhar a Copa Mustang II, segunda etapa do campeonato nacional).

Para a fase de grupos, estão classificados Internacional, Flamengo, São Paulo e Grêmio (Brasil), Boca Juniors, Gimnasia y Esgrima, River Plate e Banfield (Argentina); Blooming e Bolívar (Bolívia), Colo Colo (Chile), Deportivo Pasto (Colômbia), Cerro Porteño e Libertad (Paraguai), Alianza Lima (Peru), Nacional e Defensor Sporting (Uruguai), Unión Atlético Maracaibo e Caracas (Venezuela) e Toluca (México).

Apesar da vaga, alguns jogadores vão sair

A conquista histórica de ontem coincidiu com a despedida de alguns jogadores. Figuras importantes na classificação à Libertadores não devem continuar no Paraná.

O único com saída definida é o meia Sandro, negociado por 800 mil dólares (R$ 1,73 milhão) para o Gençlerbirligi, da Turquia. Apenas parte deste valor, não divulgada pela diretoria, ficará com o Tricolor, pois o jogador é vinculado à empresa LA Sports. Sandro assinou contrato por três anos e 20% de seus direitos econômicos permanecem com o Paraná.

Hoje, no Rio, o presidente Miranda deve fechar os empréstimos de Maicosuel e Leonardo para o Flamengo.

O clube carioca pagaria R$ 900 mil para tê-los até o final de 2007 – além disso, outros três atletas seriam cedidos ao Tricolor pelo mesmo período. Na lista estariam os meias Fellype Gabriel, Júnior e Toró e os atacantes Vinícius Pacheco e Fabiano Oliveira.

A situação dos jogadores que estão por empréstimo no Paraná ainda é incerta. Cristiano, do J. Malucelli, estaria nos planos do Grêmio, mas pode ficar.

A Adap, dona dos direitos de Batista, espera negociá-lo com o exterior – caso contrário ele fica na Vila. E o lateral-direito Peter, vinculado ao Cruzeiro, pode parar no Japão, bem como o lateral Eltinho.

Já o zagueiro Gustavo não deve mais jogar no São Paulo e tem chances de disputar a Libertadores pelo Paraná.

?Os jogadores se valorizaram e recebem boas propostas. Temos que manter as contas em dia e não há como fugir ao nosso orçamento?, justifica Miranda, que aproveita a festa de premiação dos melhores do Brasileirão, no Rio, para estreitar os laços com dirigentes do Clube dos 13 – a vaga na Libertadores é mais um argumento tricolor para tentar ingressar na associação.

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