Paraná Clube vence em sua estréia na Libertadores

O Paraná Clube era estreante na Copa Libertadores da América. Mas ontem, no Estádio Municipal de Calama, no Chile, parecia um velho time copeiro. Soberano, matreiro, por vezes mais raçudo do que técnico, o Tricolor da Vila arrancou uma espetacular vitória por 2 x 0 sobre o Cobreloa, superando todas as dificuldades caraterísticas da maior competição do continente. Pode até perder por um gol de diferença no jogo de volta, quarta-feira, na Vila Capanema, para chegar à fase de grupos do torneio.

Desde o início, o Tricolor mostrou-se disposto a aplicar a orientação do técnico Zetti: marcar atrás e sair com velocidade para o ataque.

E o fez com raça e mestria.

A marcação adiantada dos volantes e meias, sempre firme, matava as tramas chilenas no nascedouro -foram várias as bolas roubadas, quase sempre sem faltas. Atrás, Flávio segurou o primeiro susto, uma bomba de longe do argentino Díaz.

Aproveitando o atordoamento de um rival antes empolgado pela goleada por 7 x 1 na largada do Campeonato Chileno, o Tricolor atacou de forma inteligente, usando o trio Henrique-Gérson-Dinelson e o apoio dos alas. Assim, Henrique, que já havia assustado de falta aos 9 e perdido boa chance aos 12, abriu o placar aos 15. Foi num lançamento perfeito de Dinelson, que descobriu o único atacante tricolor correndo por trás das zaga. Veloz, Henrique tirou do goleiro e rolou para o gol vazio.

Depois do gol, o Tricolor exerceu mais dez minutos de controle na partida – que incluiu uma excelente chance de ampliar após tiro rasteiro de Gérson, parado pelos pés do goleiro Hurtado, aos 21.

Mas, pouco a pouco, a marcação tricolor começou a afrouxar e os lançamentos não foram mais tão precisos. Assim o Cobreloa manteve a bola nos pés e assustou, principalmente com a movimentação do esperto atacante Barrios e nos tiros de longa distância – talvez atrapalhado pela velocidade que os chutes desenvolvem na altitude, Flávio rebateu algumas bolas e por pouco os chilenos não empataram.

O intervalo serenou os ânimos dos paranistas, que voltaram tocando melhor a bola -Dinelson ainda teve duas chances de marcar antes dos dez minutos.

Mas, novamente, a produção tricolor caiu ao longo do tempo. Sem a mesma aproximação dos meias, Henrique ficava isolado no ataque. E a defesa, atrapalhada, virava-se como podia frente ao sufoco crescente dos chilenos.

O fôlego parecia rarear na altitude de 2.250 metros e o fraco árbitro boliviano pendia a maioria da decisões em favor dos anfitriões.

Aos 25 minutos, quando o técnico Gustavo Huerta trocou três peças de uma só vez, Zetti colocou Xaves no lugar de Dinelson, reforçando a marcação, e tirou o esgotado Henrique para lançar Josiel.

A pressão dos laranjas aumentou, e, para piorar, o Tricolor parecia nervoso, rifando a bola sem necessidade. Mas, ao mesmo tempo, Josiel deu novo fôlego à ofensiva paranaense -brigador, criou quase sozinho três chances claras de ampliar. O jogo ficou emocionante, lá e cá, e Flávio passou a ser destaque. Mas o novo ídolo tricolor decidiu a parada. Aos 42 minutos, Josiel recebeu lançamento longo, cortou o zagueiro e emendou um tiro de canhota. Fez 2 x 0 e deixou o Paraná a um passo da vaga.

Chilenos acharam que seria moleza

Carlos Simon

A vitória também serviu como desabafo. Logo que acabou o jogo, os paranistas extravasaram para as rádios brasileiras o descontentamento contra uma suposta arrogância dos chilenos. ?Falaram que nosso time era fraco. Respondemos em campo?, falou Henrique, autor do primeiro gol. ?Acharam que seria uma ?teta? nos vencer, mas lá dentro são 11 contra 11?, fez côro o meia Gérson.

Já o atacante Josiel, que marcou três na estréia contra o Londrina e ontem incendiou o jogo em apenas em 20 minutos, além de fazer o segundo gol, elogiou a disposição do time. ?Conversamos muito nesta semana e nos comprometemos a suar muito para levar boa vantagem à Vila.?

O mesmo comprometimento coletivo foi destacado por André Luiz. ?No jogo passado tive cãibra, mas falei ao Zetti que se tivesse de novo superaria no coração.

O ar não vinha, a garganta ficava seca, mas um levantava o outro, foi bonito de se ver?, vibrou o lateral. ?Quando temos um objetivo, o cansaço fica em segundo plano?, emendou Beto.

O capitão disse ainda que o Tricolor deu ?um passo gigante, mas ainda falta muito para a classificação?. Na verdade, o Paraná poderá perder por um gol de diferença que ainda assim avança à fase de grupos. Se tomar 2 x 0, a decisão vai para os pênaltis. Derrotas por outros placares dão a vaga ao Cobreloa. Caso passe pelos chilenos, o Tricolor fica no grupo 5, ao lado de Flamengo, Real Potosí (Bolívia) e Unión Maracaibo (Venezuela).

?Não ganhamos nada ainda?

Antes do jogo com o Cobreloa, Zetti falava que o empate seria um grande resultado para o Tricolor, frente às dificuldades previstas para a estréia. Obviamente saiu empolgado com a vitória por 2 x 0 na casa do rival.

O treinador aproveitou para alardear o acerto no uso de apenas um atacante. ?Fui um pouco questionado, mas temos visão do que é Libertadores. Não adianta jogar bonito?, falou Zetti, que também valorizou a atuação de Henrique. ?Foi muito bem e correu durante os 70 minutos que suportou. Mas ele não estava sozinho, atacávamos também com Dinelson e Gérson?, disse.

Para o jogo da Vila Capanema, porém, Zetti cogita mudar o sistema tático – ele afirma que a partida em casa tem caraterísticas diferenciadas. E lembrou que o time precisa conter a euforia desmedida. ?Passou a ansiedade da estréia e teremos melhores condições de jogo, com apoio da torcida e sem efeitos da altitude, que foram muito sentidos. Mas ainda temos muito a evoluir. E é importante conversar durante a semana e lembrar que não ganhamos nada.?

Para o clássico com o Coritiba, domingo, no Couto, Zetti cogita usar alguns jogadores que atuaram ontem – a condição física deverá determinar quem atua ou não.

COPA LIBERTADORES
1ª FASE – JOGO DE IDA
Gol: Henrique (15-1º) e Josiel (42-2º)
Cartões amarelos: Pérez e Barrios (Cob), Gerson, Beto, Neguete, Aderaldo e João Vítor (Par)
Local: Municipal de Calama (Chile)
Árbitro: René Marcelo Ortube (BOL)
Assistentes: Iván Gamboa (BOL) e Alain Ledesma (BOL)

COBRELOA
Hurtado; Osorio (Arias 25-2º), Olguín, Fuentes e Pérez (Beausejour 25-2º); Ríos, González, Paredes (Aranguiz 25-2º) e Dias; Mannara e Barrios. Técnico: Gustavo Huerta

PARANÁ
Flávio; Daniel Marques, Neguete e Aderaldo; André Luiz, Goiano, Beto, Gérson, Dinélson (Xaves 25-2º) e Egídio (João Vítor 39-2º); Henrique (Josiel 25-2º). Técnico: Zetti

Ingressos devem evaporar

A sensacional vitória do Paraná sobre o Cobreloa no Chile deve explodir o interesse da torcida para a partida de volta, quarta-feira, às 21h45, na Vila Capanema. De acordo com a diretoria tricolor, cerca de 40% das entradas já foram vendidas, e o restante continua à disposição em todas as sedes do clube (Boqueirão, Kennedy, Vila Capanema e Tarumã).

Hoje, o horário de atendimento é entre 9h e 17h, com exceção da Kennedy, que funciona das 9h às 20h. Haverá venda também amanhã, em todas as sedes, e no domingo, apenas na Kennedy.

Para o clássico com o Coritiba, domingo, no Couto Pereira, os 1.200 ingressos destinados aos paranistas estarão disponíveis somente no domingo, até o meio-dia, na sede Kennedy. Não haverá bilhetes à venda no estádio do Coxa. As entradas custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

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