Paraná comemora dupla fuga do rebaixamento

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Permanência na série A
é festejada pelos jogadores.

"O ano em que vivemos em perigo." O título do filme de 1983 – que trazia um ainda desconhecido Mel Gibson no papel central – resume bem o que foi 2004 na vida do Paraná Clube. A película retrata período de extrema agitação política na Indonésia dos anos 60s e turbulência é o que não faltou no tricolor ao longo de toda a temporada.

O clube caminhou sob risco de duplo rebaixamento, nos campeonatos paranaense e brasileiro. Com parcos recursos financeiros e atletas de base com baixa qualidade, o time foi construído e reconstruído diversas vezes ao longo do ano. No final, ficam lições aos dirigentes e alívio à sua sofrida galera.

Na definição do superintendente de futebol Ricardo Machado Lima, "é uma página a ser lida e relida atentamente". Sinal claro de que houve erros grosseiros de planejamento. Tudo começou com o desmanche da equipe 10.ª colocada no brasileiro de 2003. Foi como se o "carro tricolor" aparecesse depenado de uma hora para outra. Nove titulares saíram e nada entrou nos cofres do clube. O resultado: no dia da reapresentação, em 5 de janeiro passado, o Paraná tinha tão-somente oito jogadores em seu plantel. Perderia ainda Fernando Miguel, que obteve liberação judicial e foi para o Internacional.

O técnico Saulo de Freitas, ainda tentando se firmar na carreira, teve que armar um novo time. Além dos poucos remanescentes, tinha em mãos reforços em sua maioria fracos (alguns por ele indicados) e outros tantos jogadores recém-chegados da Copa São Paulo de Juniores. O resultado foi uma campanha medíocre – com todas as letras. Numa competição que classificava seis dentre oito times, o tricolor conseguiu ser eliminado e escreveu sua mais frustrante página em campeonatos estaduais ao ficar relegado ao Torneio da Morte. Não foi para menos: foram quatro derrotas e dois empates, com apenas uma vitória na fase classificatória.

Nas cinco primeiras rodadas, o clube, que tivera o terceiro melhor ataque do brasileiro anterior, não balançou as redes uma vez sequer. Nem mesmo os experientes Jean Carlo e Gélson Baresi conseguiram mudar o quadro. Num entra-e-sai de jogadores, o Paraná só tomou forma no quadrangular que definiria os dois rebaixados para a segundona paranaense. Mesmo assim, após a demissão de Saulo. Sua queda se confirmou depois de uma estréia com derrota nesta etapa: 1×3 para o inexpressivo Nacional de Rolândia.

Neguinho – até então auxiliar-técnico – assumiu o time e a transformação foi imediata. Com cinco vitórias consecutivas, o tricolor se garantiu na elite do Estado. Mas, quem pensou que esse seria o ponto de partida para uma fase menos tumultuada, se enganou. A diretoria praticamente "passou a borracha" nos três primeiros meses do ano e deu início a uma total reformulação do grupo. Um processo viabilizado por uma parceria com o empresário Sérgio Malucelli. Entrava em cena um Paraná menos identificado com sua torcida e mais comercial.

Parceria, turbulência e reforços a granel

As duas últimas rodadas do Torneio da Morte ainda não haviam sido disputadas, mas o Paraná já estava livre do descenso. Na intenção de ganhar tempo para o Brasileirão a diretoria anunciava, no dia 25 de março, a parceria com Sérgio Malucelli. No "pacote", os seis primeiros reforços e o técnico Paulo Campos foram apresentados.

Nenhuma contratação de impacto, mas uma mescla de experiência – como o volante Axel – e juventude – o atacante Adriano e o zagueiro Nelinho. O treinador escolhido, porém, era visto com restrições.

Afinal, Paulo Campos tinha um longo currículo no mundo árabe, mas no Brasil havia tão-somente trabalhado no Palmeiras B – com Vanderlei Luxemburgo (seu amigo pessoal) – e no Iraty. O treinador mostrou força ao exigir toda uma comissão técnica de sua confiança e a realização de uma inter temporada no interior paulista.

Quando seguiu para Itu, o novo elenco do Paraná já era composto por 23 jogadores, mas sendo apenas dez deles remanescentes do estadual. A missão da comissão técnica foi dar um perfil a esse grupo, bastante heterogêneo.

Duas semanas depois, o Paraná estreava no brasileiro, e frente ao Santos, atual vice-campeão. Com um histórico gol aos 12 segundos, Galvão abriu caminho para a vitória: 3×2. Um cartão de visitas invejável para quem precisava de afirmação. Dias depois, ao perder para o Vitória (1×6), em Salvador, o tricolor sofria sua maior goleada em campeonatos nacionais. Altos e baixos que iriam acompanhar o clube em boa parte da competição. Enquanto Canindé – a contratação de maior expressão – não chegava, o Paraná pecava ao permitir a vinda quase que constante de novos "reforços".

Com um grupo inchado, o tricolor partiu para um novo período de retiro, desta vez em Piratuba-SC. Sem conseguir armar um time-base, Paulo Campos empataria três jogos em seqüência, totalizando seis sem vitória. Não resistiu à pressão de diretores e foi demitido. Gilson Kleina assumiu num momento crítico: começava ali um período de jogos a cada três dias e o treinador pouco poderia treinar a equipe. Foi demitido dezesseis rodadas depois e com um aproveitamento pífio (20,83%, resultado de 12 derrotas, seis delas em seqüência, recorde negativo do Paraná).

Foi nessa fase que Canindé chegou, junto com outros três reforços. Houve, no entanto, treze dispensas e a parceria ficou estremecida. O clima só serenou com o retorno de Paulo Campos. O técnico aceitou o desafio e terminou o ano em alta, como o grande responsável pela volta por cima do Paraná. Pegou o time na lanterna e encerrou o Brasileirão em 15.ª lugar, com uma base bem constituída e fortalecida pela presença do experiente zagueiro Émerson, contratado às pressas, no último dia para registros.

O tricolor colecionou nove vitórias nesta nova "era" Paulo Campos, com rendimento de 54,39%. Confirmou sua permanência na 1.ª divisão a duas rodadas do fim do Brasileirão, quando venceu o Criciúma (2×1), em Santa Catarina. Alívio, mas com um sabor ligeiramente amargo. Não fossem os desmandos, o clube poderia ter atingido um patamar mais elevado na competição.

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